Longe da TV, Thalles Cabral aborda temas polêmicos em clipe e filme
Ator e cantor lançou vídeo para a música "Just When We Are High", do disco Utopia, e estrela o filme "Yoñlu", em cartaz nos cinemas
Música|Helder Maldonado, do R7

Thalles Cabral tem se dividido entre as carreiras de cantor e ator. Eternizado na TV pelo papel de Jonathan, filho de Félix na novela Amor à Vida (2013), nos últimos cinco anos ele deu um passo adiante e esteve envolvido em projetos que passam longe dos temas mais mornos dos roteiros dos folhetins.
Como músico, ele lançou o segundo disco, Utopia, em 2017. Com 12 faixas autorais, o álbum de indie rock cantado em inglês é carregado de letras que qustionam a existência, o sentido da vida, as formas menos ortodoxas de amar e o uso de drogas. Segundo ele, é uma tentativa de retratar a própria geração. Ou seja: os millenials nascidos na década de 1990.
"Minha geração é bastante estereotipada por pessoas mais velhas que não viveram nossa realidade e só imaginam como as coisas funcionam", resume.
Com três clipes lançados e dirigidos por ele, o disco segue linha conceitual e tem gerado vídeos com narrativas e padrão de curta-metragem. O mais recente é o da música When We Are High, que conta com as participações de Giovanna Grigio (Eta Mundo Bom, Chiquititas e Malhação) e Mateus Almada (Beira Mar e Redenção).
Nos seis minutos, as cenas mostram um triângulo amoroso bissexual que se envolve em violência física e abuso de entorpecentes. Segundo Thalles, foi uma forma de questionar assuntos que ainda são tabu para a sociedade, mas que estão bastante presentes na vida de quem está entre os 20 e os 30.

"O clipe, inspirado pelo filme Os Sonhadores, serve como uma extensão do que eu proponho a discutir na música. Por isso eu sigo pelo caminho da narrativa com começo, meio e fim, o que serve para explicar minhas ideias não só pelas letras, mas por meio de um roteiro também", admite Thalles.
Segundo o músico, quando todos os clipes do álbum forem lançados, juntos eles formarão um vídeo só. "A ideia é juntar tudo com um fio condutor. Em outubro sairá mais um, que dá prosseguimento a esse conceito", adianta.
Thalles afirma, no entanto, que esses assuntos não são de fato tabus que deveriam chocar o País ainda em 2018. Embora entenda que o Brasil é bastante conservador em assuntos como sexualidade e uso de drogas, para ele, um assunto que deveria ser melhor abordado é o suícidio. O tema é discutido por Yoñlu, filme sobre o músico gaúcho homônimo do qual ele é protagonista e que acaba de estrear.
Lançado em 2017 nas mostras de cinema do Rio de Janeiro e São Paulo, o longa-metragem de Hique Montanari resgata a trágica história do cantor adolescente Vinicius Gageiro Marques que, em 2006, recebeu ajuda de usuários de um fórum na internet para cometer e transmitir a própria morte. O cantor tinha apenas 16 anos e morreu após inalar monóxido de carbono ao acender duas churrasqueiras no banheiro do quarto.

"É um assunto pouco falado, pouco entendido, mas que sofre muita rejeição e que poderia ser evitado caso fosse pautado em mais discussões públicas. Nos debates que fazemos após algumas sessões, ficou claro que as dúvidas ainda são enormes. Mas as discussões têm sido bastante produtivas para elucidar alguns pontos", admite Thalles.
Para ele, interpretar Yoñlu foi um desafio, mas ao mesmo tempo é uma experiência interessante por conta da identificação que ele tem com o músico. Ambos nasceram e cresceram em Porto Alegre e tinha uma inquietação com o mundo como mote criativo. As influências também seguiam a mesma linha: Radiohead, Vitor Ramil e Mutantes.
"Eu fiquei feliz de ter sido escolhido para o papel, porque conheci a música do Yoñlu antes de saber da tragédia. E sempre me identifiquei com o que ele escrevia e questionava. Tenho mesmo muito respeito e carinho pela obra de um rapaz tão jovem e tão inteletualmente elevado", relata.
Além do filme e do trabalho musical, Thalles está envolvido em outros projetos. Apesar de ainda não ter previsão de voltar para a TV, ele está em cartaz em São Paulo com a peça Vincent River, estreia em novembro a versão teatral de Dogville no Rio (inspirada em filme de mesmo nome) e, em 2019, poderá ser visto nos cinema no longa o Homem Cordial, de Iberê Carvalho, e que traz Paulo Miklos como protagonista.