Com elenco poderoso de Hollywood, Interestelar é mais do que um filme de ficção científica
Matthew McConaughey e Anne Hathaway são destaques do longa, que apela para emoção
Pop|Ana Paula de Freitas, do R7

Um dos filmes mais aguardados de Hollywood em 2014, Interestelar é um épico que provoca reflexão e deixa o espectador meio desnorteado após deixar a sala de cinema. Parte disso se deve às quase três horas de duração do filme, mas seria injusto não dar créditos à história escrita por Christopher Nolan e seu irmão, Jonathan.
Diretor de grandes sucessos como A Origem e Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge, Nolan engaja o espectador na ficção científica que, além de ter efeitos especiais impressionantes, abre o espaço para discutir o espaço do amor na ciência. Soa piegas e, em alguns momentos, é mesmo.
Em um futuro não tão distante, a Terra entra em colapso com a escassez de recursos naturais e se transforma em um lugar inóspito, com nuvens de poeira constantes, que varrem diariamente a esperança de um futuro da raça humana. E é neste cenário que Matthew McConaughey dá vida ao protagonista Cooper, um engenheiro viúvo e pai de dois filhos, que virou fazendeiro e planta milho para subsistência, assim como grande parte da população.
Recrutado pelo cientista Dr. Brand (Michael Caine), Cooper recebe a missão de pilotar uma nave da NASA para encontrar um novo lar para a humanidade, que será extinta caso continue por mais tempo na Terra. Ele embarca nessa com a filha do cientista, Amelia Brand (Anne Hathaway), Romilly (David Gyasi) e Doyle (Wes Bentley). Viúvo e pai de Tom (Timothée Chalamet) e Murph (Mackenzie Foy), Cooper hesita, mas acaba aceitando o desafio.
Apaixonada por ciência assim como Cooper, Murph não se conforma com a partida dele e rouba a cena em momentos decisivos. Mackenzie Foy, de 13 anos, inclusive, é um dos destaques do filme. E é justamente a relação entre Cooper e a filha Murph que conduz o filme, que não é apenas sobre o futuro da humanidade. Ele promove uma reflexão sobre as nossas atitudes frente a problemas desafiadores como esse. Até que ponto você está disposto a perder para o bem da humanidade?
Matthew McConaughey, mais uma vez, justifica o Oscar de melhor ator com um desempenho impressionante. O ator transmite uma emoção genuína, que deixa qualquer um com os olhos marejados, e você acaba esquecendo o que está em jogo ali — só o futuro da Terra, né?
Praticamente uma aula de física, o filme fixa sua trama na relação entre tempo, espaço e gravidade. E a relatividade do tempo é o tema recorrente de Interestelar. Uma hora em outra galáxia, por exemplo, corresponde a sete anos na Terra. Jessica Chastain, indicada ao Oscar de melhor atriz, assume o posto de Murph, que se transformou no braço direito de Dr. Brand, idealizador da missão de Cooper e companhia.
E o desespero de Cooper por perder a vida dos filhos é latente, agoniante, emocionante.
Mais uma vez, parabéns para McConaughey, que não exagera no drama e transmite a emoção na medida certa. Destaque para a cena em que o piloto assiste a mensagens dos filhos, armazenadas ao longo de 23 anos.
Em alguns momentos, porém, o discurso piegas ganha espaço até demais.
A personagem de Anne Hathaway, por exemplo, faz um monólogo sobre a origem do amor, dissecando o sentimento que seria mais uma força gravitacional. A intenção é boa, mas ficou exagerado e meio fora de contexto.
A trilha sonora de Hans Zimmer conduz o espectador ao longo do filme, forçando a mão no suspense e aumentando a agonia em momentos decisivos. Hans, porém, soube a hora de se abster e aproveitar o vazio, a ausência total de som, em cenas no espaço para criar ainda mais tensão. A fotografia é impecável, promovendo cenas impactantes tanto no espaço quanto na Terra.
Com muitas reviravoltas, o espectador fico preso na história. Solidariza-se do drama de Cooper, preocupa-se com o futuro da Terra, tenta decifrar o que todos aqueles termos físicos significam e, nesse turbilhão de pensamentos, não percebe que já se passaram três horas de filme. É a tal da relatividade de Newton.
Interestelar, que dividiu a opinião da crítica internacional, ainda é uma das apostas para a temporada de premiações no começo de 2015. O filme chega aos cinemas na próxima quinta-feira, dia 6 de novembro.