"Gostaria que ele estivesse aqui", diz Lucinha Araújo sobre Cazuza
Um dos principais expoentes do cenário do rock nacional faria 60 anos nesta quarta-feira (4); músico cantou o amor, a dor e o Brasil
Música|Aurora Aguiar, do R7

Se estivesse vivo, Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, um dos maiores nomes do rock nacional da década de 1980, faria 60 anos nesta quarta-feira (4). Desde que morreu, em 7 de julho de 1990, é a mãe, Lucinha Araújo, a maior responsável por manter vivo o nome do filho e o legado do cantor e compositor, vítima do vírus HIV.
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Se é fácil para ela imaginar o filho "sessentão", Lucinha diz que sim, e quase sem uma pausa, emenda o lamento da falta que Cazuza faz em sua vida.
— Fácil é, é muito fácil, mas eu gostaria que ele estivesse aqui.
Por saber que seu maior desejo é impossível, Lucinha diz que "se conforma", contudo, exalta a importância de Cazuza no cenário musical.
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— Ele não chegou aos 60, mas fez muito coisa boa e ficou muito conhecido no Brasil. Ele só não fez sucesso no exterior porque não teve tempo. Cazuza ainda é atual porque era muito moderno. Cazuza sempre foi de vanguarda. Noel Rosa morreu com 26 anos e até hoje se canta e se grava Noel. Acho que as coisas boas ficam para sempre. Uma pessoa que deixa um legado como esse que Cazuza deixou ninguém esquece nunca mais.
Cazuza cantava o amor, a dor, cantava o Brasil. Diante do atual cenário político do País, Lucinha não tem dúvida de que o filho estaria desgostoso com o acontecimentos, e que de certo, usaria a voz para protestar.
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— Ele estaria sim muito insatisfeito, porque ele veria que até hoje o Brasil não mostrou a cara dele. Se estivesse aqui, estaria enriquecendo a cultura brasileira com esses gritos que ele daria. E quem iria lucrar com isso seria a música popular brasileira, apesar de o Brasil estar sofrendo tanto. E é justamente nesse tipo de coisa que acontece que a cultura brasileira cresce.

A dor pela morte de Cazuza ainda é confusa, no entanto, compreensível, na fala de Lucinha.
— Ela se modifica, mas a dor é a mesma, mas é um outro tipo de dor. Eu nem sei descrever como é. Quem perdeu um filho entende o que eu estou falando.
O trauma pela morte do filho fez com que Lucinha fundasse, há quase três décadas, a Sociedade Viva Cazuza — uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo proporcionar uma vida melhor à crianças e adolescentes soropositivos por meio de assistência à saúde, educação e lazer.
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— A Sociedade Viva Cazuza nasceu depois de uma dor e um trauma muito forte. Nasceu para que eu tivesse uma tábua de salvação para a minha vida. Dependo muito mais das crianças que frequentam o espaço do que elas de mim. Isso eu tenho certeza. Como a gente vive dos direitos autorais do Cazuza, imagino que organização vai viver depois de mim, assim espero.