Musa da pornochanchada pede ajuda após viver auge em Hollywood
Novani Novakoski atuou com Stallone e Schwarzenegger nos Estados e Unidos; de volta ao Brasil, esta doente e sem dinheiro
Famosos e TV|Aurora Aguiar, do R7

A vida de Novani Novakoski, de 59 anos, umas das atrizes que na década de 1970 seduziam os fãs em filmes de pornochanchada, tem ingredientes de sobra para virar roteiro de filme: de um lado, ambição, fama e dinheiro. De outro, abandono, doença e uma situação de quase miséria.
A história começa quando a atriz, cujo nome verdadeiro é Eni Helena Novakoski, tinha 14 anos. Nascida e criada na cidade Ponta Grossa, a 103 quilômetro de Curitiba (PR), era fiscal de caixa de um supermercado. Passava o dia olhando para as revistas de moda que ficavam nas prateleiras e desejando um dia ser uma das estrelas da capa das publicações.

Filha de pai alcoólatra e mãe dona de casa, a garota, então, colocou seu "grande plano" em prática: fugiu de casa com uma pequena muda de roupa, casou-se menor de idade para se emancipar e foi para São Paulo, onde morava uma prima.
— Peguei só um pouquinho de dinheiro e fui embora.
Nesse meio tempo, conheceu um homem que trabalhava na TVS (atual SBT) e a convidou para uma participação na novela O Espantalho (1977). A ponta serviu de escada para que a jovem ganhasse uma vaga de telemoça de Silvio Santos, função equivalente ao que hoje é conhecido como assistente de palco.
— Ele adorava minhas covinhas (risos).

A carreira na emissora do dono do Baú da Felicidade durou pouco mais de um ano. Vieram, então, novos trabalhos. Para chamar atenção, como ela mesma diz, decidiu entrar para as produções da Boca do Lixo, antigo polo cinematográfico da região central de São Paulo, onde eram produzidos os filmes de comédia erótica.
— O cachê era mísero. A gente fazia mesmo para ter um meio de se destacar. Mas não sabia que esse tipo de filme iria ser ruim para mim. Tanto é que, no meio artístico, passei a usar dois nomes: Novani Novakoski para os filmes da pornochanchada, e Eni para trabalhos que fazia como modelo de publicidade. Era contratada exclusiva da Darling, Valisère, DelRio, Du Loren. Meu corpo era muito bonito, eu vestia bem maiôs, lingeries, camisolas.

À essa altura, Eni já havia conquistado o coração de Arnaldo Zonari Filho, filho de Arnaldo Zonari (1917-1979), importante empresário do setor de exibição e produtor de cinema nascido na Itália, que também se destacou no setor cinematográfico no Brasil.
— Ele produzia os filmes aqui para vender para o exterior e comprava os de fora para passar nas salas de cinema que tinha aqui no País. E começamos a namorar. Lembro que nessa época eu fazia sucesso. Fui playmate (matéria e pôster) da Playboy de janeiro de 1980. A capa era a Alcione Mazzeo (uma das mulheres do humorista Chico Anysio e mãe do ator Bruno Mazzeo).
A pedido de Arnaldo, Eni parou de trabalhar. Era hora daquele menina de Ponta Grossa desfrutar tudo que só muito dinheiro podia pagar. Em São Paulo, morou em uma casa onde tinha mais sete empregados e motorista particular. Bebia somente os melhores champanhes. E água, só importada. Joias com esmeraldas e rubis eram os favoritos dela. Relógios? Os mais caros.
"Atuei em filmes de Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone"
— Eu era louca por ele. E então fomos para Los Angeles, Califórnia. Alugamos um apartamento em Hollywood e lá fiquei. Enquanto Arnaldo viajava a trabalho dos Estados Unidos para o Brasil, fui estudar inglês em uma escola no Colorado. Mas chegou uma hora que nosso relacionamento acabou. Ele tinha arranjado outra mulher no Brasil.

Deixada, Eni foi trabalhar em um banco como gerente. Para reforçar o orçamento fez participações em algumas produções cinematográficas estreladas por importantes nomes.
— Atuei em filmes de Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone. Não me lembro os nomes, todo mundo me pergunta. A gente era contratado de agência. Eles diziam: “Apareçam aqui em tal dia e tal horário. Vocês vão ficar o dia inteiro”. Ganhávamos nossos dólares e nossas refeições, mas não diziam os nomes dos filmes para gente. E muitas vezes também eram filmes com nomes temporários. Então, eu também nunca me preocupei em saber.

Da vida que levou em meio aos astros do cinema, Eni diz se lembra muito bem do dia em que encontrou um dos maiores símbolos sexuais femininos da década de 1970.
— Lembro de um dia estar abastecendo meu carro e ver Farrah Fawcett (estrela da série de TV As Panteras). Ela estava totalmente maltrapida, descalça, colocando combustível no carro dela. Eu ia muito a Hollywood Boulevard, e lá é normal ver essas pessoas andando de um lado para o outro.
O caminho de Eni de volta para o Brasil aconteceu após a ex-modelo conhecer um americano que, depois de oito anos de convivência, lhe roubou o pouco que o ex-marido Arnaldo deixara.
"Ele ainda pegou meus talões de cheque%2C falsificou minha assinatura e me danei todinha no banco em que trabalhava. Quase fui presa"
— O cara era um vagabundo, um ladrão. Pegou as poucas joias que Arnaldo tinha me dado e vendeu. Ele era stock broker, que aqui no Brasil corresponde a corretor de bolsa de valores. Ele aprontava no trabalho e sempre acabava sendo mandado embora. Ele ainda pegou meus talões de cheque, falsificou minha assinatura e me danei todinha no banco em que trabalhava. Quase fui presa. Doente e estressada, o médico me afastou. Foi quando decidi voltar para o Brasil.

O ano era 1991 e Eni voltou à cidade onde nasceu quase que “com uma mão na frente e outra atrás”.
— Toda aquela riqueza e aquele glamour haviam se acabado. Comecei a ser procurada para dar aulas de inglês. Hoje, tenho apenas três alunos. Vivo com pouco menos de R$ 1.500 e doente. Tenho pressão alta, diabetes e preciso urgente de uma cirurgia na coluna, mas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) a demora é de cinco anos. Procurei contatos no meio artístico aqui no Brasil para voltar a trabalhar, mas nada aconteceu. Preciso de ajuda.