Mendigo Gato comemora chegada de filha caçula seis anos após fama
Rafael Nunes ganhou destaque após uma foto dele ser publicada na web; na ocasião, descobriu-se que ele era um ex-modelo viciado em drogas
Famosos e TV|Aurora Aguiar, do R7
A família de Rafael Nunes, de 39 anos, também conhecido como Mendigo Gato de Curitiba, cresceu. Além de Tito, de 4 anos, Rafael agora é pai da pequena Constance, de três meses, fruto do casamento com a jornalista Clarissa Couto. "É uma experiência maravilhosa. Eu já tenho um menino, agora, uma menina. Ela é carinhosa, quietinha na verdade. O Tito é mais agitado. Ela é o amor da minha vida. Veio para iluminar ainda mais o meu caminho".
"É o amor da minha vida. Veio para iluminar ainda mais o meu caminho"
Em outubro de 2012, Rafael ganhou destaque na imprensa mundial após uma foto dele ser publicada na internet, em uma rede social, quando ele ainda morava nas ruas da capital paranaense. Na época, descobriu-se que Nunes era um ex-modelo que tinha se afundado nas drogas. Daí, o apelido.
De lá para cá, já se passaram pouco mais de seis anos. A vida do então Mendigo Gato mudou. Rafael agora tem pressa, tem planos. Embora desempregado, quer cursar faculdade de Gastronomia e realizar o sonho de montar um restaurante próprio. Os bicos que têm feito nos últimos tempos como auxiliar de cozinha renderam-lhe especialização em diversos tipos de culinária: da francesa, passando pela australiana, chegando à vegana. Nesta entrevista exclusiva concedida ao R7, Rafael garante, ainda, que também é craque em hambúrgueres texanos e comidinhas mexicanas.
"Tirei a foto%2C ele saiu girando o cobertor e foi embora"
MERGULHO PARA AS DROGAS
O primeiro contato de Rafael Nunes com o universo das drogas foi aos 16 anos. Com essa idade, o "barato" dele era maconha. O consumo da erva o acompanhou durante a fase adulta, época em que trabalhou como modelo e manequim fotográfico. "Trabalhei um tempo, mas depois me afastei. Percebi que é um mundo muito sujo. Tinha muito trabalho, no entando, muitas ofertas vinham acompanhadas de propostas ligadas à prostituição. Além do livre consumo de entorpecentes e bebidas alcoólicas entre modelos e agenciadores".
Longe das passarelas, Rafael se mudou de Curitiba para o Mato Grosso. Lá, trabalhou na construção civil com o pai. Diz que a área deu a ele muito dinheiro. A "coisa" começou a não ficar legal quando ele completou 26 anos. A primeira tentativa da família foi tirar Nunes da sociedade. "Meus pais alugaram um sítio". O ex-modelo contou que tudo o que tinha na propriedade era uma pequena casa que precisava de reforma. Com objetivo de ocupar o tempo do filho, o pai de Rafael determinou que o rapaz reestruturasse a moradia e construísse junto à ela, espaços para criação de patos, porcos e galinhas, além de um local para plantação de hortaliças.
"Foram dois anos no sítio, depois me mudei para a Colombo (PR). Aí me envolvi pesado mesmo com o consumo de crack. Não passava três dias sem ele. Chegou um momento que eu não conseguia mais acordar para trabalhar. Estava desgastado, com o corpo desidratado". Diante do quadro, a família de Rafael partiu para internação. Não foi uma, foram várias. Em um certo dia, que ele deveria estar sob os cuidados de profissionais em uma clínica, Rafael apareceu em casa de surpresa. "Meus pais não me aceitaram, queriam que eu voltasse a internação, daí que eu fui morar na rua".
Foram exatos 370 dias vivendo na marginalidade. "No início, pedia dinheiro para comprar comida. Então eu separava, no bolso esquerdo o que era para comer, e no direito o que era para a droga. Mas chegou um momento que eu já pegava tudo que conseguia e usava para droga". À noite, para se proteger de alguma possível ameaça, Rafael dormia dentro de agências bancárias. "De três em três meses eu voltada para casa. Tomava banho, me alimentava, dormia, e no outro dia saia de novo".
O DIA DA FOTO
Para contar a história do dia da foto, conversamos com a autora do clique. Indy Zanardo é fotógrafa, mora em Atlanta, nos Estados Unidos, e naquele 12 de outubro de 2012, estava no Brasil visitando familiares. "Fui para a Praça Tiradentes, no centro de Curitiba, para pegar um ônibus. Estava parada em um ponto quando o Rafa veio na minha direção. Eu estava com a câmera pendurada no pescoço. Ai ele chegou e disse: 'Você tem um dinheiro?' Eu até tinha, mas fiquei meio preocupada porque não queria abrir a bolsa ali no meio da rua. Aí ele falou que queria uma foto. Eu disse 'Uma foto? Como assim? Para que você quer uma foto?' Ele ficou bastante sério. Olhou firme para mim e disse: 'Quero que você tira uma foto minha e coloque na rádio'. 'Na rádio?', eu perguntei. 'Você coloca na rádio para eu ficar famoso', ele disse.
"Quando abaixei para pegar a minha câmera para tirar a foto dele, a hora que eu levantei, foram segundos, ele pegou aquela coberta dele jogou no ombro e fez aquela cara lá. E eu cliquei. Foi um clique só. Não tive tempo de tirar duas fotos, não tive tempo de falar mais com ele. Essa foi a nossa conversa. Isso demorou 30 segundos. Tirei a foto, ele saiu girando o cobertor e foi embora. Nisso o ônibus chegou. Entrei, sentei e comecei a olhar o material que tinha feito ali. A hora que vi o clique dele na câmera, fiquei impressionada, porque aquela pessoa que estava na minha frente não era a pessoa da foto".
Indy contou que após a publicação da foto no Facebook, começou a "caça ao mendigo" e, no dia seguinte, apareceu uma moça dizendo que era irmã do Rafael. Que precisava encontrar o irmão para levá-lo para casa. Localizado pela família, Rafael foi internado em uma clínica de realbilitação para dependentes químicos em Araçoiaba da Serra (SP). Foram nove meses de tratamento até o início de uma nova vida.
Indy concluiu dizendo que toda vez que recorda a história pensa nos propósitos de Deus. "Eu poderia não ter tirado a foto, poderia não ter publicado na internet. Poderia ter ficado com medo dele, ter saído correndo. É aquela coisa, foi um clique por uma vida, na verdade três. Ele, Tito, e agora a Constance".