Lô Borges lança álbum de inéditas e celebra Milton Nascimento
Cantor, que está divulgando o novo trabalho, 'Rio da Lua', relembrou discos históricos e exaltou o amigo de Clube da Esquina: 'Somos irmãos'
Música|Daniel Vaughan, do R7
Lô Borges está lançando Rio da Lua, o primeiro CD de inéditas em oito anos. Para o mineiro, o novo trabalho é uma espécie de persistência poética.
— Rio da Lua é a confirmação da minha vocação como compositor. Eu faço música desde os 20 anos e, hoje com mais de 60, continuo por esse caminho. O disco confirma que sou uma pessoa que ainda é atuante na composição.
Mesmo com tantos anos de carreira, Rio da Lua revelou um formato incomum e, ao mesmo tempo, fascinante de composição para Lô. Primeiro, ele se reconectou com o parceiro Nelson Angelo, amigo que não via há 40 anos. E, por WhatsApp, a dupla passou a trocar ideias musicais para o CD.
— Eu sempre tive a mesma forma de compor. Fazia meus "lá, lá, lás" e o parceiro escrevia o texto em cima da melodia. Só que agora, em 2019, o processo se inverteu. O Nelson mandou as letras por mensagem de celular e fui musicando. Me senti desafiado e feliz pela novidade.
A Via Láctea
Além do registro do álbum de inéditas em 2019, Lô Borges também relembra 40 anos do clássico A Via Láctea. Considerado um dos melhores discos da MPB, nove entre dez faixas de qualquer compilação de Lô estão nesse trabalho.
— É muito legal ver Via Láctea virar 'um senhor de 40 anos'. Tenho muito carinho por ele. Foi o primeiro disco que eu pude gravar, compor, ensaiar e produzir com calma. E ainda tive a oportunidade de chamar o Milton Nascimento para produzi-lo. Antes disso, era tudo muito jogo rápido. É um dos melhores álbuns que já fiz.
Uma das canções mais conhecidas de A Via Láctea é a célebre Clube da Esquina nº 2, uma herança instrumental do primeiro projeto "coletivo" ao lado de Milton Nascimento, Clube da Esquina (1972). Lô explica como a música aconteceu, de forma diferente, nos dois álbuns.
— Clube da Esquina nº 2 nasceu como algo instrumental comigo e Milton fazendo as harmonias nos violões. Daí, gravamos nesse formato no álbum do 'Clube'. Depois, foi a Nana Caymmi que viu potencial em colocar uma letra ali. Ela deu a dica para meu irmão (Márcio Borges) e ele fez algo genial. Foi assim que surgiu a frase emblemática: "Porque se chamavam sonhos/E sonhos não envelhecem..."
O compositor diz que, apesar de estar na estrada divulgando o novo CD, pode pensar em algo especial para o aniversário de A Via Láctea, tocando o disco ao vivo na íntegra.
— Pode rolar uma turnê do 'Via' sim, até porque também fiz isso com outros álbuns. Se é uma demanda do público, que sempre me pergunta por isso, podemos realizar o projeto. Só não sei quando será feito.
Clube da Esquina
2019 ainda trouxe mais surpresas agradáveis para Lô Borges. Milton Nascimento está revivendo as canções do Clube da Esquinaem uma turnê inédita pelo País. Os dois volumes do célebre projeto (1972 e 1978) trazem canções como Clube da Esquina nº 2, O Trem Azul, Cais, Cravo e Canela e Maria, Maria.
Lô não só aprova a ideia de "bituca", como é carinhosamente chamado na intimidade, como já participou de apresentações recentes do amigo.
— Estou muito feliz em ver o Milton na atual turnê em homenagem ao Clube da Esquina. E, particularmente, fico lisongeado por ser parceiro dele no disco celebrado. No show, o "bituca" canta músicas minhas que eu ainda não tinha visto ele fazendo vivo. É emocionante.
E, para felicidade dos fãs, o cantor não descarta que um dia possa fazer outros trabalhos em estúdio com Milton Nascimento.
— Existe a chance de fazermos novamente algo juntos, porque ainda temos afinidade musical, sentimental e pessoal. Somos irmãos.