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Trio Abronca chega para desbancar os homens do protagonismo no rap

Som politizado e feminista do Abronca foi construído no beat vibrante do funk

Música|Juca Guimarães, do R7

de Jay, Slick e May formam o trio Abronca
de Jay, Slick e May formam o trio Abronca

Em busca de igualdade e disputando centímetro por centímetro o território hegemônico machista do rap, o trio Jay, Slick e May chegam, literalmente, tomando de assalto os holofotes para mandar uma mensagem forte, segura e viciante.

As três garotas são do morro do Vidigal, na zona Sul do Rio de Janeiro, a poucos quilômetros de Ipanema, uma espécie de Oásis do capitalismo, que contrasta radicalmente com o cotidiano de batalha do morro.

Antes de montar Abronca, elas já estavam juntas no projeto Pearls Negras, que estourou em 2014. Com Abronca, a pegada ficou mais linha dura, sem perder o jeito de baile. A canção "Tomando de Assalto" surpreende pela sonoridade, que mescla o rap ao funk carioca e ao trap.

“O papel da mulher no rap é mostrar que temos muita força e coragem pra conseguir o que queremos. Estamos conquistando nosso espaço sem depender de homem nenhum, e isso é incrível”, reflete Jay. “Nem todos os homens são machistas, mas alguns sim, que acham que as minas não têm o mesmo poder que eles no rap. Eles acham que sempre vão estar à nossa frente, só que não! Está vindo um movimento pesado feminino calando a boca de muitos que ainda pensam dessa maneira”, comenta Slick.


Confira a entrevista exclusiva com o trio Abronca e o videoclipe oficial, dirigido por Uriel Calomeni.

R7: Quando e como vocês três se conheceram?


Slick: Nós nos conhecemos no teatro "Nós do Morro", através de aulas de teatro, e depois ficamos mais juntas com as aulas de rimas!

R7: Como se deu a transição do grupo Pearls Negras para o Abronca? Qual o direcionamento do som de vocês de um trabalho para o outro?


Slick: Nossa carreira de Pearls Negras foi maravilhosa demais, só que éramos muito novas! Se não me engano nós tínhamos entre 16 e 17 anos... Nossa escrita e nosso modo de pensar hoje em dia mudou muito! Hoje estamos com 20 e 21 e estamos no momento de definição da nossa personalidade!

Então foi necessário a mudanças de um ciclo para o outro! 

R7: Qual a relação de vocês com o Morro do Vidigal?

Slick: Nós temos muitos amigos aqui! Muitos são amigos nossos do teatro e outros são do rap. Moramos em uma favela super talentosa e sempre vai sair novos talentos daqui!

R7: Essa proximidade entre o Vidigal e Ipanema dá um contraste social brutal e mostra dois extremos do país. Qual a visão pessoal de cada uma das três sobre isso?

Slick: Bom... Isso é nítido né! É porque muita gente não se preocupam com a favela, sabe? Acham que não precisamos de nada e que está tudo ótimo por aqui... Por isso questionamos isso demais em nossa letras, sobre o poder da nossa comunidade e sobre nossos direitos que desejamos!

R7: O Vidigal é um morro muito conhecido pelos projetos comunitários de incentivo à cultura. Quais deles vocês conhecem e recomendam?

Slick: Nós recomendamos o teatro Nós do Morro demais! Crescemos ali dentro é maravilhoso fazer parte disso! Nos faz enxergar a vida de outra forma! A arte é necessária na vida de um ser humano. Fora a escolinha de Boxe, Capoeira, Judô etc... São muitas coisas! (risos)

R7:  No Rio, o rap sempre foi visto com desconfiança ou algo “importado” de SP, talvez por conta da urbanização e da dureza das letras. Mas o som de vocês tem essa marca muito forte. Vocês ouvem muito o rap e o trap feito em SP?

Slick: Sim, nós escutamos de tudo! Temos muitas inspirações de SP como no Rio também. Acho que o rap é isso, é união de muitas coisas em uma só! Nós priorizamos demais a nossa presença e a nossa força nas rimas.

R7: Chegando de Assalto, pra mim teve uma leitura muito mais de afirmação, do tipo, chegar de assalto e aparecer na cena sem pedir autorização, do que propriamente a leitura de assalto como um crime. Mas vocês acham que o som pode ter uma interpretação de apologia ao crime ou um viés meio gangsta? Era essa a intenção também?

Slick: (risos) Bom, a ideia foi mais de chegar de assalto na cena do rap mesmo! Ainda mais por sermos minas e ainda existe um certo preconceito com isso, infelizmente... Então foi chegar sem pedir licença e mostrar nossa mensagem e nossa volta bem mais preparadas e pesadas!

R7:  As mulheres no rap estão produzindo e rimando cada vez melhor. O trabalho de vocês é impressionante. A música é forte e empolgante. O que mais tem no disco que está por vir?

Slick: Bom, estamos preparando um álbum maravilhoso! Nele estamos fazendo de tudo! Vai ter músicas pesadas estilo Chegando de Assalto, mas também terá músicas mais calmas que seria o nosso lado mas "meninas amorosas". Estamos pensando em algumas participações e tal. Mas não vou falar muito para não estragar a surpresa! (risos)

Jay: Estamos trabalhando muito no nosso disco, queremos por de tudo um pouco, Jazz, reggae e funk são alguns exemplos. Tem muita coisa maneira por vir, e estamos muito empolgadas pra mostrar o quanto amadurecemos a nossa escrita.

R7: A temática do feminismo envolve reivindicações sociais importantes, mas não se pode deixar de lado a política. Quais são as mudanças políticas que o grupo defende?

Slick: Defendemos demais as mulheres, sobre fazermos o que quisermos e mostrarmos que somos capazes como qualquer um homem! Não somos sexo frágil! Lutamos atrás dos nossos direitos de cidadão sobre melhoras aonde moramos e para todos. Não podemos ficar calados, até porque o rap nasceu questionando sobre os nossos direitos. Não podemos perder a origem!

May: Em nossos shows e músicas sempre estamos reivindicando isso, desde a favela, quanto a igualdade e direitos social.É importante pois acabamos sendo porta voz. E usar essa voz pra lutar a favor dos nossos direitos sempre será primordial!

R7: Vocês são três jovens que estão produzindo cultura e fazendo a própria narrativa. Isso faz com que vocês se aproximem de outros grupos que estão na mesma sintonia? Tem uma união emergente de artistas novos buscando uma rede de apoio mútuo no Rio?

Slick: Sim, nós sempre estamos apoiando! Aqui no vidigal mesmo tem grupos de rap que estão surgindo e são super talentos e sempre falamos para eles seguirem em frente! É difícil, mas não é impossível. Temos que incentivar pois isso é muito importante pra quem está começando agora!

R7: Como surgiu a ideia de compor “Chegando de Assalto”? Cada uma contribuiu com parte da letra? Teve alguma situação que inspirou vocês a tratar do tema nesses termos na letra?

Slick: Sim, nós relembramos alguns momentos que somos muito discriminadas por sermos mulheres cantando rap. Porque não podemos cantar rap? Só homem que podem fazer isso? Então fechamos ideias com essas situações e criamos a letra "Chegando de Assalto"!

May: Lembro que a Slick e a Jay fizeram a parte delas e me mandaram uma áudio pelo Facebook... Eu fiquei admirada com a letra e super empolgada pra fazer logo minha parte! Acho que essa letra veio de milhares de inspirações e pudemos ser bem abertas a cada uma poder amar sobre o que quisesse, e ter aquele grito de voz! Isso deixou o som muito original e pesado!

R7: O funk está na mira de tiro dos movimentos conservadores. São muitas as críticas ao movimento, muitas deles preconceituosas. Qual a leitura de vocês sobre o movimento e a evolução dele para daqui a alguns anos? Como o fuink entra na música de vocês?

Slick: Nós amamos funk! É uma batida que não dá pra ficar parado! Mas curtimos bem mais os funks antigos. Tchotchomery adoramos demais! (risos) Funk de apologia são bem pesados, ainda mais pra as crianças que amam funk e acabam decorando as letras agressivas e já ficam com um vocabulário que não é legal. Sempre é bom pensarmos antes de fazermos as músicas, sempre falamos sobre isso, pois somos referências e muitas crianças aqui se inspiram em nós!

O som das garotas é pesado e mistura rap, trap e funk
O som das garotas é pesado e mistura rap, trap e funk

R7: Qual a formação musical de cada uma de vocês e qual o interesse musical de vocês? 

Slick: Eu sou bem rap mesmo, sabe? Gosto mais de peso em letras! Trago algo mais grave no grupo pela minha voz também. Isso soma demais quando estamos juntas, sem dúvidas. Me inspiro demais no Brown e MV Bill.

May: No grupo tento trazer um diferencial com a minha voz... Além do rap, sempre gostei muito de MPB e músicas clássicas como Nina Simone...Acho que com isso posso trazer um diferencial e uma soma a mais no grupo. Ainda quero fazer aula de voz pra poder conhecer melhor minha voz e poder explorar mais ela! Ter mais segurança e poder fazer o que tanto quero, que é ter essa mistura do canto com o rap.

Jay: Eu sou uma compositora romântica com um pouco de ousadia e muita autoconfiança. Gosto de escrever nas minhas letras sobre o meu dia-a-dia e sobre como a mulher é forte e inteligente. Gosto muito do estilo da Rihanna e da Alicia Keys. Estou aprendendo a controlar a minha respiração para trabalhar mais o meu speedflow. Esse é o meu interesse no momento.

R7: Quando vai sair o disco de estreia? Vai ter participações especiais?

Slick: Sim, estamos pensando em algumas participações bem pesadas pra ficar um álbum bem completo!

R7: O grupo também assina o roteiro do clipe Chegando de Assalto. Qual foi a ideia que vocês levaram para transformar em imagens o conceito que vocês criaram para a música? Vocês gostaram de escrever o roteiro? Querem repetir isso nos próximos trabalhos?

Slick: Na verdade escrevemos já pensando em como seria o roteiro do clipe. Chega ser engraçado isso! Nós trabalhamos realmente de coração, isso é muito importante pra nós. Desejamos sim fazermos mais roteiros sobre nossas músicas pois fica bem mais natural e bem nossa cara, para o público conseguir ver o que nós somos de verdade! Isso é muito importante! Por isso fizemos o clipe na nossa favela, com nossos amigos e do nosso jeito.

Jay: É incrível que todas as músicas que escrevemos nós imaginamos em um clipe, então assim que criamos a letra sentamos juntas e fizemos um roteiro. E ficou super maneiro pois colocamos tudo que sempre quisemos em um clipe nosso, algo simples, com a vibe do rap de rua, nos becos em que crescemos. Com certeza vamos estar na frente de todos os nossos clipes, pois gostamos de colocar a nossa essência no nosso trabalho.

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