‘MUSIC’: novo álbum de Playboi Carti é uma boa corrida, mas para lugar nenhum
Após lançar o clássico ‘Whole Lotta Red’, rapper de Atlanta retorna com trabalho que visa homenagear a cultura das mixtapes, muito popular nos anos 2000 e 2010
Música|José Pedro dos Santos*, do R7

Após cinco anos de espera, marcados por adiamentos e campanhas de lançamento mentirosas, o rapper Playboi Carti lançou o terceiro álbum de estúdio, MUSIC (música, em português). Carti é um dos maiores nomes do trap (subgênero do rap marcado pelas batidas aceleradas e melodias eletrônicas), e surgiu no mainstream junto da explosão do estilo em meados de 2017.
O rapper de Atlanta é um artista de eras, no estilo diva pop. No primeiro trabalho, a mixtape Playboi Carti, Jordan (nome de nascimento do rapper) estourou com uma sonoridade leve e guiada pela vibe da batida com as letras em segundo plano. Porém, ao lançar o primeiro álbum de estúdio, Die Lit, Carti muda de direção, indo para um estilo mais pesado, com beats mais enérgicos e com graves pesados, mas ainda se mantendo nas bases do primeiro trabalho.
Essa abordagem mais agressiva culminou em Whole Lotta Red, álbum lançado no Natal de 2020 e considerado um clássico moderno do rap. O projeto é muito influenciado pelo rock, ao ponto de a capa ser inspirada na icônica zine punk Slash e tendo diversas referências a bandas durante o álbum. Nessa fase também, Playboi passou a ter um guitarrista, Ojivolta, nas performances ao vivo.

Em MUSIC, Carti mantém a persona rockstar do álbum anterior, porém decidiu seguir outro caminho na sonoridade. Se em WLR, o artista pula de cabeça em batidas agressivas e no uso de uma voz bem fina, conhecida pelos fãs como baby voice (voz de bebê), em MUSIC, Jordan viaja entre sonoridades e vozes, misturando os diversos estilos de cantar e utilizando beats que exploram todas as fases.
O álbum funciona como uma mixtape — uma espécie de compilado de sons, muito popular nos 2010, principalmente para artistas em começo de carreira. Nessa época, a melhor maneira para estourar um rapper ou uma música era por meio de DJs que tocavam nas baladas.
Por conta disso, a maioria dos projetos desse estilo são apresentados por DJs como DJ Drama, que trabalhou com artistas como Pharrell Williams e Lil Wayne, e DJ Swamp Izzo, lenda de Atlanta que participou do surgimento de grandes personas da cena da cidade, como Future e Young Thug — os três estão presentes em MUSIC.
Porém, a fórmula não funcionou tão bem para MUSIC. O álbum não tem uma linha clara que conduza o projeto, parecendo somente 30 músicas jogadas ao vento.
Mixtapes não costumam ter um fio condutor tão claro, mas, por exemplo, In My Mind: The Prequel, de Pharrell Williams com DJ Drama servem como um aquecimento para o primeiro projeto solo de Williams, In My Mind, ou o projeto Dedication 3, de Lil Wayne — uma grande inspiração no terceiro álbum de Carti, que chegou até mesmo a postar uma arte de capa do projeto inspirada nesta mixtape — serve como uma volta da vitória do artista após anos de hits.
Playboi Carti também não é o rapper mais conhecido por ter extrema coesão nos trabalhos, mas Whole Lotta Red, projeto anterior, é levado pela estética do rock e, tem na parte final, músicas mais emotivas que falam sobre o estado psicológico de Jordan, como ILoveUIHateU, Over e F33l Lik3 Dying. Já no terceiro álbum nada disso está presente, e aparentemente a ideia é atirar para todo lado para ver onde acerta.
Durante as 30 músicas (34 na versão deluxe chamada SORRY 4 DA WAIT, ‘Desculpe pela demora’, em português) nada acontece. Você apenas transita entre elas por uma hora e meia. Algumas vezes parece que as músicas entraram por engano, como em TWIN TRIM, com o rapper Lil Uzi Vert, mas que na realidade não conta com Carti no som, sendo apenas um verso de um minuto e meio de Uzi.
Claro, há grandes momentos como a homenagem a Lil Wayne, LIKE WEEZY, TOXIC com participação do inglês Skepta, que traz uma das melhores rimas do álbum, e MOJO JOJO, faixa vazada antes de MUSIC e lançada oficialmente com Kendrick Lamar fazendo ad-libs (sons e palavras que servem para marcar a batida, são muito populares no trap).
Outro ponto do álbum são as participações, 13 ao todo e quase nenhuma trazendo algo para a faixa. Um exemplo disso é Rather Lie, feita com o artista The Weeknd, que parece um lado B da música Timeless, colaboração dos dois que terminou em Hurry Up Tomorrow, sem novidades para o duo.
Mas é claro que há participações de alto nível no álbum, como as de Kendrick Lamar em GOOD CREDIT e fazendo o refrão de BACKD00R, e de Future, presente em TRIM, trazendo um ritmo semelhante aos últimos projetos, Mixtape Pluto e We Don’t Trust You.
A versão SORRY 4 DA WAIT conta com mais quatro músicas, 2024, DIFFERENT DAY, BACKROOMS e FOMDJ. As três primeiras foram lançadas oficialmente via YouTube e Instagram para promover o álbum, enquanto FOMDJ foi tocada pela primeira vez no festival SummerSmash do ano passado.
*Sob supervisão de Camila Juliotti