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Com Gabriela Duarte e Marcelo Faria, Ninguém Ama Ninguém Por Mais de Dois Anos discute desejo e traição

Baseado na obra de Nelson Rodrigues, longa é primeira experiência de Clovis Mello no cinema

Pop|Helder Maldonado, Do R7

Gabriela Duarte interpreta Elvira em um dos contos
Gabriela Duarte interpreta Elvira em um dos contos

Nelson Rodrigues teve uma parte considerável da sua obra explorada na TV, mas ainda são poucas as histórias do escritor adaptadas para o cinema. Foi com a intenção de preencher essa lacuna, que o diretor publicitário Clovis Mello fez sua estreia no cinema.

A princípio, a intenção era refilmar O Casamento (1975), de Arnaldo Jabor. Mas Nelson Rodrigues Filho o forçou a ser mais ousado e optar por levar às telonas cinco histórias de A Vida Como Ela É que nunca haviam sido adaptadas em projetos audiovisuais: Coroa de Orquídeas, Rainha de Sabá, Despeito, Infidelidade e Vendida.

Esses contos compõem o filme Ninguém Ama Ninguém Por Mais de Dois Anos, com estreia prevista nos cinemas em 19 de novembro. Basicamente, o projeto traz cinco curta-metragens ambientados na década de 60 . Porém, a forma de contar as histórias foge do convencional, já que os contos se intercalam durante o filme, sem que o resultado final fique confuso. Um restaurante funciona como ambiente comum a personagens de todas as tramas.

- Muitos atores nem se encontraram nos sets de filmagem durante as gravações. Separei a montagem por núcleos, mas usei o mesmo padrão de fotografia durante todo o projeto, para que não houvesse a sensação de ruptura no desenvolvimento.


Para o elenco desse projeto, Clovis resolveu escalar um elenco que traz atores pouco conhecidos e nomes consagrados que não estão saturados nos cinemas, como Gabriela Duarte, Marcelo Faria, Ernani Moraes, Michel Melamed e Luana Piovani, em uma pequena participação.

- O elenco não foi escalado por simpatia ou coleguismo. Nesse filme queríamos escolher atores adequados para os personagens e eu não me arrependi disso. Não conhecia o Marcelo ou a Gabriela, por exemplo. O mercado tem uma necessidade de venda e divulgação a todo custo, mas o elenco não pode ser fraco. Vemos muito filmes com atores que vendem ingressos, são famosos na internet e amigos dos diretores, mas que não se encaixam nas histórias.


Além dessa opção pouco comum no cinema nacional atual, o filme também se diferencia por ter sido financiado majoritariamente por recursos próprios. Raul Dória, produtor do projeto, revela que 70% dos custos saíram dos cofres da Cine, que já realizou quase dois mil comerciais para TV, sendo 110 apenas para as sandálias Havaianas. O restante veio de leis de incentivo e patrocínio de empresas que mantinham longas parcerias com a produtora em peças publicitárias. O orçamento para este filme de época, porém, não foi revelado.

Infidelidade permeia o filme, baseado em Nelson Rodrigues
Infidelidade permeia o filme, baseado em Nelson Rodrigues

- Geralmente, o patrocínio é captado e só depois o filme é rodado. Nós fizemos totalmente diferente do que prega a cartilha do mercado. Gravamos o projeto inteiro antes de irmos atrás de incentivos. Optamos por agir assim para não ter interferências externas nesse nosso primeiro projeto para o cinema.


Discussão moral, política e sexual

Como é comum na obra de Nelson Rodrigues, Ninguém Ama Ninguém Por Mais de Dois Anos levanta questionamentos morais sobre o modo de vida do brasileiro. E embora as histórias tenham mais de 50 anos, elas ainda são bastante atuais. Temas como feminismo, patriarcado, papel do casamento na sociedade moderna e fidelidade continuam sendo amplamente discutidos até hoje.

Gabriela Duarte, que atualmente faz um intercâmbio cultural morando em Nova York, comenta que Elvira, sua personagem no conto Infidelidade, é a prova de que a mulher sempre quis ser livre e dar vazão aos próprios instintos, mesmo no passado.

- Ela cumpre com as obrigações de mãe, mas tem desejos, o que é muito moderno e vanguardista. Não pode ser julgada como uma pecadora. Ela é libertária. Nelson entendia muito bem a alma da mulher já naquele tempo.

Já o interesse financeiro nos relacionamentos é abordado no conto Rainha de Sabá, que traz Marcelo Faria como um suburbano carioca que se apaixona por uma moça da alta sociedade. Mas apesar de toda riqueza que os cerca, falta amor entre os dois, o que resulta em uma relação disfuncional.

- Quem tem o poder financeiro numa relação muitas vezes oprime o parceiro. É assim até hoje. É difícil equilibrar os sentimentos nesses casos. Temos muito o que aprender.

Clovis Mello em set de filmagem com Marcelo Faria
Clovis Mello em set de filmagem com Marcelo Faria

Outra discussão levantada pelo projeto surge logo no título. Afinal, ninguém ama ninguém por mais de dois anos ou é impossível comprovar essa afirmação do escritor? O diretor Clovis Mello garante que talvez Nelson Rodrigues queria se referir à paixão, essa sim fugaz e com prazo de validade determinado.

- Além disso, acredito que o amor é impossível de ser prolongado. Quando ele acaba, não tem retorno. Um casamento pode ser prolongado por várias conveniências, o amor não.

O elenco ressalta que, ao contrário de muitas histórias de Nelson Rodrigues, já não é necessário manter relacionamentos por aparências e estar cercado de infidelidade e ressentimento. Na visão de Clovis, a sociedade brasileira está bem melhor resolvida nesse sentido, mesmo que isso tenha resultado em “amores líquidos” e relacionamentos cada vez menos duradouros.

- Nelson era um radiologista da alma do brasileiro. Ele consegue investigar o fim dos sentimentos. Muitos casamentos que duraram 50 anos no passado foram mantidos sem amor, por conveniência. Hoje não existe quase mais isso.

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