Banda AI-5 volta à ativa e comemora 40 anos do punk: "Continua atual"
Banda lançou CD e vai se apresentar no Sesc Pompéia nesta sexta
Música|Daniel Vaughan, do R7

O AI-5 é um dos pioneiros do punk rock brasileiro. Formado em 1978, em São Paulo, o grupo voltou à ativa recentemente após o lançamento do primeiro e único disco de carreira.
O CD foi feito através de uma fita cassete caseira gravada antes da dissolução da banda, no começo dos anos 80. Ou seja, é um resgate importante.
Ao lado do Restos de Nada, o AI-5 é um dos responsáveis pelo desbravamento do punk no Brasil. Nos anos 70, as duas bandas se apresentaram no histórico show organizado por Kid Vinil, no porão de uma padaria abandonada, no Jardim Colorado (zona leste). Especialistas musicais dizem que esse foi o marco zero do gênero no País.
O guitarrista Fausto Celestino relembra os perrengues da época.
— Nos anos 70 e 80, tocar em uma banda era difícil para todos, independentemente do estilo. E nossa primeira dificuldade foi, justamente, sermos punk em um lugar que ainda nem sabia o que isso significava.
O próprio nome AI-5 era um problema à parte. Fausto diz que passou por momentos de tensão pela crítica ao famigerado Ato Institucional nº 5, em plena ditadura militar.
— Foi o pior cenário para uma banda chamada AI-5. Na época, várias apresentação ao vivo foram interrompidas pela polícia. Tivemos até que fugir de lugares pela janela do banheiro! Também chegamos a perder nosso equipamento durante essas confusões. Fomos muito corajosos, isso sim! (risos)
"Tivemos que fugir da polícia pela janela do banheiro da casa de shows"
Inspirado por uma legião de fãs que pediam um álbum do AI-5, Fausto pegou o único registro em fita cassete do grupo e lançou em CD pela gravadora Baratos Afins. No disco, está o hino underground John Travolta, que foi regravado, em 1995, pela banda Ratos de Porão.

Além disso, o guitarrista remontou a banda com outros integrantes para fazer uma turnê.
E o primeiro show dessa nova fase começa histórico. O AI-5 se apresenta em uma das quatro datas que celebram os 40 anos do punk, no Sesc Pompéia, na capital paulistana, nesta sexta-feira (24).
— Também pretendemos lançar um single com duas músicas, ainda no primeiro trimestre de 2018. A banda voltou de verdade, não apenas para esses shows. Então, os fãs podem festejar, porque vamos seguir carreira.
Para saber mais sobre o retorno do AI-5, o R7 conversou com Fausto Celestino.
R7 — Como o AI-5 se tornou uma das duas primeiras bandas punk do Brasil?
Fausto Celestino — Os grupos AI-5 e Restos de Nada foram formados, em 1978, em São Paulo. Muitos especialistas musicais dizem que fomos os pioneiros do estilo no País. As duas bandas fizeram o que todo mundo diz ter sido o primeiro show punk do Brasil organizado pelo Kid Vinil (na época, radialista da rádio Excelsior), no porão de uma padaria abandonada, no Jardim Colorado (zona leste). Quando começamos, não sabíamos da existência de outros grupos, pois não havia nenhuma cena do gênero. O punk já acontecia na Inglaterra desde 1976, mas ainda não rolava nada por aqui.

R7 — Por que vocês não haviam lançado nada até hoje?
Fausto Celestino — A banda terminou no último trimestre de 1979, mas gravamos uma demo no ano seguinte. Na época, nos reunimos apenas para um registro, que na verdade, foi durante um ensaio, sem qualquer tipo de produção. Fizemos isso em um gravador de fita K7. Depois dessa demo, a banda nunca mais tocou.
R7 — Como surgiu a ideia de lançar a histórica fita em CD?
Fausto Celestino — Não fizemos isso antes, simplesmente, porque a banda deixou de existir antes da própria fita. Mas haviam convites para lançarmos algo. Não sei dizer extamente a razão da procura, mas já fomos citados antes, quando o Ratos de Porão regravou a música John Travolta (Feijoada Acidente? - Brasil, de 1995) e o Gastão Moreira (apresentador de rádio e YouTuber) nos colocou na trilha do documentário Botinada (2006). Então, os fãs estavam curiosos para ouvir o velho material do AI-5.
R7 — Foi difícil achar os ex-integrantes para fazer o CD?
Fausto Celestino — Sim, pois eu sou o único músico da formação original. Então, levei cerca de um ano para achar os outros membros do AI-5 e pedir autorização para fazer o CD. Foi uma tarefa bem complicada, porque nunca soubemos o nome inteiro de cada parceiro... Eram só apelidos ou, no máximo, o primeiro nome. (risos) Também tentei recrutá-los para tocarem comigo, mas o Ratto (vocal) sumiu e o Syd (baixista) está em outro momento da vida. Dessa forma, resolvi reativar a banda, procurando novos companheiros para os shows.

R7 — Quais foram as principais dificuldades do começo do punk no Brasil?
Fausto Celestino — Todas! Foi um desbravamento total. Ter uma banda aqui, nos anos 70 e 80, era difícil para todos, independente do estilo. E nossa primeira dificuldade foi, justamente, sermos punk em um País que ainda nem sabia o que isso significava. Era o começo de algo lá pelos lados da Vila Carolina (zona norte de SP), mas tudo ainda muito embrionário. Então, não havia local para tocar e ensaiar, muito menos tínhamos equipamentos decentes. Tudo era feito, literalmente, no melhor estilo: "faça você mesmo".
R7 — E vocês deveriam "assustar" os vizinhos fazendo punk rock.
Fausto Celestino — Sim! Isso, sem falar na polícia, que nos perseguia por estarmos simplesmente andando na rua, com os trajes da época, em alguma apresentação da banda ou em função do nome AI-5.
R7 — O nome AI-5 causou muitos problemas?
Fausto Celestino — A ditadura militar foi o pior cenário para uma banda punk chamada AI-5. Na época, várias apresentação ao vivo foram interrompidas pela polícia. Tivemos até que fugir de lugares pela janela do banheiro!Também chegamos a perder nosso equipamento durante essas confusões... Fomos muito corajosos, isso sim! (risos)
R7 — Ainda existem punks de verdade ou só restou mais visual do que atitude?
Fausto Celestino — Para muitos, o movimento nunca morreu. Só que, na minha opinião, aconteceram algumas distorções de princípios dentro do velho punk. O gênero nasceu como uma forma de se revoltar com o sistema, ir contra todas injustiças sócio-econômicas... Era um movimento de protesto que buscava chocar aquele formato pré fabricado de comportamento e estilo de vida. Porém, com o tempo, houve uma polarização, com pensamentos opostos. Mas o punk de verdade não tem nada a ver com isso ou mesmo com questões partidárias.

R7 — E as músicas de protesto daquela época continuam atual.
Fausto Celestino — Concordo. Os novos integrantes também percebem essa atualidade nas letras do AI-5.
Em algumas letras, só bastaria mudar o nome do protagonista... Infelizmente, a situação do País não mudou, aliás, só piorou. Dessa forma, acho que existe um campo vasto para protestar contra o que está acontecendo no momento.
R7 — Como será a festa dos 40 anos do punk no Sesc Pompéia?
Fausto Celestino — Será uma grande celebração do aniversário do punk e do lançamento do nosso CD pela Baratos Afins. Estamos com uma nova formação composta por músicos muito bons, então os fãs do AI-5 vão curtir essa energia ao vivo. É muito bom saber que o punk rock continua vivo, ao contrário de "modinhas" que passaram aos longo dos anos. Vocês vão ver isso!
"Nossas letras de protesto são atuais%2C pois a situação do País é a mesma"
R7 — E quais são as próximas novidades do AI-5?
Fausto Celestino — No momento, estamos buscando locais para tocar e divulgar o CD. Também pretendemos lançar um single com duas músicas novas, ainda no primeiro trimestre de 2018. A banda voltou de verdade, não apenas para esses shows. Então, os fãs podem festejar, porque vamos seguir carreira.
Restos de Nada e AI-5
Quando: Sexta-feira (24), às 17h30
Onde: Sesc Pompéia - Rua Clélia, 93 - Pompéia, São Paulo
Quanto: R$ 20 (inteira)
Contato: www.sescsp.org.br