Pixote completa 25 anos sem nunca ter trocado integrantes
Pirataria e crescimento do sertanejo quase acabaram com o grupo
Música|Helder Maldonado, do R7

Grupos de pagode têm alta rotatividade e muitas mudanças na formação. Sempre foi assim. Com o grande número de integrantes, é normal que haja entra e sai e troca de vocalistas, principalmente quando esses decidem que são famosos o suficiente para não dividir mais o cachê com outros músicos.
Não foi o caso, no entanto, do Grupo Pixote. A banda paulistana está na ativa há 25 anos sem nunca ter passado por mudanças na formação. Dodô, Thiaguinho, Tiola Chocolate e Du estão juntos desde que se conheceram, em 1992.
Segundo eles, a amizade que surgiu na adolescência prevaleceu às pressões do mercado, brigas por dinheiro e convites recebidos no decorrer da carreira.
Essa união não foi abalada nem em momentos de crise. Dodô recorda que o crescimento do sertanejo e a pirataria quase levaram o Pixote a acabar. E não seria absurdo se isso acontecesse.
Banda até mais populares que eles terminaram por conta disso ou caíram no esquecimento. Mas um misto de persistência e encarar a banda como um trabalho normal, salvou o Pixote de ser mais um grupo de pagode que ficou pelo caminho.
Em entrevista ao R7, a banda faz uma análise da carreira, relembra o início e a pobreza antes da fama, revela detalhes de momentos críticos e lamenta a falta de interesse dos jovens por tocar instrumentos.
"Você vê o clipe de funk ostentação cheio de carrão%2C mulher e dinheiro e você vai querer ser o que%3F"
R7 — Todos os grupos do pagode 90 mudaram as formações e trocaram vocalistas. Como vocês conseguiram manter a mesma formação há 25 anos?
Dodô — O que prevaleceu foi a nossa união. Começamos muito cedo. Começamos adolescentes, aos 14. Nunca nos rendemos às modas, só nos adaptamos à época em que estamos vivendo. Fomos gravar clipe só agora. Nem tínhamos esse costume. Acho que tocar as coisas assim ajudou.
R7 — Dodô, não pensou em sair para ter carreira solo como outros vocalistas da sua geração?
Dodô — Teve aquela moda de saída de vocalista, mas prezamos por manter a marca Pixote, que seria mais forte que Dodô sozinho. E nunca fomos de estar sempre na mídia. Nosso sucesso é fruto de shows bem-feitos mesmo. A força da nossa união conta mais que a nossa imagem.

R7 — Em duas décadas e meia, muita coisa mudou no mercado. Como isso afetou vocês?
Thiaguinho — Mudou o fato de que antes a gente lançava um CD e se, tudo desse certo, quatro músicas seriam trabalhadas. Hoje, um EP é mais viável, porque o consumo de música é muito rápido. Tanto que acabamos de lançar um. Nós somos da época de fazer promoção de rádio para sortear carta, estilo o Silvio Santos, sabe? E naquela época existiam mais programas de TV com musical.
Dodô — Participamos de inúmeros programas que não tinham nada a ver com a gente. Acordava cedo e ia tocar ao vivo na Eliana. Era chato porque era muito cedo e às vezes tínhamos feito show no dia anterior. E a gente lá, brincando com o Melocoton e o Chiquinho. Mas era bom ao mesmo tempo. Porque tinha espaço.
R7 — O pagode 90 é respeitado pelo público, mas não tanto pela crítica. Como encaram isso?
Tiola — Grandes clássicos saíram do pagode noventista. Então é válido esse revival que tem rolado. Estão prestando tributo para esses artistas. É merecido, né? Mas a crítica não entende o talento daqueles artistas. Eles dividem o samba do pagode. E é tudo a mesma coisa. É a evolução natural da coisa. Ninguém entendeu isso até hoje.
R7 — Nos anos 90, os pagodeiros ostentaram e alguns até faliram. Vocês também ou eram mais pé no chão?
Dodô — Todo mundo da banda veio de classe baixa. Quando fizemos sucesso, foi o momento de realizar sonhos. Por isso que jogadores e músicos pegam a primeira grana que ganham e vão comprar um carrão. Quem já foi jovem, entende isso. Nem que seja para comprar um Golzinho. Ali, a gente já deixava de andar a pé. E quando veio o sucesso, todo mundo começou a ganhar dinheiro, então gastamos mesmo. Eu nunca tive um carro antes e fui lá comprar um Golf. Sonho, né?
"Chegamos a cogitar o fim. Porém%2C repensamos%2C e montamos nossa própria estrutura para ir adiante"
R7 — A banda chegou a pensar em acabar?
Du — Em 2003, a Warner nos dispensou, porque estava acontecendo aquela crise de pirataria. Então eles enxugaram o elenco e nos dispensaram. E nos sentimos sozinhos, desprotegidos, porque naquela época a gravadora concentrava tudo. Não existia a cultura do artista gerenciar a própria carreira. Então chegamos a cogitar o fim. Porém, repensamos, e montamos nossa própria estrutura para ir adiante.
R7 — Nos anos 90, todos queriam ser pagodeiros. Hoje, todos querem ser funkeiros. É a evolução?
Dodô — Todo mundo queria ser pagodeiro quando a gente surgiu. Hoje, querem ser funkeiros. É normal. Você vê o clipe de funk ostentação cheio de carrão, mulher e dinheiro e você vai querer ser o que? Cada época tem o estilo que mexe com a cabeça da molecada. Mas a gente sente falta da molecada tocando instrumentos também. Isso se perdeu. Como lá fora a galera deixou a guitarra de lado para ser DJ, aqui abandonaram o cavaco para ser MC de funk.