Estreia dos Mutantes faz 50 anos e ganha homenagem de fãs famosos
Grupo formado por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias revolucionou a música brasileira com o disco lançado em junho de 1968
Música|Daniel Vaughan, do R7

O primeiro disco dos Mutantes faz 50 anos este mês. Inovador e irreverente para a época, o trabalho de 1968 uniu, de forma genial, a MPB e o rock. Além disso, a banda gravou experimentalismos sonoros e técnicas de estúdio arrojadas até mesmo para os dias de hoje.
Formado por Rita Lee e os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias no bairro da Pompéia, na zona oeste de São Paulo, os Mutantes surpreenderam o mundo com o disco homônimo de estreia.
A abertura do álbum com Panis Et Circenses é impressionante. Trazendo metais a la Beatles, a faixa composta por Caetano e Gil entrou também no "álbum-manifesto", Tropicália ou Panis et Circenses. Já Baby, gravada no mesmo disco tropicalista por Gal, ganhou cores psicodélicas na releitura do grupo.
A produção de Manoel Barenbein e arranjos de Rogério Duprat extrapolou os limites da inventividade. Le Premier Bonheur do Jour traz nada mais do que uma bomba de inseticida simulando instrumento musical, enquanto Rita docemente canta em francês. E a viagem sonora não para por aí.
O groove de violão contagiante de A Minha Menina, de Jorge Ben Jor, vem acompanhado dos solos de guitarra atômicos de Sérgio Dias, que ainda faz dueto vocal com o genial multi-instrumentista Arnaldo.
Os Mutantes também foram destemidos revendo canções regionais com jeitão rock'n'roll, enfrentando o purismo cultural que restava na época. Um exemplo disso é a regravação de Adeus, Maria Fulô, de Humberto Teixeira e Sivuca.
Tim Maia ganha homenagem de músicos nos 20 anos de sua morte
Hoje em dia, mesmo com os integrantes vivendo carreiras separadas (Sérgio continua com o grupo), o nome Mutantes ainda é sinônimo mundial de revolução e qualidade musical.
Para comemorar o nascimento da primeira obra-prima do trio, o R7 perguntou sobre a importância dos Mutantes para músicos de diversas épocas e gêneros. Confira.

Ronnie Von
— Minha ligação com os Mutantes é muito afetiva. Quando meu pai trouxe o disco Revolver, dos Beatles, de Londres, eu liguei pra Rita Lee ouvi-lo em casa. Na época, como ela estava montando uma banda, eu mostrei o livro que estava lendo, O Império dos Mutantes (Stefan Wul, 1966). Logo depois, o grupo apareceu com o nome inspirado na obra. O primeiro disco é moderno, natural, livre e atemporal. Me sinto vingado ao ouvir um trabalho como esse, pois é o que eu queria ter feito naquele tempo. Ainda fico muito feliz por eles.

Zeca Baleiro
— O primeiro disco dos Mutantes é um marco da música pop brasileira. Tudo ali tem a marca da invenção: arranjos, composições, uso das guitarras e vocais... foi um susto quando ouvi. A produção deve ser lembrada, é do Manoel Barenbein, nome por trás de vários discos tropicalistas. Esse cara merece uma estátua.

Samuel Rosa (Skank)
— Os Mutantes são uma coisa impressionante. Eles saíram da Pompéia (SP) para serem reverenciados até pelos fãs britânicos. Os semanários gringos mais sisudos citam eles em suas matérias. O som da banda é de um refinamento. Eles são fantásticos!

Odair José
— A banda Mutantes é uma coisa única no Brasil. Eu vi eles pela primeira vez com Gilberto Gil e o maestro Rogério Duprat no Festival da Canção (1968). E eu tive o privilégio de ter o guitarrista Sério Dias tocando no meu disco Coisas Simples (1978). Ele fez arranjos lindos no violão em faixas como Novelas. Creio que o primeiro disco dos Mutantes causou um certo receio pela inventividade, mas os produtores sabiam que tinha algo acima da média ali. Só temos que aprender com eles.

Humberto Gessinger
— Pra MPB, a importância da banda é vasta e bem-reconhecida. Pra mim, particularmente, há uma lembrança da infância que até hoje é muito viva. Tínhamos, lá em casa, um compacto dos Mutantes com as músicas 2001 e Dom Quixote, que eu ouvia fascinado na imensa eletrola que tomava conta da sala. 2001 sempre me atraiu, com sua mistura de passado e futuro, global e reginal. Até hoje, sempre que toco um acorde na viola caipira, ela me vem à mente.

Rogério Flausino (Jota Quest)
— A formação da banda foi revolucionária. Até hoje, Os Mutantes são uma referência de música brasileira no mundo todo. O grupo conseguia ser pueril e criativo ao mesmo tempo. Caetano e Gil sacaram essa genialidade na época e ajudaram a banda a fazer uma ponte provocativa entre a MPB e o rock. Sem eles, o tropicalismo não seria o mesmo.

Lirinha (Cordel do Fogo Encantado)
— Banda símbolo da criatividade incomparável da música brasileira em contato com as informações musicais de outros lugares do mundo. Até quando era irreverente, emocionava. Inesquecível. E uma das mais influentes da atual composição independente nacional. Eles têm muita importância no Cordel, por suas experiências de invenção musical e seu hibridismo. Ouvi pela primeira vez em Arcoverde (Pernambuco), na madrugada, na casa de amigos. Voltei pra casa cantando Balada do Louco e me sentindo mais forte.

Rodolfo Krieger (Cachorro Grande)
— Eu me lembro de ficar completamente hipnotizado na primeira vez que escutei o disco de estreia dos Mutantes. No mesmo momento, criei uma relação mágica com aqueles três jovens que me encorajaram a escrever as minhas próprias músicas, sem medo de ousar e experimentar tudo o que me desse vontade. Graças a eles, hoje, eu me comporto no estúdio de uma forma mais displicente tentando buscar novas sonoridades e novas texturas para as minhas gravações. Eles simplesmente mostraram como é que se faz!

China
— Quando ouvi o primeiro disco dos Mutantes pela primeira vez, nos anos 90, eu achava que era o som de uma banda nova. Lembro de chegar em casa me gabando e contar pro meu irmão mais velho: "Descobri um grupo chamado Mutantes, som massa". Ele deu um monte de risada e me contou tudo sobre eles. Mas, até hoje, escuto o trabalho e continuo achando supermoderno, um som completamente atemporal.

Thiago Pethit
— Eu ainda era moleque, já conhecia Rita Lee, era fã do disco Tropicália, do Caetano, mas nunca tinha ouvido Mutantes. Me deparei com o primeiro disco deles entre os vinis do meu pai. Foi paixão a primeira escuta. E depois a segunda, a terceira, até hoje...

Helio Flanders (Vanguart)
— Esse disco veio na minha vida em dois momentos muito cruciais. O primeiro, quando eu tava começando a ouvir música pra além dos Beatles, descobrindo Jorge Ben, e aí veio com tudo! Eu ouvia Panis et Circenses aos 16 anos e não entendia como aquela sonoridade existia, como uma banda brasileira podia ser tão universal e brasileira ao mesmo tempo. Uma qualidade de composição impressionante. Anos depois, quando fui estudar arranjos, tive a real dimensão da mão do Rogério Duprat nessas canções e ele me revelou o mundo de novo.

Lulina
— Descobri os Mutantes na faculdade, quando amigos me mostraram algumas músicas soltas, gravadas em fita-cassete. Junto com Velvet Underground, foi um dos grupos que mais me inspirou a querer tocar e compor também.

Fernando Sanches (CPM 22)
— Conheci Mutantes através de pessoas da minha família que eram muito ligadas à música. Eu era muito novo, então, essa descoberta foi um divisor na minha vida. Naquele momento, fiquei sabendo que tinha um som muito moderno feito no Brasil. Nossa música não seria a mesma se eles não tivessem gravado discos tão revolucionários.