Conheça as bailarinas plus size da Anitta, um fenômeno na internet
Thaís Carla e Tatiana Lima falam sobre preconceito e diversidade
Música|De Karla Dunder e Giovanna Orlando do R7

As bailarinas plus size Thaís Carla e Tatiana Lima se tornaram um verdadeiro fenômeno na internet. Entrevistas, fã clube, posts compartilhados e replicados, muitas e muitas selfies nas ruas e ao lado de famosos.
Todo o frisson começou quando as duas dançaram no videoclipe de Paradinha ao lado da cantora Anitta. Elas conversaram com o R7, antes de subirem ao palco do Programa do Gugu, sobre diversidade na cena cultural, como superaram preconceitos e como hoje dão uma aula sobre amor próprio e empoderamento feminino.
R7: Como é trrabalhar com a Anitta e como vocês lidam com essa repercussão?
Thaís Carla: A gente vê o poder dela (Anitta). Trabalhei aqui no Legendários por 4 anos. Participei de um quadro no programa do Faustão e também no Além do Peso. Mas as pessoas me reconhecem pelo trabalho como bailarina da Anitta.
Tatiana Lima: A repercussão é absurda! Eu, teoricamente, era uma pessoa que ninguém conhecia e, do nada, publico uma foto nas redes sociais e de repente já está nos sites. Não estou acostumada com isso, foi de um dia para o outro! Você está na rua e a pessoa te olha e diz: “Eu vi sua matéria! ” É engraçado e gostoso ao mesmo tempo.
R7: Como lidar com o assédio e os pedidos de selfie?
Thaís Carla: São muitas selfies e o tempo todo! As pessoas te reconhecem na rua, pedem para tirar uma foto ao seu lado. Até a Larissa Manoela pediu para fazer self com a gente no aeroporto. Foi tão explosivo que chegou até nos próprios artistas.
Tatiana Lima: O mais curioso dessa história é perceber que as mulheres não se aceitam. Muitas mulheres falam: “Nossa! Você me deu uma lição de vida!” Não existe uma mulher que não acorde um dia se achando feia. É normal e isso acontece independente do peso, mas quem é gorda ou gordo carrega o estereótipo do “você é feio”. Para acarretar uma depressão é muito mais fácil porque a sociedade exige um padrão.
Thaís Carla: Recebo muitas mensagens de gente magra, não de gente gorda. Elas dizem: “Caraca! Depois que eu te vi, percebi o quanto eu sou bonita e não via isso”. As pessoas que são magras, bonitinhas, perfeitinhas não se acham assim porque a sociedade impõe o padrão ‘palito de dente’ para ser bonita.
R7: Vocês acham que houve um empoderamento?
Tatiana Lima – Houve sim. As pessoas começam a pensar sobre o corpo de outra forma.
Thaís Carla: Acho que os estilistas deveriam pensar nesse público, pensar de fato na moda plus size.
R7: Mas tem loja especializada para esse público...
Tatiana Lima: Mas nem sempre os tamanhos são plus size e nem todas têm manequins realmente grandes. Observe, os manequins de tamanho 46 e 48 acabam primeiro.
Thaís Carla: A mulher brasileira não é magérrima. Ela tem quadril, tem o corpo violão. Gisele Bündchen é uma raridade, difícil uma mulher brasileira ser como ela.
Tatiana Lima: É horrível você gostar de uma peça e ouvir: "não tem". Os estilistas precisam rever seus conceitos. Eu sou gorda, não sou brega! Não preciso usar roupas feias, antiquadas.
R7: Com essa repercussão toda, vocês sofreram com a ‘gordofobia’?
Thaís Carla: Sim! E muito!
Tatiana Lima: Confesso que estava preparada para algo ainda pior. Esperava que os haters nos atacariam mais. Claro, teve muita gente nos massacrando, mas ainda foi pouco perto do que eu imaginei que seria...
Thaís Carla: Alguns recriminaram, mas teve uma aceitação muito boa porque as pessoas ficaram admiradas com a atitude da Anitta. Agora, vamos falar a verdade? Não é uma mudança que acontece de um dia para a noite. E talvez esse preconceito nunca acabe.
Tatiana Lima: O ser humano sempre vai arrumar alguma forma de falar. Se você está magra, você é magra demais. Se você engorda, está gorda demais. Se é fisiculturista é hipertrofiado. O marketing também poderia virar a mesa e mudar. As propagandas não deveriam ser focadas só nos corpos magros. Em vez de excluir uma parcela da população, que tal incluir?
R7: Como é trabalhar com a Anitta?
Thaís Carla: É de boa! O pessoal é muito alto-astral. Todo o pessoal da produção, todos os envolvidos são tranquilos e o trabalho flui que é uma maravilha.
Tatiana Lima: Não tem algo comum na arte que é o ego. A gente não vê isso lá.
Thaís Carla: Todos se ajudam. Está com dúvida em uma coreografia? Alguém te ajuda. As bailarinas poderiam ter ficado com raiva: “Essas gordas aqui e eu passei a vida comendo salada! ” Mas não houve isso. A repercussão foi boa, conversamos, trocamos telefone. Pensei que teria problemas, mas não tive.
R7:Vocês sofreram preconceito no meio artístico?
Thaís Carla: Onde você mais sofre! Repare, todo mundo que era gordo e ficou famoso, fez bariátrica. Porque alguém pressionou ou a pessoa se sentiu pressionada a emagrecer. Parece esquisito eu falar isso. Entrei no Além do Peso e as pessoas achavam que eu ficaria um palito. Eu queria emagrecer um pouco para ter o meu bebê. Tive meu bebê e permaneci gorda. E até hoje, eu posto uma foto tomando milk-shake, as pessoas me perguntam: para que você entrou no Além do Peso? Elas não entendem o que estou vendendo e porquê eu estou fazendo aquilo.
Tatiana Lima: Não é só isso: tem botox, plástica. Cada dia é uma coisa que você precisa fazer.
R7: Vocês já perderam trabalho por conta do peso?
Tatiana Lima: Fiz um teste para um circo nos Estados Unidos. Passei para a segunda fase. O coreógrafo me olhou e apontou para mim como uma das escolhidas. Do nada: “Não queremos você”. Não fui escolhida porque eu não estava nos padrões.
Thaís Carla: Posso falar a realidade? Não é nem perfil, é coleguismo. Aqui no Brasil, não existe teste. Sempre tem o QI — quem indica.
R7: Mas neste caso, que era um teste estrangeiro?
Tatiana Lima: Sim. Mas eu quase desisti da dança. Pensei, “eu amo dançar, mas não sei se eu vou conseguir me manter com isso. Prefiro fazer outra coisa”. Estudei educação física e fiz pós-graduação em psicomotricidade. Sofri depressão com 13 anos por ser gorda. Eu era a chacota da escola, a feia, a gorda, a esquisita. Eu me achava feia. Hoje, eu aprendi a me amar. Pouco me importa o quanto estou pesando. Trabalho com inclusão, com autistas, vejo que meus problemas são muito pequenos. Cresci muito nesses quatro anos longe da dança. Antes, eu não saberia lidar com os haters, por exemplo. Com certeza iria chorar com as mensagens de ódio, agora, tenho pena dessas pessoas.
Thaís Carla: Quem fala mal de você é porque quer estar no seu lugar. A Tatiana teve de passar por isso, eu não. Eu sempre batalhei pelo meu objetivo: dançar. Nas escolas de dança que participei, eu sempre ficava no fundo ou ganhava o pior personagem. Eu fui muito desacreditada. Se não fosse pelos meus pais, pela minha irmã, pela minha família, não estaria aqui.
Tatiana Lima: Os pais são os maiores incentivadores. No mundo da dança, ouvi diversas vezes: você tem uma técnica maravilhosa, mas precisa emagrecer. Eu só persisti pela minha mãe, pelo apoio familiar.
R7: Como a dança surgiu para vocês?
Thaís Carla: Surgiu porque eu sempre tive um espelho muito bom em casa. Minha irmã sempre dançou. Comecei a dançar com 4 anos de idade e não parei mais.
Tatiana Lima: Aos 13 anos, estava acima do peso e num quadro depressivo. Minha mãe resolveu me colocar numa atividade física. Na época, eu queria ginástica olímpica, mas não tinha. Minha mãe dançava, toda a minha família é magra. Fiz a primeira aula e me apaixonei. Consegui trabalhar no circo do Marcos Frota e ali consegui acreditar em mim. Hoje eu sei e digo: acredite em você, não desista!