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R7 Música

Conheça sete músicas condenadas por serem politicamente incorretas

Elas foram sucesso nas vozes de cantores famosos, mas caíram em desuso por preconceito e por tratar mulher como objeto

Música|Eduardo Marini, do R7

Silvio Santos é o cantor de A Pipa do Vovô não Sobe Mais
Silvio Santos é o cantor de A Pipa do Vovô não Sobe Mais

MPB. De Música Popular Brasileira — mas bem que poderia ser de Machismo, Preconceito e até Baixaria.

Nos últimos anos, mulheres e ativistas engajados em variadas causas bacanas e “elogiáveis” subiram o volume e o tom das ofensivas armadas para silenciar o cavaco, o pandeiro e tamborim de músicas consideradas politicamente incorretas.

Nessa polêmica, que nunca gera opiniões afinadas, há um fator comum, implacavelmente cruel, a todos os compositores envolvidos: o tempo. O refrão chiclete explícito que dispara rebolados desencanados e pagãos em um Carnaval poderá, perfeitamente, no ano seguinte, ser o anti-hit do bloco dos silenciados na sarjeta.

Talvez por respeito ao talento dos autores, e também ao naco de qualidade presente nas obras, para além da polêmica, alguns ícones do hoje tido como politicamente incorreto, na seara das canções, demoraram a ser questionados e condenados pelas almas e mentes PCs de plantão.


Casos do clássico do samba Ai, Que Saudades da Amélia, parceria de 1934 com letra do genial Mário Lago musicada por Ataulfo Alves, e de marchinhas compostas pelo maior mago do estilo: o pianista, compositor e produtor musical carioca João Roberto Kelly.

Como os pecados em questão são os de sempre — racismo, preconceito e machismo —, as vítimas também acabam sendo as mesmas: negros, mulheres (se também for negra, eis o prato feito), gays, lésbicas, homens cabeludos, transexuais...


Relembre alguns representantes do set list de pesos pesados com censura decretada em qualquer festa, celular e sistema de som de um representante da correção política:

Ai, Que Saudade da Amélia - Para exaltar as qualidades da ex Amélia, na comparação com sua mulher do momento, a que “faz tanta exigência”, o cavalheiro criado por Mário Lago na música diz, entre outras coisas, que rainha da letra “não tinha a menor vaidade, era mulher de verdade, às vezes passava fome ao seu lado” e, não bastasse, “achava bonito não ter o que comer”. A música tem 77 anos. Julgá-la descolada de seu tempo talvez não seja a atitude mais sensata. Mas muitos não pensam assim: blocos carnavalescos importantes do Rio de Janeiro tiraram o clássico do repertório a partir em 2017.


Teu Cabelo Não Nega – Ok, a marchinha é oito anos mais velha do que a Amélia de Lago e Alves. Está legal: Lamartine Babo é outro giganteo. Mas... sigamos juntos no desfile: O teu cabelo não nega, mulata/Porque és mulata na cor/Mas como a cor não pega, mulata/Mulata, eu quero o teu amor... E mais à frente: Tens um sabor bem do Brasil/Tens a alma cor de anil/Mulata, mulatinha, meu amor/Fui nomeado teu tenente interventor... Mas como sua cor não pega? Como doença? Ao olhar atual, é possível que seja considerada a letra mais racista da história da MPB – essa aqui a da música mesmo... Está no topo da lista das proibidonas dos blocos PCs.

Cabeleira do Zezé – Marchinha icônica de João Roberto Kelly retrata Zezé e seus cabelos longos. Questiona se ele é “bossa nova ou Maomé”, diz que “parece que é transviado” e, no final, decreta repetidamente: “Corta o cabelo dele! Corta o cabelo dele! Corta o cabelo dele! Corta o cabelo dele!”. Tem a pergunta esperada: “será que ele é?” E, claro, a resposta ainda mais previsível no berro em uníssono da rapaziada: “bicha”.

Maria Sapatão – Outra marchinha de Kelly, dessa vez a mais executada no Carnaval de 1981, graças à colaboração de Chacrinha, que a incluiu massivamente, em própria voz, no seu programa. Fala da mulher que “de dia é Maria e de noite é João”. E traz a seguinte constatação: “o sapatão está na moda/o mundo aplaudiu/é um barato, é um sucesso/ dentro e fora do Brasil”. É de se imaginar que o movimento LGBTQI+ adore, ache uma maravilha...

A Pipa do Vovô – “A pipa do vovô não sobe mais”. O verso de simbolismo agudo de Manoel Ferreira e Ruth Amaral explodiu em 1987 na voz de Silvio Santos. Quando brincadeiras como a “pipa do vovô” e outras do tipo, como Sistema Cantareira (“o do volume residual morto”) entram nas rodas, quem não acha a menor graça, normalmente, são os idosos.

O cantor Luiz Caldas, de Fricote
O cantor Luiz Caldas, de Fricote

Veja os Cabelos Dela - “Veja veja veja veja veja os cabelos dela/Parece bom-bril, de ariá panela/Parece bom-bril, de ariá panela/Eu já mandei, ela se lavar/Mas ela teimo, e não quis me escutar/Essa nega fede, fede de lascar”. Tanta leveza e tamanho lirismo renderam à gravadora Sony, em dezembro de 2011, uma pancada de R$ 1,2 milhão em indenização a dez ONGs que lutam contra o racismo. A criação prima do deputado segue, digamos, a “linha evolutiva” de coisas como Nega do Cabelo Duro (“qual é o pente que te penteia”), de David Nasser e Rubens Soares, e Fricote, sucesso do baiano Luiz Caldas que homenageia (?) uma “nega do cabelo duro/que não gosta de pentear” e, que, quando passa na baixa do tubo, o negão começa a gritar: “Pega ela aí, pega ela aí/Pra que?/Pra passar batom”. Fazer a moça de refém para aliviar o panorama com lapadas de batom. Coisa leve, não é verdade?

Amiga da Minha Mulher – A música estourou recentemente na voz do talentoso Seu Jorge, mas depois passou a ser questionada por ativistas e até fãs do cantor. Por dois motivos. Primeiro: o machão afirma que a amiga da mulher “vive dando em cima dele”, como se dominasse as duas por todos os lados na parada. Para arrematar, admite que a amiga da patroa (um cara desse deve chamar a mulher assim ou, talvez, de dona da pensão...) “para piorar a situação”, é uma “tremenda gata” – isso porque “se fosse mulher feia estava tudo certo”. E no final ainda fica na dúvida “pego, não pego”. Muita gente pegou – e largou.

Enquadrar um trabalho artístico como preconceituoso, racista ou politicamente correto é tarefa bem mais complicada do que julgar afirmações.

Se alguém chama o outro de “preto de alma branca”, por exemplo, estamos diante de um caso típico de preconceito, que condiciona o bom ao branco e, por decorrência, o preto ou negro ao ruim. Mas música é arte – e arte tem como espinha dorsal a estética, que torna quase tudo subjetivo, a começar pela tarefa de identificar intenções.

Entre um dilema e outro, o melhor talvez seja a crítica sem caças às bruxas, perseguição ou revisão do passado.

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