Logo R7.com
Logo do PlayPlus
R7 Música
Publicidade

Último fundador do rock a caminhar sobre a Terra, Jerry Lee Lewis foi controverso até na morte

Pianista revolucionário, 'The Killer' deixa um legado inigualável na história da música popular

Música|Gabriel Solti Zorzetto, da Record TV


Jerry Lee Lewis morreu aos 87 anos nesta sexta-feira (28)
Jerry Lee Lewis morreu aos 87 anos nesta sexta-feira (28)

A criação religiosa e a paixão por uma música "profana" criaram um conflito interno que permaneceu dentro de Jerry Lee Lewis até o dia derradeiro de sua vida, nesta sexta-feira (28), data em que o mundo se despediu do último sobrevivente da geração que criou o rock n’roll. Lewis viveu grande parte de seus 87 anos atormentado por conta de seus vários pecados acumulados de forma paralela a uma abençoada trajetória musical.

Não surpreende que nem mesmo nos últimos dias de vida, The Killer ("O Matador", em português), como foi apelidado, tenham deixado as polêmicas fora de sua órbita. Jerry morreu dois dias após ter sua morte precocemente anunciada pelo portal TMZ. A irmã do músico chegou a externar sua insatisfação com a notícia através de um post no Facebook, mas salientou que o ídolo da música popular americana precisava de orações, já que ele enfrentava problemas sérios de saúde desde que sofreu um AVC em 2019. A triste notícia foi confirmada por Zach Farnum, agente do cantor. "Judith, sua sétima esposa, estava ao seu lado quando ele morreu em sua casa no condado de Desoto, Mississippi, ao sul de Memphis", diz o comunicado. "Ele disse a ela, em seus últimos dias, que dava boas-vindas ao futuro e que não tinha medo."

A confusão, é claro, nem se compara aos grandes escândalos da vida do músico, como a obscura morte de sua quarta esposa, Jaren Pate, em 1982, afogada na piscina da casa de um amigo na qual ela se refugiou após se separar de Jerry Lee; ou quando acidentalmente deu um tiro no baixista de sua banda, em 1976, que mais tarde o processaria por "tentativa de assassinato". Mas o episódio que causou um dano irreparável a sua imagem foi em 1957, quando se casou com a prima de 13 anos, Myra Gale Brown.

Ainda alheio a grandes centros urbanos, Jerry ignorou um conselho da gravadora Sun Records e levou a esposa para acompanhá-lo em sua primeira turnê na Inglaterra. Rapidamente, foi rotulado de "ladrão de bebês" pela imprensa e teve vários shows cancelados. Quando o avião de Lewis pousou em Nova York, o escândalo já viera à tona, interrompendo uma carreira que, no auge, parecia ser a única capaz de rivalizar com a de Elvis Presley, então convocado para o exército. O relacionamento foi amplamente explorado no livro Great Balls of Fire: The Uncensored Story of Jerry Lee Lewis, de 1982, que serviu de inspiração para a cinebiografia lançada em 1989 - estrelada por Dennis Quaid, como Lewis, e Winona Ryder, como Brown.

Publicidade

Foi apenas em 1964, com o sucesso do seminal álbum ao vivo Live At The Star Club, Hamburg, que Lewis restabeleceu um pouco da credibilidade. Mesmo assim, precisou migrar para o country em busca de um novo público e conseguiu emplacar bons álbuns nos anos 1970, como Who's Gonna Play This Old Piano?, Sometimes a Memory Ain't Enough e Odd Man In.

Pianista revolucionário, 'The Killer' deixa um legado inigualável na história da música popular
Pianista revolucionário, 'The Killer' deixa um legado inigualável na história da música popular

Nascido em Ferriday, Luisiana, Jerry aprendeu a tocar sozinho aos 9 anos, combinando as batidas dos clubes negros com o que ouvia aos domingos em sua igreja pentecostal. Quando adolescente, foi expulso da escola que frequentava, no Texas, por tocar boogie-woogie no piano da escola – época em que o rock n’ roll era associado a um som profano. Em 1956, assinou contrato com a lendária Sun Records e deixou seu nome na história com hits como Whole Lotta Shakin' Goin' On, Great Balls of Fire e High School Confidential. Lewis solidificou um som revolucionário que mesclava R&B, gospel e country. Tudo isso combinado a apresentações incendiárias (literalmente) e sem uma guitarra nas mãos. Enquanto os outros ‘’rockabillies’’ dos anos 50 estavam se conectando a amplificadores, Lewis arrancou do marfim de suas teclas de piano um som ardente e furioso que se tornaram sua marca registrada. O estilo de piano de Lewis virou sinônimo de rock n'roll, tendo influenciado gerações de pianistas. O mais famoso deles, Elton John, foi um dos primeiros a se pronunciar após o anúncio da morte do ídolo. “Sem Jerry Lee Lewis, eu não teria me tornado quem sou hoje. Ele foi inovador e emocionante, e pulverizou o piano. Um cantor brilhante também. Obrigado por sua inspiração pioneira e todas as memórias do rock 'n' roll", disse em uma postagem nas redes sociais.

O reconhecimento de Jerry por parte de seus discípulos está documentado no álbum Last Man Standing – com título mais do que apropriado e possivelmente o mais essencial de sua discografia. O trabalho reúne um repertório de tirar o fôlego e acumula duetos com Mick Jagger, Rod Stewart, Bruce Springsteen, B.B. King, Jimmy Page, Keith Richards, Ringo Starr, entre outros. Em 2010, Jerry repetiu a dose em Mean Old Man, com participações de Eric Clapton, Merle Haggard e Willie Nelson, e encerrou a carreira em estúdio com Rock and Roll Time, de 2014. A trinca de álbuns com o elenco de medalhões colocou Lewis em destaque nas paradas da Billboard e provou que suas chamas não haviam diminuído nem mesmo após mais de seis décadas de muito rock n’ roll. Chamas, aliás, que jamais serão apagadas.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.