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'O Auto da Compadecida 2' é um sacrilégio contra o cinema nacional

Os produtores e o elenco preferiram ignorar que o autor da obra-prima, Ariano Suassuna, não deixou sucessores e vai dar ruim

|Marco Antonio Araujo, do R7


Selton Mello e Matheus Nachtergaele vão dar sequência à história de João Grilo e Chicó
Selton Mello e Matheus Nachtergaele vão dar sequência à história de João Grilo e Chicó

O Auto da Compadecida é um dos melhores filmes já feitos no Brasil. Isso é um consenso. Baseado na peça do gigantesco Ariano Suassuna (1927-2014), foi sucesso de crítica e de público. Dificilmente algum brasileiro não conhece as peripécias da dupla João Grilo e Chicó. É uma referência na cinematografia do nosso país.

Os méritos da obra não são poucos, a começar pelo respeito e pela inteligência em traduzir a obra de Suassuna, que enxergava nosso povo com um olhar generoso e ao mesmo tempo implacável. Não por acaso, os protagonistas são dois anti-heróis, miseráveis, malandros e mentirosos. Nada mais justo, diante de vilões cruéis, assassinos e hipócritas.

É sem dúvida o melhor trabalho de Selton Mello. Talvez por ser o único personagem que o ator interpreta sem parecer ser ele mesmo, sua maior especialidade, junto com uma dicção confusa e sussurrante. Matheus Nachtergaele, um artista magnífico, deve ter influenciado o colega de cena com alguma osmose de talento. O fato é que é uma obra-prima, que diverte gerações há 20 anos.

Um deserto de criatividade se apossou do cinema brasileiro — que já foi respeitado internacionalmente, décadas atrás. A crônica ausência de bons roteiristas, a pobreza exasperante dos diálogos e a pandemia identitária que devastou a mente de nossos cineastas causaram sequelas irreversíveis no público, que mantém um severo distanciamento social da bilheteria de nossas salas de exibição.

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Talvez a partir desse grave diagnóstico, alguém teve a ideia de bancar o projeto de O Auto da Compadecida 2. Isso mesmo: com direção de Guel Arraes e Flávia Lacerda e produção da Conspiração e da H2O Film, teremos a continuação de uma história magistral que já veio fechada e embrulhada para presente pelo gênio de Suassuna. A notícia foi confirmada no último domingo (12), para a alegria de alguns desavisados e o desespero de muitos homens de bem.

O problema é que o autor paraibano não deixou sucessores. Será impossível, trata-se de uma constatação, que se mantenham o humor, a malícia, o sarcasmo e a extrema inteligência do original.

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O DVDR (Departamento de Vai Dar Ruim) já foi acionado, mas preferiu se omitir e ignorar o sacrilégio. Não cabe recurso.

Vai dar ruim.

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