Jon Secada fala sobre dar voz a latinos nos EUA: "Fui muito sortudo"
Vencedor de dois Grammys, astro pop cubano de 56 anos vai se apresentar em São Paulo em show especial do Dia da Mulher
Música|Helder Maldonado, do R7

O início dos anos 90 foi o momento em que o pop norte-americano passou por uma verdadeira invasão de artistas latinos. Antes relegados a realizar shows para a colônia, esses astros começaram a ganhar espaço no País inteiro quando, além da língua natal, também passaram a gravar em inglês.
A primeira representante desse movimento foi Gloria Estefan, que já no fim dos anos 80 era uma estrela mundial. E na banda dela havia um backing vocal que também se tornaria um cantor pop de sucesso: Jon Secada.
O cubano criado em Miami foi um dos poucos cantores de apoio que conseguiram atingir o objetivo de chegar ao mesmo patamar dos astros que acompanham como músicos contratados.
Sucesso na América
Compositor das próprias músicas, Jon se tornou rapidamente uma voz conhecida na América fazendo o caminho contrário de outros latinos e apostando logo no primeiro disco em músicas em inglês e não em espanhol.
A escolha deu certo e o primeiro álbum, de 1992, foi platina triplo nos Estados Unidos, número 15 entre os mais vendidos da Billboard e promoveu os singles Just Another Day e Angel, que no Brasil tiveram uma das melhores recepções fora do mercado norte-americano.
Com essa cena ganhando representatividade através de nomes como de Thalia, Marc Anthony, Jennifer Lopez, Shakira, Ricky Martin e Enrique Iglesias, os latinos pela primeira vez se viram representados na enorme vitrine em nível mundial que é os Estados Unidos.
Para Jon Secada, que mudou para o País aos 12 anos, tudo isso que aconteceu há duas décadas teve efeito direto também na representatividade que os imigrantes têm hoje na América e como a música lá mudou de cara.
— A comunidade latina é a minoria mais numerosa dos Estados Unidos. Todas as nacionalidades estão lá. A voz dos latinos, hoje, é importante. Temos representatividade social e política, mesmo que você não tenha nascido lá. E quem nasceu por lá, ainda mantém raízes. Eu fui muito sortudo por fazer parte do surgimento e consolidação de uma cena de pop latino nos Estados Unidos no início dos anos 90.
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Mais que estar no lugar certo e na hora certa, Jon pode se vangloriar de ter sido um músico que praticamente fez de tudo um pouco e trabalhou com praticamente todo mundo que importava naquele momento. Compôs, gravou, co-produziu e tocou não só com os latinos de origem hispano, mas também com Mandy Moore, Luciano Pavarotti e Frank Sinatra.
Para quem veio do ambiente de estúdios antes de ir para os palcos, essa versatilidade sempre foi o que Jon procurou enquanto profissional.
— Eu amo o fato da minha carreira ter começado escrevendo músicas para outros em estúdio. Não tenho ciúme nenhum em ceder. Eu sou antes de mais nada um músico. Só depois virei artista. E eu adoro ter começado compondo para os outros e agradeço cada vez que meu nome parou nos créditos de outros CDs.
Cuba e Estados Unidos
Apesar das raízes familiares, Jon nunca mais voltou ao seu País de origem. Embora não renegue as raízes e faça questão de ressaltar a nacionalidade, a família dele tem um histórico de perseguição política por parte do presidente Fidel Castro.
O problema diplomático, que afetava o pai do cantor, foi o que motivou a família dele a deixar a ilha caribenha no início dos anos 70 e se mudar para Espanha quando ele tinha nove anos. Logo depois, ele passou pela Costa Rica e só aos 12 desembarcou em Miami.

— Por sorte, parei na cidade mais latina dos Estados Unidos, que à época era mais cubana que qualquer outra coisa. Hoje é uma mistura de tudo. E eu vi Miami se transformar assim. Mas eu sou muito conectado com o fato de ser cubano e passar isso para meus filhos. Apenas ainda não quis voltar para lá.
Por conta disso, a influência musical de Jon é mais focada na música americana, em específico o R'n'b, que foi a área onde ele se especializou ao estudar música na infância e na adolescência.
— Tudo que sei de música cubana, eu conheci vivendo em Miami na infância. Minha conexão com as raízes dos meus pais foi através da cena que acontecia na cidade e nas rádios locais. Mas r'n'b pesa mais na minha influência musical, além de jazz, pop e rock. Mas a percussão latina e os artistas que ouvi quando era criança, também fazem parte do que crio. Inclusive os dois Grammy que ganhei com discos em espanhol são fruto disso.
O fator Brasil
Se pudesse escolher um terceiro País para ter nacionalidade, provavelmente, Jon teria o Brasil como destino. E não é apenas uma falsa simpatia de astro gringo pelo País em que vai tocar. Aqui é um dos locais fora dos Estados Unidos onde o músico mais se apresentou e tem a maior base de fãs. E isso resultou inclusive na gravação de um DVD no Rio, em 2010.
— É uma surpresa que minha música tenha ficado tão importante no Brasil, pois era algo totalmente inesperado. De verdade. E acabou se tornando o lugar onde os fãs são sempre mais receptivos.
Em 2018, o músico está de volta ao País para três shows, com destaque para a apresentação que acontece dia 8 no Clube Atlético Juventus, em São Paulo, para celebrar o dia internacional das mulheres. E Jon acredita que a sua escalação não poderia fazer mais sentido, já que suas letras sempre foram direcionadas ao público feminino.
— Minhas músicas são sempre sobre mulheres, mas ao mesmo tempo, os homens quando ouvem minha música podem usá-las também como armas de conquista. Mas sim, tenho um trabalho muito focado no público feminino e por isso fazer um show no dia das mulheres faz muito sentido para mim.