Música “Quem é, quem és e quem sou?”: Caetano tem obra examinada às vésperas de seus 80 anos

“Quem é, quem és e quem sou?”: Caetano tem obra examinada às vésperas de seus 80 anos

Três livros dissecam mais de meio século da carreira e obra do cantor baiano

  • Música | Gabriel Solti Zorzetto, da Record TV

Caetano Veloso completa 80 anos neste domingo (7)

Caetano Veloso completa 80 anos neste domingo (7)

Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo - 23.05.2018

À beira dos 80 anos, Caetano Veloso transmite uma vitalidade que espanta. São oito décadas de “muito amor, muita luta, muito gozo, muita dor e muita glória”, como dito em Não Vou Deixar. E apesar de alguns dizerem que “o sonho não tem mais cor”, o velho profeta grita e repete “Eu não vou”. A cada reinvenção, prova que nenhuma força vai fazê-lo se calar e que sua história jamais será perdida no “denso algoritmo” das novas tecnologias, retratada no cenário tóxico de Anjos Tronchos. Figura complexa e em constante mutação, Caetano é alvo recorrente de autores, jornalistas e pesquisadores que buscam compreender e disseminar a grandeza de um dos artistas mais fundamentais do Brasil.

Já está nas livrarias e melhores sites do ramo o livro Lado C — A Trajetória Musical de Caetano Veloso até a Reinvenção com a BandaCê (Máquina de Livros), de Luiz Felipe Carneiro e Tito Guedes. A obra foca em sua relação artística com o power trio de rock formado por Marcelo Callado, Pedro Sá e Ricardo Dias Gomes, músicos mais jovens que indiscutivelmente refrescaram o catálogo de Caetano Veloso com três excepcionais discos de estúdio: (2006), Zii e Zie (2009) e Abraçaço (2012), além de outros três ao vivo.

Caetano está em turnê pelo Brasil

Caetano está em turnê pelo Brasil

Werther Santana/Estadão Conteúdo - 14.10.2017

A dupla de autores recorreu a cerca de 40 personagens para dissecar o período, dentre eles Jards Macalé, violonista solo e peça-chave na produção de Transa (1972) — tido por muitos como o melhor álbum de Caetano; David Byrne, fundador do Talking Heads; e o e compositor norte-americano Arto Lindsay (de alma brasileira), que assina texto para a orelha do livro. “A fase com a bandaCê é um período pouco comentado, mas foi muito importante e muito rico para a carreira de Caetano. Nos anos 1990, ele estava muito consolidado como "medalhão da MPB".

Com a bandaCê, um trio básico de rock, ele chamou a atenção de muitos jovens que ainda não o ouviam com a atenção devida”, conta Tito Guedes ao R7, destacando ainda a importância de uma entrevista com o próprio biografado para arrematar o projeto. “Ele (Caetano) ficou feliz com o interesse em tratar especificamente da fase , da qual ele sente muito orgulho. Ele contribuiu decisivamente. Foi nossa última entrevista, e por isso mesmo bem concentrada nas últimas dúvidas que nos restaram. Depois de uma investigação tão profunda, perguntamos a ele coisas que só ele mesmo poderia responder. Ele nos esclareceu detalhes que são essenciais para compreender a obra como um todo”.

Lado C serve de companhia a outros dois trabalhos que chegam ao mercado na esteira das celebrações dos 80 anos do cantor. Igualmente acurado, porém com foco mais documental, Letras (Companhia das Letras) reúne nada menos que todas as canções escritas por Caetano desde 1965, quando o baiano inaugurou sua carreira com um compacto simples, até o álbum mais recente, Meu Coco (2021). Neste espaço de tempo, foram cerca de cinquenta discos, incluindo trabalhos em estúdio, gravações ao vivo e coletâneas. São mais de 300 músicas organizadas pelo poeta e professor de literatura Eucanaã Ferraz.

Já em Outras Palavras: Seis Vezes Caetano (Editora Record), o jornalista Tom Cardoso — responsável por biografias clássicas de grandes personalidades como Nara Leão, Sócrates e Tarso de Castro — divide a persona de Caetano em seis capítulos temáticos: o homem de Santo Amaro, o polêmico, o líder, o vanguardista, o amante e o político. Por meio destas várias facetas, o autor reúne depoimentos, entrevistas e uma extensa pesquisa bibliográfica para conduzir o leitor pela trajetória do octogenário trovador. 

Após o lançamento do aclamado Meu Coco (2021), escolhido pelo jornal Washington Post o terceiro melhor álbum do ano passado, Caetano deu pontapé para a turnê de mesmo nome no mês de abril, depois do término das restrições contra a COVID-19 para grandes eventos. Com cenário intimista, o espetáculo vem sendo elogiado por crítica e público e já rodou as principais capitais do país. Assim como refletido no trabalho de estúdio, a apresentação investiga o Brasil atual de maneira singular, crítica e sensível. O repertório é composto por cerca de 25 canções e, além das faixas mais recentes, inclui clássicos como Sampa, Odara, Reconvexo, Lua de São Jorge, O Leãozinho, Baby e Menino Do Rio.

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