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Robertinho do Recife, lenda do Rock, foi fundamental na modernização do Carnaval

Metaleiro ajudou a eletrificar o Carnaval baiano, nos anos 70, e inspirou bloco em Brasília

Música|Juca Guimarães, do R7

Lenda do metal, Robertinho virou ícone de bloco em Carnaval
Lenda do metal, Robertinho virou ícone de bloco em Carnaval

Nascido na terra do Frevo, o guitarrista Robertinho do Recife, foi um dos responsáveis pela criação dos timbres que deixaram o Carnaval do nordeste mais agitado e capaz de levar multidões à loucura por dias e dias seguidos. 

É uma façanha e tanto, principalmente, levando em conta que o músico é um dos grandes nomes do metal brasileiro, tocando com bandas como Deep Purple, Judas Priest, Quiet Riot e que já foi produzido pelo George Martin, mais conhecido como o quinto beatle.

No Brasil, ele tocou e gravou com grandes nomes da MPB e fundou o grupo Yahoo. No começo dos anos 80, foi o idealizador do projeto Metalmania, com álbum e turnê gigante, que estabeleceram as bases do rock pesado brasileiro. O pioneirismo garantiu uma legião de fãs, entre eles o Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura.

A bem-sucedida carreira internacional do Robertinho do Recife, que foi para os EUA com apenas 16 anos, ajudou a abrir as portas do mercado internacional para as gerações futuras.


Carnaval na Bahia

Amigo muito próximo de Dodô e Osmar, criadores do Trio Elétrico, e do também guitarrista Pepeu Gomes, Robertinho do Recife foi um dos músicos que criaram o tempero da guitarra baiana no final dos anos 70. 


"Naquela época, no começo da eletrificação, só tinham dois trios na cidade de Salvador. O "Trás os Montes" e o "Dodô e Osmar". Eu era guitarrista no "Trás dos Montes" e quem cantava era o Luiz Caldas", disse.

"A família do Armandinho foi muito importante para o Carnaval da Bahia. O Osmar, pai do Armandinho, foi quem inventou a guitarra baiana. O Armando é um excelente músico e a gente tem uma relação muito boa. É sempre uma experiência maravilhosa tocar com ele", disse Robertinho do Recife.


Babydoll de nylon

Em Brasília, o bloco Babydoll de Nylon reuniu mais de 80 mil foliões, boa parte delas [e deles] fantasiados com a lingerie sensual. Criado em 2011, o bloco foi inspirado em uma música do Robertinho do Recife, em parceria com o Caetano Veloso, gravada pelo primeira vez em 1983. 

O bloco é uma iniciativa bem humorada dos jovens brasilienses que botam fé no potencial carnavalesco da capital federal. A ideia foi ganhando força e a cada ano junta um número maior de foliões.

No sábado (25), pela primeira desde a criação do bloco, Robertinho do Recife foi presenciar in loco a animação da galera. "É sensacional saber que tem um bloco em homenagem a uma obra minha. Tem lá 80 mil pessoas pulando, se divertindo de verdade e cantando a minha música", disse.

O bloco Babydoll de Nylon recebeu mais de 80 mil pessoas dia 25
O bloco Babydoll de Nylon recebeu mais de 80 mil pessoas dia 25

Carnaval da panelinha

Há alguns anos, o músico tem notado um certo distanciamento entre a programação de Carnaval de Recife e os artistas que batalham pela cultura popular da cidade.

"O Carnaval era a hora de olhar para dentro e dar oportunidade para quem está lá ralando o ano inteiro. Mas o que acontece é que só tem espaço os 'famosos' que são os queridinhos da mídia", lamenta o músico.

Para Robertinho, Recife pode perder o protagonismo na cena criativa musical brasileira se continuar negando espaço para os artistas locais.

"Conheço vários músicos maravilhosos de Recife que não tocaram em lugar nenhum neste carnaval, que não são chamados porque não fazem parte da 'panelinha'. Tem mais de 40 bandas de diversos estilos que são a cara da diversidade de Recife, mas ficam de fora da festa", disse.

O guitarrista alerta que a falta de apoio da prefeitura põe em risco manifestações culturais importantes. "Existe um patrulhamento intelectual de uma turma que manda na programação e deixa todo resto de fora", disse.

Dos grandes artistas recifenses que estão fora da programação oficial da cidade, Robertinho cita o grupo punk Devotos do Ódio. "Eles são ótimos e batalhados. Fazem música com amor. Eles ficam lá no morro fazendo os próprios amplificadores e uma música original, mas não conseguem espaço. Aí dizem que é porque não é música de carnaval, mas tem tanta coisa que não é de carnaval que entra, mas só porque é de fora. Tinha que ter espaço para os Devotos", disse Robertinho.

Disco de frevo

Em 1974, Robertinho voltou sua atenção para o frevo e lançou o álbum "Robertinho no Passo" ao lado do gênio Hermeto Pascoal. "Foi o primeiro disco de frevo tocado em guitarra. Mas não era só frevo porque tinha essa coisa de jazz e rock que o Hermeto faz. Por minha parte, eu não era um frevista de raiz, mas incorporei muito daqueles elementos no meu som", disse.

Robertinho do Recife é uma referência para os metaleiros
Robertinho do Recife é uma referência para os metaleiros

O disco, na época, foi uma das apostas da gravadora para o carnaval. "Quando eu disse que iria fazer um disco de frevo, os caras da gravadora ficaram animados, queriam lançar no carnaval, mas quando ficou pronto, eles virão que não era aquele frevo que eles imaginavam (risos). Em três ou quatro músicas tinha uma orquestração grande. Em outras era o Hermeto no teclado e eu na guitarra. Foi uma mistura das coisas que eu ouvia na minha infância. Me lembro que eu transportei para a guitarra uma coisa que me lembrava a banda de pífanos", disse. 

Outra influência forte no som daquele disco, segundo Robertinho, é a tradição indígena. "Pouca gente repara, mas o carnaval tem muita coisa da música indígena. Pernambuco tem essa influência indígena muito forte também. O maracatu é um pouco indígena também. No Carnaval mesmo tem várias tribos, de verdade, que saem comemorando e celebrando suas raízes", disse.

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