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Emocionado ao pegar pela 1ª vez sua biografia, Ronnie Von diz que errou muito: "Muito mais do que acertei" 

Cantor participa do lançamento de O Príncipe que Podia Ser Rei na noite desta sexta-feira (1º)

Música|Juliana Zorzato, do R7

Ronnie Von abre sua biografia pela primeira vez
Ronnie Von abre sua biografia pela primeira vez Ronnie Von abre sua biografia pela primeira vez

Ronnie Von percebeu uma sacola estranha no corredor da sala de sua casa. "Opa, o que é isso?". Abriu. Foi a primeira vez que via sua biografia, Ronnie Von — O Príncipe que Podia Ser Rei.

Emocionado, leu a dedicatória dos autores, a quem chama de amigos, Antonio Guerreiro e Luiz Pimentel. Depois, colocou óculos para folhear o livro. Prestes a começar a entrevista, pergunto se posso registrar o momento com uma foto.

Gentil, Ronnie responde que "não costuma tirar fotos de óculos". Mas me deixa fotografar mesmo assim.

Não podia haver melhor momento para começar a entrevista com o cantor, apresentador, piloto, botânico, publicitário, economista que, aos 70 anos, e 48 anos de carreira cheia de histórias intensas, mantém o charme de galã e diz que, mesmo se arrependendo de muitas coisas que fez na vida, tudo valeu a pena.

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R7: Ronnie, você está com o seu passado nas mãos. E o futuro? O que ainda falta fazer?

Ronnie Von: Tudo. Com o passar do tempo, você fica mais ansioso para realizar um monte de coisas porque você vê que o tempo é curto. A passagem de uma pessoa por este planeta quando é eternizada, justifica a existência dessa pessoa. É claro que eu quero ser lembrado, mas se eu for lembrado em vida, será muito melhor. Nunca me senti tão festejado como agora. Eu não tenho comportamento de artista.

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Sou uma pessoa comum, com anseios, necessidades. E de repente eu sou protagonista de uma história de verdade, que não é ficcional. Olha, é tão emocionante essa história da biografia, mas inicialmente eu não queria, porque só se biografa alguém quando morre, é perverso porque a pessoa não pode se defender.

R7: Você vê o livro como um reconhecimento?

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Ronnie: Sim, mas não um reconhecimento das coisas bacanas que eu fiz na vida, não, não é nada disso. As pessoas disseram, é biografia autorizada? Isso é irrelevante. Eu escolhi uma atividade profissional de vitrine, estou sujeito a levar pedrada. Paciência. Eu escolhi isso. Não é um ônus. São preceitos de quem trabalha com comunicação.

Penso o contrário e os meus pares vão me crucificar e eu vou logo pedindo perdão. Caetano, perdão, Roberto, perdão. Eu respeito muito a atitude de vocês, posso não concordar, mas respeito. Agora se alguém foge da verdade ou usa para explorar o subterrâneo para vender mais, aí cabe o processo.

R7: Biografias costumam trazer os ídolos para o mundo real. Você tem medo de mudar a sua imagem junto ao público?

Ronnie: Não, isso nos humaniza. Eu me sinto produto. Nosso País é rotulador, tudo muito discutível. Talento aqui é uma coisa que não importa muito. E, de repente, me sinto humanizado e isso pode levar as pessoas a se identificarem comigo. Existe a história das referências. O cara também já tomou uma trombada na vida.

Nunca me senti ídolo, me sinto sempre uma pessoa comum. Não faço parte desse grupo dos mega-astros, que tudo podem, que tudo querem, que tudo exigem. Que levam a vida inteira para serem reconhecidos e quando esse dia chega, compram uns óculos escuros, não falam com pobre, não carregam embrulho, não dão autógrafo. Socorro. Eu me sinto mais perto dos humanos. Estou me sentindo mais vivo. Não li ainda, vou ler hoje. Claro que tem coisas que vou ver ferimentos emocionais que não cicatrizaram, mas faz parte.

R7: Você está com 70 anos. Como é envelhecer para um galã?

Ronnie: Vamos ter consciência de que o envelhecimento não é lá muito simpático. Existe o aspecto positivo. Mas temos uma cultura ocidental, mais do latino americano, que depois de uma certa idade você é improdutivo, demanda cuidados. Como diz o meu pai, você nunca terá mais de 25 anos dentro da sua cabeça, porque o seu corpo não quer e não vai entender isso. O único medo que eu tenho é o da solidão e eu tento levar uma vida como a do meu pai: ser alguém que as pessoas querem estar perto. Tento ser um cara muito legal. Minha casa é sempre muito cheia, porque eu quero meus amigos comigo.

R7: Na sua opinião, quem comprar a sua biografia vai estar interessado no cantor galã dos anos 60, no ídolo romântico dos 70 e 80, ou no Ronnie apresentador de TV do século 21?

Ronnie: Deve haver um mix dessa coisa toda. Quando a minha juventude foi devolvida por meio dessa redescoberta dos discos rock n' roll psicodélicos, meu filho mais novo me mostrou no Orkut, que era o que tinha naquela época, umas comunidades “eu amo o tio Ronnie”, "ouço o tio Ronnie", "tio Ronnie é rock n' roll na veia", "tio Ronnie é psicodelia pura", "tio Ronnie é o primeiro emo do Brasil". E isso não foi induzido pelos pais.

Foi feita uma pesquisa na emissora que trabalho de crescimento de público por faixa etária. O que mais cresceu foram os telespectadores na faixa de 25 anos. Mas os meus pares, minhas bonitinhas, minhas “sexis” e maduras já são freguesas e fregueses, os bonitões daquela época. Mas a garotada deve ter a curiosidade, de onde vem esse cara, o que ele fez na vida? E, de repente, descobrem que sou igualzinho a todo mundo.

R7: Você é igualzinho a todo mundo, mas é um ídolo, um artista brasileiro…

Ronnie: Tão pequenininho eu sou. Seu fosse um ídolo, eu estaria hoje na NBC, na ABC batendo no David Letterman.

R7: O que você tem orgulho de estar na biografia?

Ronnie: A minha situação como mãe de gravata, ou seja, pai com guarda de filhos [Ronnie ficou com a guarda dos filhos do primeiro casamento com Aretuza, Alessandra e Ronaldo]. Isso tem uma importância monumental. Eu cultuo muito a imagem dos meus antepassados, e claro, dos meus descendentes, os meus filhos são excepcionais. Me orgulho de ter tido um casamento muito feliz com a minha primeira, Aretuza. Me sinto muito feliz de ter levado alegria e esperança a muita gente, por ser sobrevivente de uma doença dita incurável. Me orgulho muito do romance, este, sim, cinematográfico, com minha melhor amiga e que hoje divide a casa e a cama comigo, que é a Kika [Cristina, mãe do terceiro filho, Leo Von]. Me orgulho dos meus amigos que são fiéis, sinceros, lamentavelmente poucos, os autores inclusive fazem parte. Tanta coisa de que me orgulho!

Eu errei muito, muito mais que acertei. Não faço parte daquele grupo que diz "ah, faria tudo de novo". Faria coisa nenhuma! Faria tudo ao contrário, com a experiência que a gente tem hoje. Tanta cabeçada, tanta bobagem. Pensa bem, o erro é que justifica o aprendizado. Eu não queria ter errado, não.

R7: Mas você acreditava nas suas atitudes ou era inconsequência?

Ronnie: Não era inconsequência, mas eu não sabia como fazer. Eventualmente hoje eu também não saberia, mas teria um pouco mais de experiência em não pisar em pedras soltas e levar um tombo. Como levei vários.

R7: Há vários anos você trocou a música pela carreira de apresentador de TV. Mas no começo da carreira também era apresentador, além de cantor. O Pequeno Mundo de Ronnie Von era um programa para quem não conseguia, ou quem não queria, estar na Jovem Guarda?

Ronnie: Eu não tinha esta visão alternativa. Era um programa que seguia mais ou menos uma ideia preconcebida da minha cabeça — que na época tinha um pouco de jornal amassado, em vez de massa encefálica...

Eu queria fazer uma coisa mística, surreal, próxima das coisas mais discutíveis em termos de realidade. Não pensei no meu programa como uma alternativa, nunca. Claro que existiam os seguidores da Jovem Guarda, de que eu não participava. Tive que formar o elenco. Cheguei a fazer o programa só com os Mutantes. Ritinha [Rita Lee] gostou muito. Foi uma das moças mais bonitas que conheci na minha vida. 

R7: Você veio do rock, mas durante a maior parte da sua carreira ficou conhecido como cantor romântico. Olhando para trás, como você vê isso?

Ronnie: De uma maneira pesarosa. Eu jamais quis ser cantor romântico. Eu sou filhote de gravadora. E a gravadora precisa ter uma certa credibilidade com um lado um pouco mais seletivo, um grupo de artistas que partam para um lado elitista, em termos de textos, composições, harmonias mais difíceis, que é festejado pela intelectualidade. O outro é aquele que tem que vender. E o terceiro, que fica entre uma coisa e outra, foi onde eles me colocaram. Mas sempre com o viés da compra.

Na minha época, o importante não era o conteúdo, mas o potencial de venda. Você não podia falhar. O meu primeiro disco foi um sucesso estrondoso. O segundo disco vendeu mais discos do que aparelhos para tocar esses discos que havia no Brasil. Que foi A Praça. Uma música que eu não queria gravar de jeito nenhum, porque não tinha nada a ver comigo, eu me sentia rock n' roll, sei lá, um cantor inglês que equivocadamente nasceu no Brasil. Não era a minha praia. Eu fui levado a gravar, isso vende, isso não vende e minha cabeça vivia ensandecida, porque o tal viés romântico não ia ao encontro daquilo que eu queria.

R7: E o que você queria?

Ronnie: Eu queria que as pessoas entrassem num momento de reflexão, pensassem o que eu queria dizer com aquilo. Eu sempre fui rock n' roll. E eu queria também levar alegria. Esse mundo sempre foi amargo. E as pessoas sempre cultivam a amargura, mesmo as pessoas que eu amo perdidamente, como Oscar Wilde, que eu tenho paixão pelas coisas que ele escreveu, tenho a obra original. Tem um texto dele que dizia que a vida se balança entre a dor e o tédio. E a alegria, se prolongada, também se transforma em tédio. Claro que ele sofreu muito, escreveu isso quando estava na prisão, mas se você pensar bem, tudo na vida é equilíbrio. Entre o preto e branco, eu prefiro o cinza. 

Eu sempre quis levar um pouco de alegria, levar as pessoas para esse lado mais bonito da vida. Acredito que a razão da vida seja o sonho, você tem que sonhar com o seu dia mais feliz, com seu momento mais bonito. Porque morrer é uma coisa muito fácil. Então você tem que acordar todo dia agradecendo.

R7: Sua família era contra você ser um cantor de rock. Você acha que hoje o rock deixou de ser um perigo na visão dos pais? O que o substituiu?

Ronnie: Eu vejo os pais falando muito de funk. Ouço muito isso. O funk tem uma objetividade que também é urbana. Gosto de certas músicas que são crônicas urbanas e sátiras urbanas. O rap, por exemplo, que nasceu nas ruas de Nova York, sempre tem uma crítica social. Urbana, mas sempre tem. Não é cantada, é falada, eu respeito. Eu posso não concordar, mas respeito. Porque todo mundo tem direito a sua opinião, mesmo muitas vezes não concordando. Mas tem certas coisas que têm contribuições filosóficas, ou de conteúdo, que são passíveis de discussão.

Por exemplo, uma dupla nascida da cidade, e são ditas sertanejas. Mas não são, são urbanas. É etimologia. Mas eu sou obrigado a aceitar, a concordar com o mainstream. Se é boa ou se é ruim, não se discute. Não tem o que dizer. Eu não sei se é funk isso que fazem aqui, porque o berço do termo funk é só o ritmo. Não tem a ver com o texto. Imagina os pais ouvindo cachorra, duplo sentido, os pais não gostam muito, não. Pode ser o rock de agora, porque é uma contestação. Não tenho nada contra, pelo contrário, é uma manifestação musical como qualquer outra, e é popular, e não se vai contra o povo.

R7: Podemos esperar um disco novo do Ronnie Von?

Ronnie: Tenho um pouco de dificuldade de responder a esta pergunta. As gravadoras acabaram e eu não tenho gravadora. As gravadoras tinham seu estúdio, os músicos etc. Não me sentiria confortável em bancar o meu próprio disco. O que todos fazem hoje. Descobri uma coisa quando quis uma assessoria para o meu filho Leo, que é músico, que são os investidores. Quem me cobrou menos, cobrou R$ 5 milhões. O preconceito às avessas agora é ao contrário. Tem que ser rico para poder bancar. Antes tinha que ser pobre. Daí o investidor vai querer o retorno disso. E como ele vai ter isso se disco não vende mais? Eu teria que fazer show.

R7: E você não tem mais vontade de fazer show?

Ronnie: Absolutamente. Nenhuma. Vontade de, eventualmente, gravar um disco, sim. Vontade de fazer show, por dinheiro nenhum. Foram 35 anos direto, quatro viagens por semana toda semana. Eu não aguento. Minha família, o meu trabalho, eu faço um programa diário, trabalho de fim de semana, às vezes. Que tempo me resta? Então, não gravo. 

R7: Se um músico iniciante te pedisse um conselho de como fazer sucesso, o que você falaria para ele? 

Ronnie: Desista. Se for um músico de verdade, eu diria desista. Vivemos num País hoje onde talento não vale absolutamente nada. A tua vocação pode ser muito grande, mas se você não tiver um aporte de dinheiro por trás, você não vai a lugar nenhum. Eu disse isso para o meu filho, que é um músico de primeira ordem, multi-instrumentista, o melhor compositor jovem e melhor cantor que já ouvi. Disse para ele: Desista. Mas ele não desistiu. Continua batalhando.

R7: Você ficou orgulhoso da atitude dele?

Ronnie: Sim, claro que fiquei. Mas não posso tapar o sol com a peneira. Porque tudo o que eu tive emocionalmente, materialmente, foi a música que me deu. Disse ao meu pai que eu não tinha vocação para herdeiro.

R7: Você dividiria o palco com Roberto Carlos?

Ronnie: Com Roberto? Sempre e com maior orgulho de estar ao lado do maior astro cantante do meu País. Roberto e eu temos uma ligação de afetividade grande, essa rivalidade dos inícios deve ter sido armada por assessorias, com toda a certeza. Esse pessoal se calçando na insegurança do menino que lutou tanto para atingir e vem o outro lá, calcinha de veludo, para ocupar o lugar de alguém que precisa. Acompanhei toda a luta do Roberto.

R7: Pesa ser chamado de príncipe?

Ronnie: Pesou muito, essa coisa do país rotulador que eu já disse. Eu não queria, achava absurdo. Não sou o que essas pessoas imaginam. A coisa da delicadeza, era xingado na rua, me chamavam de princesa. Brigava na rua, partia para a agressão, por isso me incomodou muito. Hoje, me envaidece.

R7: A biografia tem o título que diz O Príncipe que Podia Ser Rei. Você queria ser rei?

Ronnie: A antiga diretora do meu programa disse que eu nunca quis ser rei, por que qual é o estereótipo de rei? Ele é baixinho, gordo, barrigudo e careca. Já o príncipe, qual é o estereótipo?

O lançamento da biografia do apresentador acontece nesta sexta (1º) em São Paulo

Ronnie Von faz convite especial para internautas do R7

Ronnie Von — O Príncipe que Podia Ser Rei 

Quando: Sexta-feira (1º), às 19h

Onde: Fnac Paulista (av. Paulista, 901, metrô Trianon - Masp/SP)

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