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Ingressos de até R$ 5.000: jovens se endividam para ver shows de Beyoncé e Taylor Swift

Pesquisa mostra que geração Z está disposta a gastar mais e a viajar distâncias maiores para assistir a eventos ao vivo

Música|Melissa Rohman, do The New York Times

O maior dinheiro que Cho gastou em um show foi para ver Taylor Swift em Toronto Audra Melton/The New York Times

Ignacio Vásquez passou o último ano economizando dinheiro para comprar ingressos para a turnê Cowboy Carter, da Beyoncé, que começará no próximo mês. Vásquez, de 20 anos, estudante em período integral de Modesto, na Califórnia, estava procurando ingressos para um dos cinco shows da turnê no estádio SoFi, em Los Angeles, para ele e sua irmã. “Fui ver a Beyoncé na turnê Renaissance e, quando fiquei sabendo que outra estava chegando, resolvi economizar.”

Em 11 de fevereiro, ele se registrou na fila virtual da Ticketmaster para a pré-venda do BeyHive, nome oficial da base de fãs da Beyoncé, oferecida exclusivamente para quem se cadastrou no site da cantora. Depois de esperar por sua vez, Vásquez se surpreendeu ao ver que os ingressos custavam no mínimo US$ 600 cada um e muitos ultrapassavam US$ 1.000. “Os preços estavam absurdos quando consegui entrar. Pensei: ‘Ah, não, isso não vai dar certo – não vou fazer isso’, então simplesmente desisti.”

Nos últimos anos, os frequentadores de shows têm pagado preços exorbitantes para ver artistas populares como Beyoncé, Taylor Swift e a banda Oasis em turnê. Mas os fãs da Geração Z – nascidos entre 1997 e 2012 – estão pagando muito mais por ingressos de shows do que as gerações anteriores quando eram jovens. Segundo dados compilados pela Pollstar, publicação comercial que cobre a indústria da música ao vivo, em 1996 o preço médio de um ingresso para qualquer uma das cem maiores turnês daquele ano foi de US$ 25,81, ou cerca de US$ 52 ajustados pela inflação. Em 2024, o preço médio dos ingressos subiu para US$ 135,92. A indústria da música ao vivo tornou inviável o valor do ingresso para os jovens de hoje.

Para a Geração Z, gastar com shows pode arruinar seu orçamento. Em uma pesquisa com mil participantes dessa faixa etária publicada no ano passado pela Merge, agência de marketing, 86% admitiram gastar além do planejado em eventos ao vivo. O Fomo – “fear of missing out”, que traduzido para o português significa o “medo de ficar de fora”, de não conseguir acompanhar as atualizações e eventos, o que faz com que a pessoa se mantenha conectada às redes sociais – foi citado como uma das principais razões. Outra pesquisa feita pela Associação Automobilística Americana e pela Bread Financial, empresa de serviços financeiros, descobriu que a Geração Z e os millennials estavam dispostos a gastar mais e a viajar distâncias maiores para assistir a eventos ao vivo do que as gerações anteriores.


No ano passado, Chricket Cho, de 25 anos, foi a sete shows nos Estados Unidos e no Canadá: ao de Swift em Toronto, ao da banda Bleachers na cidade de Nova York e em Nashville, no Tennessee, ao de Gracie Abrams em Nova York, e aos de Sabrina Carpenter, Maggie Rogers e Chappell Roan em Atlanta. Ela gastou US$ 8.400 em ingressos, artigos promocionais e transporte para os shows. “A música ao vivo faz com que eu me sinta viva. É um momento único, muito diferente de ouvir música no Spotify ou no meu toca-discos”, comentou Cho, auditora de tecnologia da informação que mora em Suwanee, na Geórgia, e ganha cerca de US$ 100 mil por ano.

A maior quantia que Cho gastou em um único show foi para ver Swift no Rogers Center, em Toronto. Comprou seu ingresso na Ticketmaster por US$ 600, pagou US$ 3 mil pelo voo e pela hospedagem e gastou US$ 470 em produtos promocionais da artista. Embora não estabeleça um limite de valor para comprar ingressos de shows, ela disse que o aumento dos preços fez com que desistisse ir a shows de artistas que não sejam seus “favoritos absolutos”, como Swift ou Bleachers, a banda de rock liderada por Jack Antonoff.


Show de Beyoncé em Toronto, em julho de 2023 The New York Times

Os preços dos ingressos para shows dispararam

Há cerca de 50 anos, os admiradores de Bruce Springsteen pagaram apenas US$ 8, ou US$ 44 ajustados pela inflação, para vê-lo na turnê Born to Run. Os valores subiram depressa nas décadas seguintes. “O preço médio do ingresso para um show aumentou quase 400% de 1981 a 2012, muito mais rápido do que a alta de 150% na inflação geral ao consumidor”, informou Alan B. Krueger em um discurso no Hall da Fama do Rock ‘n’ Roll, em 2013, quando presidia o Conselho de Assessores Econômicos dos Estados Unidos.

Depois do período de confinamento durante a pandemia de Covid, a presença em shows e outros eventos de grande porte voltou a crescer, já que o público ansiava por experiências presenciais. Em 2023, as cem maiores turnês do mundo arrecadaram um recorde de US$ 9,2 bilhões, aumento de 65% em relação a 2019, segundo dados da Pollstar. Esse crescimento da procura, combinado com os assentos limitados, as tarifas elevadas dos serviços e a regulamentação pouco rígida (e um processo antitruste em andamento) da compra e da venda de bilhetes, provocou um aumento do preço dos ingressos dos shows em nível mundial.


Na popular The Eras Tour, de Taylor Swift, que arrecadou a cifra recorde de US$ 2 bilhões, o preço médio dos ingressos foi de US$ 1.088 em 2023.

Os sistemas de precificação dinâmica baseados na procura, adotados por vendedores de ingressos, também contribuíram para os preços elevados. Mas não foi isso que houve quando Vásquez tentou comprar os ingressos para a turnê de Beyoncé. No dia seguinte à sua tentativa frustrada, ele conseguiu comprar os ingressos por US$ 200 cada em uma pré-venda da Ticketmaster disponível apenas para titulares de cartões de crédito e débito do Citibank. “Em questão de um dia, os preços caíram drasticamente, e conheço gente que comprou no primeiro dia. É uma loucura.”

De acordo com a Ticketmaster, os preços dos shows no estádio SoFi não foram alterados. A turnê havia estabelecido valores entre US$ 105,25 e US$ 4.769,52, incluindo as taxas de serviço, e os assentos mais baratos estavam disponíveis quando Vasquez os comprou na pré-venda do Citibank. “Os ingressos foram precificados antes da venda e definidos individualmente para cada assento. A Ticketmaster não usa precificação dinâmica ou algoritmos para ajustar os valores dos ingressos”, afirmou um porta-voz da empresa.

Orçamentos comprometidos

Abbas Tayebali mora em Westmont, no Illinois, e ganha cerca de US$ 28 mil por ano com dois empregos de meio período, um como assistente administrativo em um escritório acadêmico e outro como coordenador de eventos para uma empresa de aluguel de cabines fotográficas. Em 2024, foi a dois shows no Teatro Chicago, um de Laufey e outro de Samara Joy. Para ver Laufey, pagou US$ 300 por um ingresso comprado de um revendedor on-line que cobrava acima do valor original. “Pensando melhor, teria sido melhor não gastar tanto no ingresso, considerando o lugar onde fiquei sentado. Se pudesse voltar no tempo, provavelmente eu me daria um chacoalhão, dizendo: ‘Não compre esses ingressos’”, comentou Tayebali, de 26 anos.

Chricket Cho tira fotos nos shows que ela vai com a família Audra Melton/The New York Times

Ele contou que já se endividou no cartão de crédito comprando ingressos para shows, mas afirmou que nunca pagaria mais de US$ 500 por um único bilhete. “Ir a shows costumava ser acessível e uma maneira divertida de terminar a noite.” Está economizando para ver Beyoncé, mas, por enquanto, tem ido a apresentações menores e mais acessíveis.

“Ir a shows se tornou um luxo”, resumiu Yazmin Nevarez, de 24 anos, supervisora de atendimento ao cliente em uma unidade da loja Home Depot, em Chicago, que ganha US$ 51 mil por ano. Ela tem priorizado apenas os artistas que de fato ama. Em agosto, viajará para assistir ao show de Bad Bunny no Coliseo de Porto Rico, em San Juan. Comprou seu ingresso por US$ 80 por intermédio da Ticketera, plataforma de eventos de Porto Rico, e pagou cerca de US$ 300 pela passagem aérea. Para ela, Bad Bunny se esforça para preservar a cultura porto-riquenha, o que torna a apresentação especial.

Ela pretende ficar hospedada com a família durante a maior parte da viagem, mas alugou um Airbnb para a noite do show, por US$ 200, valor que dividirá com amigos e familiares que também vão ao evento. “Sendo porto-riquenha e indo a um lugar de onde minha família vem e que visitávamos a cada dois verões, acho que esse é um evento que vale a pena priorizar”, disse Nevarez a respeito do show.

Allison Santa, de 27 anos, que trabalha como associada de desenvolvimento de negócios em uma empresa de energia solar e é instrutora de pilates em meio período em Chicago, ganha US$ 80 mil por ano. Em 2024, assistiu a dez shows na cidade, em locais pequenos e em arenas grandes. Calcula que gastou US$ 1.000 em bilhetes para essas apresentações, incluindo mais de US$ 400 que perdeu em um golpe ao tentar comprar ingresso para um show de Chappell Roan por meio de um anúncio no Instagram. “Todo mundo em Chicago queria essas entradas. Foi uma loucura.”

Santa disse que já se endividou no cartão de crédito comprando ingressos para shows. No futuro, pretende comprar apenas pela Ticketmaster ou por revendedores terceirizados verificados. Decidiu que gastar dinheiro com viagens seria um uso melhor de seus recursos do que pagar caro por bilhetes. “Provavelmente, eu poderia ter comprado passagens de ida e volta para visitar minha família de duas a quatro vezes com o dinheiro que perdi no golpe dos ingressos para Chappell.” Ainda assim, pagou US$ 326 para ver Charli XCX no mês que vem, na última etapa da turnê Brat, em Rosemont, no Illinois, e disse que espera conseguir um ingresso para ver a Beyoncé “sem comprometer o orçamento”.

c. 2025 The New York Times Company

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