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R7 Música

Max B.O. rapper fundamental para a formação do hip-hop brasileiro fala sobre novo álbum

Rei do freestyle faz balanço da carreira e conta as novidades

Música|Ana Azevedo e Juca Guimarães, do R7

Max vai ser avô e lança disco novo no segundo semestre
Max vai ser avô e lança disco novo no segundo semestre

"Um passo a frente e você já não está no mesmo lugar". A frase escrita no tênis estiloso do rapper Max B.O., que completou 38 anos de idade no começo deste mês, diz muito sobre o atual momento da carreira do artista. Ela resume o começo de nova fase com grandes desafios pela frente e avaliações importantes sobre o passado.

A história do Max, consagrado como rei do freestyle (técnica apurada de fazer rimas no improviso), se confunde com a própria história do rap nacional. 

Após um período de sete anos no comando do programa Manos e Minas, na TV Cultura, e com dois álbuns no currículo, além de dezenas de participações especiais em discos e shows de outros rappers, B.O. está no estúdio gravando aquela que deve ser a sua obra mais densa, coesa e reflexiva. O novo álbum deve ser lançado no início do segundo semestre com um conteúdo que reúne radicais experiências de vida, autoconhecimento, volta por cima e reflexões sobre a "tal camaradagem" na cena hip-hop.

Além do novo álbum, que marca uma fase do Max no rap, o ano de 2017 vai ser especial para o músico. Apesar de nem ser quarentão ainda, ele será avô. A filha Anaile, de 22 anos, está grávida e vai uma menina no final do ano. Foi um cara assim, cheio de histórias para contar e com muitas novidades a caminho, que conversou com o R7. Confira a entrevista exclusiva.


 R7: Conta um pouco da sua história no rap, desde o começo até seu primeiro álbum, o Ensaio. Como a Zona Norte e seus amigos de longa data influenciaram na sua formação como artista?

 Max B.O.: Até os meus 10 anos de idade, em 1989, eu morava no Chora Menino, na Zona Norte. Meu pai era do movimento de luta por moradia. Ele veio de Minas e a minha mãe de Pernambuco. Eles estavam inscritos na Cohab (programa habitacional do governo) para comprar a casa própria. Surgiram algumas oportunidades, mas eles esperaram até aparecer algo na ZN, que foi a COHAB Jardim Antártica, que na época era até mais perigoso que as outras duas porque é na boca da Serra da Cantareira, então tinha muita chacina, aparecia gente morta amarrada dentro da mata, e nós fomos morar lá.


Foi ali onde eu tive meu primeiro contato com o hip hop alguns anos depois, com 11, 12 anos eu comecei a ver uma galera que passava de fusca com caixas de som em cima do carro pra fazer baile de rap, a galera que passava com aquelas maletas de madeira cheia de disco. Em 91 eu tinha 12 anos e rolou o primeiro show do Racionais lá no bairro, num colégio que chamava Elza Saraiva Monteiro, foi show do disco Holocausto Urbano. O marido da vizinha ia pro show, eu persuadi ele a me levar, então ele foi até a minha mãe, pediu pra ela, falou que ia cuidar de mim, e eu fui pro show. Quando eu vi o KL Jay fazendo scrats eu tinha certeza que era aquilo que eu queria fazer. Não ser DJ, mas fazer alguma coisa ligada aquilo que aqueles quatro caras tavam fazendo.

R7: E o seu começo como compositor?


Max B.O.:E aí no ano seguinte, já com 12 pra 13 anos eu já fazia parte do hip hop, ainda não tinha grupo mas eu frequentava uma posse que chamava VZN, a Voz da Zona Norte, criada pelo grupo Voz da Zona norte, liderada pelo DJ Vandi, que foi em casa pedir pra minha mãe permissão pra que eu frequentasse a posse aos sábados, a gente tinha lá na casa dele um ponto de encontro, ensaiávamos das dez da manhã até umas duas, três da tarde, e minha mãe autorizou, foi ali que eu comecei. Meu primeiro grupo na época, os grupos tinham que ter essa coisa impactante, de revolução negra e ao mesmo tempo com sotaque Norte-Americano, então meu primeiro grupo se chamou Alma Negra Rappers, ele não durou meses, não fez nenhum show e tal, aí eu falei meu essa coisa da “Alma” não tá pegando bem, eu preciso mudar o nome do grupo. Aí mudei completamente pra Ação Negra Rappers não adiantou nada, né? (risos).

Aí eu fui convidado por um amigo do bairro pra cantar em um grupo chamado Comando Criminal, ele tinha esse nome pesado mas as letras eram em prol da paz, contra o racismo, contra o preconceito, então eu pensei,cara se eu tomar um enquadro da polícia com a camisa escrita Comando Criminal até eu explicar também já tomei umas porrada. Aí eu falei, eu preciso mudar isso, então ou eu seguia com ele pregando a paz e mudava o nome do grupo, ou eu montava outra parada com nome parecido e começava a meter o pau. E foi aí que eu criei o Boletim de Ocorrência, que falava sobre a violência policial, a chacina, o bicho pegando na quebrada. Foi aí que surgiu o B.O. que depois acabou tendo outra conotação, já que o Boletim de Ocorrência findou, nisso eu tinha um outro amigo da zona norte chamado Pastor Função, que tinha um grupo que era o Cartel SP, aí ele me convidou pra ser segunda voz no Cartel SP, eu fui, e ele falou : “ah Max essa altura do Campeonato a gente já tem aí o Max de Castro despontando, o filho do Simonal, a gente já tem o Max do DMN, então porque que você não vira o Max B.O.? Vai ficar marcado! E aí eu assumi esse nome. O Cartel SP foi muito importante porque foi o primeiro cd de rap duplo da história do Rap Brasil, em 97 por aí.

R7: Também é dessa época a sua fama no freestyle?

Max B.O.: Sim, nessa época eu comecei a despontar com o freestyle, foi nisso que o grupo Funk Como Le Gusta me chamou ,através da produção do Primo Preto, junto com o Black Alien, o Speed e o Paulo Nápole. Eu já conhecia os caras e então, em paralelo, a gente formou a Academia Brasileira de Rimas, que foi o primeiro agrupamento de MCs que desenvolviam a rima freestyle no Brasil, tocamos em festivais junto com outros segmentos da música underground, fizemos abertura pra velha guarda da Portela no Carnaval alternativo da Lapa, no Rio de Janeiro. Acabou que a academia não foi pra frente por causados projeto paralelos de cada um e foi aí que eu decidi seguir solo.

R7: E como foi este começo de carreira solo?

Max B.O.: Fui participando de discos de outras pessoas e de shows de outras pessoas, gravando trilha pra filme, publicidade, sobrevivendo sem um disco, desde 99 até 2010, que foi quando eu lancei meu primeiro disco, o Ensaio. que foi do jeito que eu queria, com os convidados que eu queria, com as fotos do Ivan Shupikov o texto do Xico Sá, participação do DJ Primo na produção, do Nave, de vários caras que hoje em dia tão aí na crista da onda. Trouxe pro disco a Shirley Casa Verde do Cagebê, lá do Peri Alto, na ZN, que pra mim é uma das melhores músicas do álbum. Com produção do DJ Primo - que Deus o tenha -, fiz um disco fantástico mas pouco acessorado e pouco divulgado.

R7: Mas nessa época você já fazia outras coisas além da música, não é?

Max B.O.: Aí, em meio a tudo isso, eu já tava trabalhando com o governo municipal na coisa da Galeria Olido, da Secretaria Municipal de Cultura, 2010 eu tinha acabado de chegar em São Paulo de volta de Florianópolis, então eu ja cheguei trabalhando na Rede TV, e essa segurança da televisão me permitiu produzir o meu disco de uma forma melhor, só que aí quando eu fui pra TV Cultura, com o Manos e Minas, eu trabalhei tanto com rap que parecia que eu tava meio sem saco pra fazer disco, então nos sete anos que eu fiquei na Cultura eu fiz duas mixtapes apenas, que também não foram tão bem assessoradas e divulgadas como deveriam ser. Nesse um ano que eu fiquei fora da TV, eu fiquei em fase de finalização do meu disco novo, que eu pretendo lançar agora no segundo semestre de 2017.

R7: Você falou ali da questão do frestyle, e você é mestre na parada, como voce vê as batalhas hoje? Qual o destaque que a cena dá para a rima de improviso hoje?

Max B.O.: Bom eu acho que o freestyle é um segmento do rap né, é a rima de improviso do rap, mas eu acho que dentro dos parâmetros da rima de improviso, o freestyle infelizmente é a modalidade de improviso mais desconsiderada na música. Porque por exemplo, vou tomar pra ser breve o exemplo do samba apenas, pra gente não falar do repente, da enbolada, da literatura de cordel. O Zeca Pagodinho é partideiro e improvisador, o Bezerra da Silva, que Deus o tenha, também era, o Arlindo Cruz também é, temos vários outros, hoje em dia a batalha de freestyle virou uma coisa deturpada, no meu ponto de vista.

Primeiro que nas baladas não têm mais batalha como tinham antes, eu lembro que no Class a gente fazia freestyle, nas baladas nao tem nem o momento do freestyle quanto mais as batalhas, saca? E deixou de ser uma coisa rica pra ser uma cosia deplorável, eu falo isso, e quem tiver lendo isso pode me provar o contrário, sabe onde me achar, eu não vejo uma batalha melhor e mais bonita do que a minha contra o Aori, no Sesc Pompeia em 2004, inclusive eu cito o lance da meia-calça na Joe [música nova], por que realmente não houve, a partir daquele momento pra cá, primeiro que a galera não respeita mais a questão da rima, não se rima mais a terminação da palavra, muitos não rimam nem sequer a fonética.

R7: E o truque do RG, foi ideia sua né?

Max B.O.: Sim, criei pensando no Supernatural, que é um improvisador norte-americano que pedia pra plateia levantar objetos, e ele ia rimando e colocando o nome desses objetos na rima direto, sem parar para pensar e sem perder o flow [a levada] e o sentido da letra. Eu pensei em me aprofundar mais na intimidade da pessoa, sem ser agressivo, sem zoar a pessoa. Então eu peço o RG e rimo com aquelas informações que estão ali [nome da mãe, numeração, cidade de origem, mês de nascimento, idade, nome do pai, etc]. Hoje em dia não tem isso, essa criatividade, inclusive tem batalhas que são tradicionais por isso, o cara pode falar o que quiser, pode ofender o outro. Quando eu falei pro Aori toma a meia-calça da sua irmã, devolve. Eu não falei 'ah eu tirei a meia-calça da sua irmã, eu arranquei, eu comi ela'. Nada disso, eu falei algo que permitia várias interpretações, um horizonte de possibilidades pra plateia, então pra mim as batalhas estão um pouco deploráveis por isso, porque não se vê mais a riqueza da oralidade.

R7: Max seu disco novo é uma retomada, você está voltando a dedicar 100% da sua carreira para a música. O que a gente pode esperar desse disco seu?

Max B.O.: Só parafraseando a pergunta eu tô me dedicando especialmente a minha carreira né, essa retomada é uma retomada da minha carreira musical, porque é exatamente isso que você falou, eu passei muito tempo me dedicando a carreira de outras pessoas, a ler sobre outros artistas, a estudar sobre pessoas que muitas vezes eu nem conhecia, mas que eu tinha que falar sobre elas dentro do Manos e Minas, isso pra mim também foi muito ruim na época.

Eu não estava ouvindo rap fora da TV, estava bem out das paradas que estavam acontecendo. O meu disco novo é um álbum que busca mostrar pra quem não em conhece pelo meu trabalho musical, hoje em dia eu corro muito pelo rua as pessoas falam 'ah esse é o mano que era o MC Repórter, esse é o cara do Manos e Minas'. A galera pergunta se eu tô em outra emissora, e eu falo que 'não', que estou gravando meu disco e muita gente nem sabia que eu cantava rap, tá ligado. Então essa é uma oportunidade de mostrar pra galera que meu talento vem da música.

R7: Agora em 2017 você vai ser avô, como isso mudou a sua vida tanto como artista quanto como pessoa?

Max B.O.:Como pessoa eu acho que vai ser incrível, eu vejo pelos meus pais, a dedicação que eles tem com os netos deles, não só meus dois filhos a Anaile e o Zion, mas os outros dois do meu irmão também, eu acho que vai ser muito interessante. Infelizmente minha filha não mora em São Paulo, ela mora no interior do Rio Grande do Sul com a mãe. Quando a Anaile nasceu eu era um garoto de 16 anos que mesmo apesar das dificuldades tentei ao máximo cumprir com as minhas responsabilidades, tô muito ansioso com isso, mesmo sabendo das informações da minha neta só pelas redes sociais. A minha filha tá muito ansiosa, então ela está sempre mantendo geral atualizado, então eu sempre descubro mais por ali.

Pra mim, ser avô agora nesse segundo semestre de 2017, que é o mesmo período que chega meu CD, é muito bom pra eu botar uma cereja num outro bolo que eu reconstruí depois de um bolo horrível que eu fiz no ano passado.

Posso dizer que 2016 pra mim foi um ano muito difícil eu sai da TV Cultura como todo mundo sabe, fui mais uma vítima da pejorização [contrato de trabalho como pessoa jurídica em vez de CLT]. A Cultura não contrata os apresentadores na carteira de trabalho.

Então quando você sai é meio com uma mão na frente e outra atrás. É importante falar disso porque as pessoas me perguntam 'Pô Max. você ficou sete anos na tv cultura, ce nao juntou nada de grana?'. Eu tenho dois filhos pra criar, eu sempre ajudei os meus pais, nesses sete anos, o que eu ganhava era pra garantir esse conforto pra minha família. O que servia pra eu usar mesmo, de investimento, era o que eu fazia com shows no meu tempo livre, o que não dava muito.

R7: Foi um ano cheio de problemas, então?

Max B.O.: O ano foi muito difícil pra mim, eu acabei tendo uns problemas também relacionados a depressão e ao uso em excesso de substância ilícitas. Foi uma parada que nunca foi do meu viés, sabe? Eu pouco fumei cigarro na minha vida, sempre bebi pouco, sempre gostei de fumar maconha, mas de resto eu era careta. A depressão me levou para um certo exagero, do qual já me recuperei.

Então foi um ano difícil por isso, mas ao mesmo tempo eu aprendi muita coisa. Eu pertenço a Ala de compositores da Vai-Vai [desde 2013 e frequenta a escola desde 1994] e eu ouvi um conselho do senhor Fernando Penteado, que é da velha guarda e ele me disse assim: quando a gente perde o telhado a gente ganha as estrelas. Então eu perdi o telhado, mas soube observar as estrelas, e eu acho que quando você perde uma coisa na sua vida, eu nâo sei como é pra quem abre mão das coisas, mas pra quem perde o que vem na sequência é realmente muito melhor.

A TV Cultura me mandou embora, eu espero que eles estejam satisfeitos com a decisão deles. Eu estou satisfeito com a decisão deles, eu tô muito mais criativo, eu tô produzindo mais, eu tô com o meu disco semipronto, eu consegui me distanciar dos falsos amigos, de gente que só queria me cumprimentar porque eu era apresentador de TV, porque, de repente, ser meu amigo era uma oportunidade de ir na TV mostrar o trabalho, e consegui em reconectar com amigos que eram meus amigos de longa data e que eu nunca tinha pedido nada pra eles e todo mundo fala que eu sou muito humilde, então eu tive a oportunidade de ter essa humildade e voltar pra esses meus amigos e falar: “olha a gente teve distante tanto tempo, mas a gente é amigo e agora eu preciso de vocês” e tive a oportunidade também de filtrar gente que estava perto de mim me sugando energia.

R7: Como foi essa mudança de comportamento dos falsos amigos?

Max B.O.: Tipo assim eu dizia 'olha, agora eu preciso da sua ajuda, pô, me bota pra apresentar o seu show'. Vários "amigos" fazendo um monte de show por aí. Eu dizia 'ó, não quero nem cantar uma música, eu sou apresentador, de repente se eu apresentar o festival eu faço uma parada, vai me ajudar', e ninguém me chamou.

Foram vários DJs com quem eu falei para me chama pra fazer um free, cantar uma musica, ninguém me chamou. E também histórias com vários caras que organizam festa, que na época que eu tinha o conforto financeiro suficiente para não depender só da música, me chamavam para fazer participações. Eu ia pela camaradagem. Depois, na fase ruim, eu pedi para me darem uma moral, só pela grana da gasolina para botar no carro e, nem assim, me chamaram.

Essas reações todas, de quem foi ajudado por mim, que eu fui lá incentivar e dar moral, e agora viraram as costas foram muito boas também. Eu agradeço muito a essas pessoas. Agradeço muito ao meu período de depressão.

Quando eu botei a mão no chão e vi que eu só tinha o chão pra olhar, eu olhei pra cima e vi tudo que eu tinha pra escalar para estar de volta aqui. O ruim não é a queda, a sensação de queda é maravilhosa, você tá no ar, na plenitude, o f*** é a altura do prédio, quando você se espatifa no chão.

Eu tropecei, tá ligado, e isso me deu a oportunidade de me apoiar e falar: 'meu agora é so eu olhar pra cima e me levantar'. No dia que eu saí da TV Cultura, a primeira pessoa que eu encontrei da minha familia foi o Zion, e ele tava indo pra escola na hora e eu falei pra ele: [pausa, voz embargada] “Filho, a reunião não foi pra gente falar da nova temporada, foi porque eles queriam me agradecer pelo tempo de serviço prestado, e me falar que papai não tem mais o emprego”, aí o Zion fez uma cara de triste assim queria chorar e eu falei pra ele, filho eu não quero que você chore, porque uma das melhores coisas que eu tenho na vida é o sorriso de vocês. [pausa] 'E você sabe porque a gente cai? Ele falou não. “A gente cai porque a gente sabe levantar, quando a gente cai uma vez a gente levanta duas, porque a gente só cai porque a gente ta esteve em pé” e foi nisso que eu me apeguei.

R7: E qual foi a importância de fazer yoga com essa saída da depressão e volta pro eixo?

Max B.O.: Cara eu sempre gostei de futebol, mas eu sempre fui muito sedentário e jogo muito mal. Nunca fui muito das práticas esportivas. Eu percebi que pra eu sair da depressão total eu teria que fazer alguma coisa ligasse a mim comigo mesmo.

Para me dedicar a minha pessoa, ao meu físico e mental. Para não usar mais drogas, eu tive que reaprender a respirar sabe? E eu tenho alguns amigos do bairro que são músicos também: o Curumin, que é um cara que produz um dos beats do meu disco novo, ele é casado com a Analis Assumpção [filha do Itamar Assumpção]. Ela apresentou, durante um tempo, o Manos e Minas comigo. Foi o período que ele realmente foi 'manos e minas', porque tinha um mano e uma mina apresentando.

Eles já faziam yoga, no Jacarandá, perto da nossa casa, com a Mel, e ela me convidou pra fazer aula. A Mel tem um carinho e uma paciência muito especial com os iniciantes, eu já fui pra lá achando que ia ser uma m***, tipo cara eu vou sair dessa yoga com o corpo doendo e tal. Eu não vou mais querer fazer, essa mulher vai me quebrar.

Mas ela foi muito paciente e eu saí de lá um dia, mas eu já queria estar lá de novo no dia seguinte. Eu fico com a consciência pesada quando eu não vou, quero fazer os exercicios em casa e não posso porque sou inciante, mas a yoga me ensinou muito a entender que as respostas estão em mim mesmo. Então, antes de eu tomar uma determinada decisão eu paro, respiro, penso muito, e consigo ser melhor, aprendo que a cada dia eu tô me tornando melhor pra mim. E, se eu me tornar melhor pra mim, eu vou ser melhor pros outros. Aprendi o verdadeiro valor de quem muito ajuda não atrapalha, então é isso que eu espero, me tornar melhor a cada dia na yoga, pra eu ajudar as pessoas cada vez mais, mesmo que essa ajuda seja só ficando na minha, não atrapalhando ninguém, como muitas pessoas fazem.

R7: Depois que você saiu da TV como você sentiu a mudança das suas relações com as pessoas, no meio do rap? você se decepcionou com alguém?

 Max B.O.: Eu não me decepcionei com as pessoas eu me decepcionei com a atitude que elas começaram a tomar com relação a mim, com uma coisa relacionada a postura. A gente falar sobre falsos amigos, talvez eu não possa falar que sao falsos amigos mas talvez nunca foram meus amigos, porque de repente eles podem ser bons amigos mas pra outras pessoas não pra mim.

Depois que eu saí da TV eu pedi coisas pras pessoas que me deram as costas; da mesma forma que teve pessoas que eu não pedi nada, mas que vieram me oferecer coisas.

Teve muita gente que esteve do meu lado no começo das suas carreiras, não da minha, porque era importante estar perto de mim, por eu ser um dos primeiros da rima de improviso...talvez o segundo ou o terceiro porque antes de mim teve o Jr Blau, que morreu no Metrô, ai tem o JL, lá em Diadema, que hoje em dia infelizmente a galera do rap não sabe nem quem é.

Eu também recebi um telefonema pra tocar no primeiro bloco de rap do Carnaval, so que aí na hora do vamos ver o meu telefone não tocou de novo, eu não vou nem citar nomes porque todo mundo sabe quem é quem. É como o Black Alien diz também, é pra quem a carapuça caiba. 

Ai eu fico pensando pô, porque não me chamou agora? Foi porque entrou o patrocínio? Entrou a verba? Será que eu sou tão caro assim? Eu já recebi telefonema de caras que tem bancas aí, que tão fazendo rap, com diversos artistas, um indo pra cada canto do brasil fazendo um corre. Daí me liga porque quer falar comigo, eu tô saindo do enterro da mãe de um dos meus melhores amigos, tô saindo de dentro de um cemitério e vejo aquele telefonema como um ponto de luz no céu, aí pra mim isso é negócio, isso são business, isso é a música, é a minha vida, é o que paga as contas da minha casa, sustenta meus filhos e o aluguel não dorme, tá ligado.

Então você fica procurando o cara porque acha que é amigo do cara, porque já gravou pauta na casa do cara, com ele, com o pai dele, eisso e aquilo. Aí, de repente, o cara tá ocupado eu vou esperar o outro dia e vou ligar. Então quando chega no dia da reunião. eu tô ligando e a pessoa não retorna a ligação, e nunca mais te liga, acho que as pessoas podiam ser mais transparentes, falar 'olha a gente pessou nisso, foi por isso que eu te liguei, mas aí a gente acabou tomando outra decisão e você não faz mais parte dela'.

Eu acho que as pessoas que te consideram amigas elas tem essa oportunidade de fazer esse tipo de coisa, e não fazer essa coisa suja, brincar com a possibilidade e com a necessidade das pessoas, é entristecedor um cara que se diz seu amigo te chamar pra participar do show dele e te oferecer R$ 100, R$ 200 ou R$ 300, e você ir porque voce considera o cara pra caramba, porque você já teve com ele no 'pé do frango', Mas aí você sabe que o cara tá voltando pra casa com R$ 10 mil redondo. É entristecedor, porque quando eu chamo um amigo meu pra me ajudar se eu vejo que ele tá tão necessitada quanto o eu o que eu ganhar eu divido com ele meio a meio se for o caso. Eu não vou fazer você se matar por 10%, por 20%, quem trabalha comigo sabe.

E talvez por isso eu não tenha construído meu império como muito tem aí, mas se eu não construi meu império, mas se eu puder construir a minha casa e os que tiverem comigo puderem também eu prefiro assim. É melhor do que eu contruir o império e os outros não terem nada serem os meus vassalos.

R7: Max essas trairagens, aconteceu tambem enquanto voce estava na televisão ou só quando voce saiu da TV?

Max B.O.: As pessoas são muito volúveis né, então acho que isso não acontece só porque eu saí da TV. No tempo que eu estive nela, também passei situações de, por exemplo, receber um beat pra fazer uma música e de repente eu vejo que eu não vou mais usar porque foi pra um outro artista, e agora tá na trilha da novela.

Igual o outro que me chamou pro projeto e nao teve a considerção de me ligar pra dizer que eu nao vou mais entrar no projeto, também nao tiveram a consideração de me ligar pra falar que eu não ia mais usar o beat.

Se a pessoa liga pra mim, eu vou falar tudo bem, a batida é sua, o ruim é você ver a musica na voz de outro cara. Ou no disco de outro artista, essa história de beat já aconteceu duas vezes. Ou quando voce tem pessoas que estao do seu lado fazendo free com você, te entregando CD te chamando pra participar do teu show e quando você precisa falar com essa pessoa que tava ali do seu lado, que andou com você na favela, que viajou com você pros lugares.

Mas quando você precisa falar com essas pessoas, você só consegue chegar perto do produtor que diz: 'Olha Max, eu vou anotar seu telefone aqui, não tenho autorização pra passar o telefone dele pra você, entao eu vou entrar em contato com ele e pedir pra te ligar'. Isso é triste demais, mas é triste pra quem faz, pra mim é so aprendizado. Eu não vou falar nomes, mas o recado é para quem a carapuça serve.

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