Agnaldo Rayol faz 60 anos de carreira: "Fui predestinado a isso"
Cantor romântico falou com exclusividade ao R7
Música|Daniel Vaughan, do R7

Aos 79 anos, Agnaldo Rayol continua mais ativo do que nunca. O vozeirão inconfundível e o jeitão de bom moço (ou senhor, no caso) ainda acompanham a trajetória do artista carioca, que está comemorando seis décadas de sucesso.
Os festejos da extensa carreira dele aconteceram recentemente em um espetáculo, em São Paulo, com participações de amigos do cantor. Agnaldo se empolgou com a festa.
— Foi muito lindo. Eu ia fazer menos tempo de show, mas a emoção foi tão grande que acabei ficando duas horas e meia no palco. Sabe, eu canto porque gosto e pelas pessoas que ainda querem isso. E, enquanto eu puder, farei isso a vida inteira.

Agnaldo recebeu a reportagem do R7 em uma área de lazer de seu condomínio, no bairro de Santana, zona norte da capital paulista. O cantor chegou pontualmente, vestindo um blazer bege claro e com os cabelos impecavelmente penteados. Com um largo sorriso estampado no rosto, ele logo disse que acabara de ser convidado para uma participação no musical sobre Hebe Camargo.
— Será muito emocionante! Esse espetáculo é lindo, que faz jus a estrela que a Hebe foi. Ela será eterna! No dia, farei eu mesmo, cantando no palco em memória da minha grande amiga.

Aproveitando o assunto, o repórter cutuca o cantor, dizendo que o brasileiro também deveria cultuar seus artistas em vida. Afinal de contas, várias exposições e musicais em cartaz são sobre estrelas que já morreram.
— O Brasil é tão rico culturalmente, então deveríamos relembrar melhor nossos talentos. Talvez seja até nossa questão cultural, pois nos EUA, por exemplo, eles celebram seus clássicos. Precisamos reconhecer nossos valores e perpetuá-los para as futuras gerações.
"Eu recebi a dádiva de poder chegar ao coração do povo. E eu não posso decepcionar meus fãs"
Bem longe de ser esquecido, Agnaldo continua prestigiado até hoje.
— Eu só tenho que agradecer aos meus fãs, pois ainda sou reconhecido e respeitado no País. E, eu ainda não fiz tudo na minha vida, mas estou muito contente com o que já realizei. Eu recebi a dádiva de poder chegar ao coração do povo, então não posso decepcioná-los de forma alguma.
Com exclusividade para o R7, Agnaldo Rayol deu mais detalhes de sua trajetória.

Predestinado aos palcos
— Eu comecei a cantar muito cedo. Quando eu tinha três anos de idade, em 1941, estávamos em plena 2º guerra mundial. E eu lembro que um tio acabou me fazendo uma surpresa. Fomos aos correios e telégrafos, no Rio, onde eu gravei algumas músicas de presente para meus pais, em um frágil disquinho. Isso era usado para mandar recados gravados. Eu me lembro de cada detalhe desse dia... isso mudou minha vida. Quando a gente nasce para algo, não tem como mudar esse caminho.

Voz natural
— Nunca estudei canto e não faço nada para manter a voz. Levo a vida numa boa, só tomando os cuidados básicos de não beber gelado. Claro que o mais importante, sempre, é estar preservado para os shows, pois existe uma entrega e respeito ao meu público.
Tropicalismo
— Eu tenho uma profunda admiração pelo Caetano Veloso. Apesar de não encontrá-lo há muito tempo, eu tenho certeza que se eu o convidá-lo para algo, ele viria ao meu encontro. Nos anos 60, o Caetano e uma turma em começo de carreira iam no meu apartamento, em São Paulo, para jantar de madrugada. A gente batia papo e comia ovo frito com arroz... [risos]
"As gravadoras fizeram propostas para eu entrar nos modismos da época%2C mas eu nunca me traí.
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Elis Regina
— Nos anos 60, eu fazia um programa de rádio e TV em Porto Alegre (RS) e, às vezes, o pessoal pedia para uma das locutoras cantar para eles. E, certo dia, essa funcionária cantou para mim. Daí, eu fiquei alucinado! Cheguei para ela e disse: "Garota, você é excepcional. Se manda daqui e vai tentar carreira em outro lugar". Era a então desconhecida Elis Regina. Ela sempre foi uma pessoa maravilhosa, terna e uma das maiores cantoras que eu conheci na minha vida. Fomos grandes amigos. E foi uma perda enorme, que eu sinto profundamente. Para mim, a morte dela ainda é um mistério.

Enfrentando modismos
— Gravadoras fizeram certas propostas para eu entrar nos modismos da época, mas eu nunca me traí. Você tem que ser fiel ao seu dom, ser você mesmo na sua carreira. Até porque você tem que fazer aquilo que tem vontade, senão, fica algo falso. E o público identifica isso, pois não é bobo. Eu acredito que se você for verdadeiro, você chega lá. Mas se não é.

O perigo do sucesso
— No auge da minha carreira, eu precisava sempre estar protegido. Para ir ao shopping, às vezes, eu saia até disfarçado. Certa vez, eu fui no meu alfaiate, no centro de São Paulo, e acabei preso na loja. Tudo isso, porque eu parei na rua para dar uns autógrafos para umas meninas, daí criou-se uma multidão ao meu redor. Eu tive que me trancar no lugar, pois poderia ser esmagado ali. Ficou perigoso: eles gritavam, chutavam a porta... foi um caos que só acabou quando os bombeiros e a polícia chegaram.
Fãs histéricas
— Nos anos 70, eu estava fazendo muito sucesso como ator na novela As Pupilas do Senhor Reitor (TV Record). Daí, eu fui cantar no interior do Paraná, em um estádio. Era uma arena só com uma entrada e uma saída de cada lado. Ou seja, no final, eu tive que deixar o palco pelo meio da multidão. Então, fizeram um cordão de força com policiais para que eu pudesse ir embora. Porém, uma menina conseguiu passar por baixo das pernas do policial e apertou meu p... (risos) E ela ainda saiu gritando: "Peguei no p... dele!" (risos).