Rufus Wainwright se 'reinventa' na quarentena e afina discurso político
Músico, que no mês passado lançou o álbum 'Unfollow The Rules', encontrou na crise a oportunidade de desacelerar e ampliar as possibilidades artísticas
Música|Helder Maldonado e Ricardo Pedro Cruz, do R7

Rufus Wainwright, de 47 anos, precisou se "reinventar totalmente" por conta da pandemia do novo coronavírus. O músico, que no mês passado lançou o álbum Unfollow The Rules —trabalho que faz uma clara e dura oposição ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump—, afirmou que, embora o momento seja difícil, também tem sido uma oportunidade "gratificante" e "divertida".
Em conversa com o Portal R7, o músico, que nasceu em Nova York, mas passou a adolescência no Canadá, acredita, no entanto, que o mercado da música ao vivo vai demorar para superar os impactos causados pelo crise sanitária. De acordo com a UBC (União Brasileira de Compositores), o prejuízo global pode ultrapassar a marca de US$ 5 bilhões — cerca de R$ 27 bilhões.
"Vai ser muito, muito difícil reconstruir a indústria da música ao vivo. Diante disso, pode ser também uma oportunidade para que os músicos possam se concentrar em suas habilidades ou ideias criativas. Na verdade, sinto que, uma vez que as coisas estejam sob controle, pode haver um grande renascimento na música ao vivo, porque toda essa criatividade reprimida que de repente pode explodir. Então, no final, pode ser uma coisa boa", completou.
Wainwright acredita que a quarentena, ainda que tenha sido imposta por uma questão de saúde coletiva, trouxe a chance de desacelerar. O músico, que vem de uma fase produzindo canções de ópera, está cada vez mais alinhado com as tendências mais populares da música norte-americana. Entretanto, ele não esconde pelo retorno aos palcos.
"Sim. Eu amei estar em casa, tremendamente. Antes da covid-19, eu estava em turnê o tempo todo e estava ficando muito, muito exausto. Então, sim, eu tenho que admitir que gostei desse tempo ocioso. Mas também devo admitir que estou pronto para voltar novamente", admitiu.
Música e política

O recém-lançado Unfollow The Rules é claro quanto ao tom de oposição a Trump. O título, que em português significa Deixar de Seguir as Regras, é defendido pelo artista. Para ele, o obra é na verdade um convite para a "reconstrução" de um novo país.
"O ano de 2020 é indiscutivelmente o ano mais importante da história deste país, considerando as eleições e o fato de que Donald Trump deve ser destituído do cargo. Portanto, Unfollow The Rules faz sentido para mim. Não se trata de destruir as regras, mas de reexaminá-las e construir uma estrutura mais forte", disse.

O início dos anos 2000 marca um dos períodos mais dífices da vida Wainwright, marcada por uma série de tregédias pessoais. À época, o cantor e compositor enfrentou problemas com dependência de drogas, chegando, inclusive, a ficar temporariamente cego.
Anos depois, sentindo os reflexos do consumo desenfreado de anfetamina, Rufus decidiu procurar ajuda do amigo Elton John, que o convenceu a se internar em um uma clínica de reabilitação. Sobre o período, o músico se diz "feliz" por estar viva, mas, no entanto, afirma que não há espaço para arrependimentos.
"Estou feliz por ter sobrevivido, por não estar morto. Isso é uma coisa boa. Mas também não me arrependo do meu passado. Com tudo o que aconteceu, sempre fui inspirado pelo lado mais sombrio. Tenho escrito muitas músicas com todo esse repertório de vida".