Não existe arte cênica no Brasil sem Jorge Dória
Ator foi um verdadeiro operário da TV, do teatro e do cinema
Famosos e TV|Bruna Ferreira, do R7
Nascido Jorge Pires Ferreira, em 12 de dezembro de 1920, no Rio de Janeiro, passou a assinar o sobrenome Dória em homenagem ao amigo Leoni Dória Machado, com quem escreveu a peça As Pernas da Herdeira, sua estreia como ator na Companhia Zaquia Jorge, em 1951.
Jorge Dória quase não seguiu carreira artística, pois teve uma educação rígida para seguir a tradição militar da família. Somente após a morte do pai passou a se dedicar às artes cênicas.
Não existe cinema nacional sem Jorge Dória. Seu primeiro trabalho foi em Mãe, de 1948, dirigido por Theófilo de Barros Filho. Ganhou o Prêmio Saci como ator coadjuvante pelo papel no icônico O Assalto ao Trem Pagador, de 1962, filme de Roberto Farias.
O forte talento para o humor ácido e a crítica social fez com que Jorge Dória se deparasse cedo com os textos de Nelson Rodrigues. Em 1964, atua no filme Asfalto Selvagem, tão crítico, que foi censurado pela ditadura militar. Também atuou no filme O Beijo, baseado em O Beijo no Asfalto. Em 1963, também assina o roteiro de Bonitinha mas Ordinária para o cinema, com Jece Valadão e Odete Lara no elenco.
Dória foi ainda um artista em absoluto, que não tinha preconceitos, colaborando, inclusive, para o sucesso das pornochanchadas na década de 1970.
No teatro, teve também participação fundamental. Ficou seis anos na companhia de Eva Todor. Seu maior sucesso, A Gaiola das Loucas, em 1974, ficou cinco anos em cartaz. Foi nos palcos, que Dória ganhou popularidade como o rei dos cacos de improvisação.
Com carreira viva no cinema e no teatro, foi na TV que ganhou o reconhecimento do grande público. Em 1972, sua fama cresce enormemente ao interpretar Lineu, o patriarca do seriado A Grande Família, sucesso que ficou três anos no ar, um marco para a época. Ainda participou de novelas como Que Rei Sou Eu?, Tieta e Rainha da Sucata. Seu último trabalho na TV foi no humorístico Zorra Total, em que interpretava um pai que fingia não saber que o filho era gay.
Em 2004, sofreu um AVC (acidente vascular cerebral). A doença afetou as habilidades do veterano, que sumiu da vida artística. Aos 92 anos, mesmo sendo peça fundamental da história das artes cênicas no Brasil, estava recluso.
Certa vez, o músico Zeca Baleiro revelou em sua coluna na revista IstoÉ Independente, que viveu um drama ao lado de Dória. Os dois compartilhavam o mesmo avião, que teve que enfrentar uma turbulência pesada.
Jorge Dória assumiu o controle do que parecia impossível, chamou a responsabilidade para si e com um espetáculo criado de improviso, arrancou gargalhadas dos passageiros e da tripulação. Era o ator em absoluto, que transformava a vida real em matéria-prima para o seu trabalho. Vão-se os cacos, fica a obra.