Blade Runner: sequência prova que clássicos podem ser revisitados
Filme dirigido por Denis Villeneuve honrou clássicos dos anos 80
Pop|Helder Maldonado, Do R7

Toda sequência ou remake é recebida com certa desconfinaça por fãs do filme original. E na maioria das vezes com razão. Em busca de atualizar filmes clássicos através de tecnologia e super produções, os estúdios costumam entregar produtos de qualidade duvidosa em prol da garantia de uma bilheteria que não deixe rombos no investimento. Ou seja: arriscar está fora de cogitação.
Felizmente, não foi esse o caminho seguido pelo diretor Denis Villeneuve em Blade Runner 2049, que estreou em 5 de outubro no Brasil. O longa, que dá uma sequência ao clássico cult de 1982, respeita a estética do filme baseado no livro Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, de Philip K. Dick. Mas vai além: utiliza todos os recursos técnicos inexistentes há três décadas como apoio ao roteiro de Hampton Fancher e Michael Green.
Dessa maneira, a Los Angeles obscura, noir, chuvosa e claustrofóbica do primeiro longa é substituída por um mundo mais colorido e amplo, mesmo que a paleta de cores seja inspirada na aridez de um futuro distópico abalado pela destruição e abandono do pós guerra em cidades como Las Vegas e San Diego.
"A Los Angeles obscura%2C noir%2C chuvosa e claustrofóbica do primeiro longa é substituída por um mundo mais colorido e amplo%2C mesmo que a paleta de cores seja inspirada na aridez de um futuro distópico"
O respeito à obra dirigida por Ridley Scott (que aqui atua como produtor) também é inserido nessa continuação. Apesar de ser um filme de ficção científica, Blade Runner 2049 flerta o tempo inteiro com outro gênero: ação. Mas nesse caso, ele não foca nas explosões sequenciais e cenas de tirar o fôlego e causar epilepsia com cortes a cada cinco segundos, tão comuns em filmes como Velozes e Furiosos ou Mercenários.

Em Blade Runner, as cenas são mais climáticas, densas e lentas, com planos que duram bastante e induzem a reflexões filosóficas e existenciais. Afinal, a intenção do roteiro que mostra o dilema de ser um replicante (espécie de andróide humanizado e produzido para fins específicos) atinge K, personagem de Ryan Gosling, do início ao fim.
Caçador de modelos antigos fabricados pela Tyrrel — empresa que faliu nessa continuação —, ele descobre um segredo que o faz questionar o próprio papel dentro da sociedade e buscar respostas para dúvidas pessoais.
Com presença constante na tela nas quase 3 horas de filme, Gosling foi a escolha perfeita para um papel que exige pouca expressividade. Mesmo sendo um dos atores mais requisitados do momento, fica claro que ele não é versátil e nem tem tantos recursos cênicos como Jared Leto, que em Blade Runner interpreta o antagonista Niander Wallace.
O vilão é dono da empresa responsável por fabricar os novos replicantes. Cego, ele utiliza de recuros tecnológicos para enxergar em momentos específicos do longa.

Apesar de alardear que viveu como um deficiente visual para encarar esse papel, ao assistir o filme nota-se que o fanfarrão Jared Leto pode ter exagerado um pouco. Ou muito. Afinal, apesar de ser um personagem chave, ele aparece apenas em duas cenas curtas durante o longa e que, juntas, não chegam a dez minutos.
Harrison Ford, no entanto, não precisou de tanto esforço para chamar a atenção para si na produção. Discreto, o ator de 75 anos que interpretou Deckard no primeiro filme, volta a essa sequência sendo personagem que amarra toda a trama, mas que só é utilizado nos últimos 30 minutos (que acaba se tornando a parte mais empolgante de Blade Runner 2049).
Também vale ressaltar que o filme não é só ficção científica e ação. O protagonista também vive um romance. Só que virtual. A ideia lembra, relativamente, a história de amor de Ela, filme de Darren Aronofsky protaganizado por Joaquin Phoenix e Scarlett Johansson.
"Gosling foi a escolha perfeita para um papel que exige pouca expressividade"
Assim como nesse filme, em Blade Runner também existe o grande dilema de se apaixonar por uma mulher digital, que só pode consumar o amor carnal por vias questionáveis do ponto de vista ético. Com esse papel, a atriz cubana Ana de Armas afastou a desconfiança de não ser conhecida o suficiente em Hollywood para encarar um projeto dessa estatura.

O filme não é só exuberante visualmente. A trilha sonora de Hans Zimmer e Benjamin Wallfisch foi pensada para criar o clima e sensação de mistério, angústia e emoção que o enredo exige em praticamente todas as cenas. Assim como o trabalho de Vangelis foi crucial pro primeiro Blade Runner, nessa continuação a música é tão importante quanto os efeitos visuais e o roteiro. Poucas vezes ma história do cinema moderno uma trilha foi tão relevante.
Embora seja possível que Denis Villeneuve tenha feito diversas concessões em um filme que custou quase US$ 200 milhões, o resultado final prova que aos 50 anos o diretor de Sicario e A Chegada é versátil e tem recursos para se tornar o que ele já está bem proximo de ser: um dos maiores nomes dessa e da próxima década por trás das câmeras. A seguir, veja uma entrevista exclusiva de Jared Leto sobre o seu papel em Blade Runner 2049, onde ele fala sobre a preparação para o papel que originalmente foi pensado para David Bowie e conta as principais influências dele como músico e ator.