Cantora Claudya completa 50 anos de carreira, recorda parceria com D2 e comenta rivalidade com Elis: "Sofri com boicotes"
Cantora prepara pequena turnê pelo Brasil no segundo semestre de 2017
Pop|Helder Maldonado, Do R7

Para os mais jovens, Claudya é principalmente a voz que canta a introdução sampleada de Desabafo, sucesso de Marcelo D2 lançado em 2007. Porém, quem já passou dos 40, recorda dela como uma das cantoras mais importantes e versáteis da MPB das décadas de 70 e 80.
Completando meio século de carreira, ela vive uma fase de resgate desse período em shows que começaram a ser realizados em São Paulo no mês de julho. Com um típico trio de jazz, ela se apresentou no dia 3 com Marcos Valle no teatro J.Safra, com ingressos esgotados. Em breve, essas apresentações serão levadas para o Rio e também ampliados para um formato ao lado da filha, Graziela Medori, no Tupi or Not Tupi, em 20 de julho, e em 23 de agosto, no Teatro Gazeta.
As apresentações são como uma linha do tempo da história de Claudya, abrangendo o sucesso como integrante do programa O Fino da Bossa, a transformação em artista versátil e eclética nos anos 70 e o destaque como cantora ópera no espetáculo Evita, nos anos 80. Em entrevista exclusiva ao R7, Claudya esclarece a suposta rivalidade com Elis Regina e avalia o atual momento da música nacional.
R7 - Você tem uma obra focada em gêneros variados. Como foi decidir que o seu caminho como cantora era esse?
Claudya - Comecei minha carreira com nove anos no Rio e com 17 vim para São Paulo, onde me tornei profissional. Sempre pensei que o que faço não pode ser efêmero. Eu gravava coisas muitas boas e coisas que eram vanguarda pra época. Os críticos achavam que eu deveria ter um estilo. E eu não tinha estilo, porque cantava de tudo. Fui a primeira a ser assim. Gravei bossa, jazz, blues, rock e samba. Trabalhei com Dom Salvador, Hermeto Paschoal, Zimbo Trio, Gilson Peranzetta, Ivan Lins.
Sua discografia não foi relançada ainda. Pensa em reeditar esses trabalhos?
Claudya - Minha discografia ainda está presa às gravadoras, mas eu penso em requisitar isso. Quero ter os discos para lançar novamente, nem que seja em edições pequenas.
Nos anos 90, você e outros nomes dos anos 70 praticamente sumiram. Por que isso aconteceu?
Claudya - A música e o mercado mudaram naquele período. Nos anos 90, as gravadoras mostraram grande desinteresse pela MPB. Ficamos na independência e à margem da indústria. Eu nunca parei, mas sem o respaldo da indústria, todo mundo perdeu espaço para o axé, sertanejo e rock.

R7 -Você está completando 50 anos de carreira. O que pretende lançar para comemorar?
Claudya - Meu irmão escreveu um livro sobre a minha carreira e está praticamente pronto. Deve ser lançado neste ano. Mas também quero lançar minhas memórias.
R7 - A nova turnê é, de certa maneira, um show que resgata memórias da sua carreira?
Claudya - Fiz show no teatro J Safra com o Marcos Valle, onde eu conto minha história desde o fino da Bossa, passando pelos festivais dos anos 70, e a ópera Evita nos anos 80. E vou narrando isso. Então, sim, é um formato desse tipo, com piano, baixo e bateria.
R7 -Existe a lenda de que você e a Elis eram rivais. É verdade?
Claudya - O Boscoli era um marketeiro. Era terrível. Tinha visão do marketing e perspicácia jornalística para gerar notícias. Ele que bolou essa intriga entre a Elis e eu. Ele fez isso quando o Fino da Bossa perdeu espaço para a Jovem Guarda. Era uma forma de recuperar o sucesso de outrora. E a Elis liderava esse movimento. Então ele queria me transformar numa rival dela, para gerar assunto. Apesar de não ser real, sofri com boicotes, porque os fãs acreditaram. Rolou a hostilidade. E eu tava só começando minha história. Mas superei. Só que foi difícil. Lutei sozinha contra uma máquina.
R7 - O que você ouve de música atual?
Claudya - Eu não ouço o que toca na rádio. Sinceramente, não tenho expectativas positivas. E não gosto do que ouço.

R7 - Apesar do sucesso que você teve, poucos sabem da vida privada
Claudya - Eu não permiti essa invasão de privacidade. Sempre gostei de ter minha vida pessoal, ir ao supermercado. Quando você começa a se esconder, é pior. O melhor é assumir a personalidade individual. Até escolhi São Paulo porque é muito mais fácil ser anônimo por aqui.
R7 - Quando você atuou na ópera Evita, no início dos anos 80, tinha noção de que o formato musical seria tão importante como é hoje?
Claudya - A ópera Evita foi pioneira no teatro musical de grande produção no Brasil. Antes, nem tínhamos cantoras com capacidade para assumir uma tarefa com essa. Hoje existe uma indústria toda baseada nisso e Evita com certeza foi importante para isso.
R7 - Para o público mais jovem, você é a cantora que está na introdução de Desabafo, do Marcelo D2. No que essa exposição ajudou na sua carreira?
Claudya - Muita gente jovem me conhece por causa do sampler de Deixa eu Dizer, que Marcelo D2 fez na música dele. Estourou. Eu não acreditei naquilo. Isso foi muito interessante, porque a nova geração passou a me conhecer. Eles passaram a pesquisar mais sobre meu trabalho. Gravei com ele naquela época. E ele resgatou o Marcos Valle, Ivan Lins, compositores dos anos 40. Marcelo teve responsabilidade nessa pesquisa séria em seus discos solo.