Dos criadores de Matrix, O Destino de Júpiter é divertido, despretensioso e esbanja criatividade
Com muita ação e bastante carisma, ficção científica é ótimo entretenimento
Pop|Felipe Gladiador, Do R7







Desde que Matrix arrebatou o mundo do cinema, conquistando público e crítica, os apaixonados por ficção científica mantêm os olhos sempre atentos para cada novo trabalho dos Irmãos Wachowski. Diretores, roteiristas e produtores, os americanos Lana e Andy são unanimidade quando o assunto é a genialidade da história de Neo, considerada um dos marcos do cinema recente, mas dividiram opinião com seus filmes seguintes, como Speed Racer e A Viagem.
Nesta quinta-feira (5), a nova aposta dos Wachowski chega às telonas. Protagonizado por Mila Kunis e Channing Tatum, O Destino de Júpiter é mais um épico tecnológico, mas vale avisar desde já: não estamos diante do "novo Matrix". E isso não é exatamente uma coisa ruim.
Na trama, a jovem Júpiter Jones (Kunis) mora com sua enorme e barulhenta família, acorda muito cedo todos os dias, trabalha como faxineira, ganha pouco e não está nada feliz com a vida que leva. Até que um dia ela descobre que é, simplesmente, "herdeira" do planeta Terra. É que uma espécie de família real das galáxias está interessada em ter o controle do nosso planeta, por isso os três irmãos herdeiros do trono vão atrás de quem comandaria o local e se deparam com Júpiter. Um destes irmãos contrata então o soldado licomutante, mistura de lobo e humano, Caine (Tatum), com a missão de raptar Júpiter e obriga-la a se desafazer de seu poder sobre o mundo, assinando um contrato.
A partir daí, a porrada come solta, com naves, tiros, perseguições e efeitos visuais de encher os olhos. E não pense que é aquele tipo de ação em que as coisas acabam rapidinho, não. Uma sequência de perseguição com naves espaciais na cidade americana de Chicago faz qualquer um perder o fôlego, porque tem uma extensa e empolgante duração. Algumas cenas lembram as batalhas espaciais de Star Wars, e quem gosta do trabalho dos Wachowski sabe que eles amam referências culturais.
Só que, apesar de vermos um pouco do que os influencia, os irmãos trabalham aqui com uma história escrita, produzida e dirigida por eles. Neste momento, o cinema vive uma enxurrada de adaptações de quadrinhos, livros e biografias, portanto a ficção original é explorada por poucos como os Nolan, que criaram o sensacional Interestelar no ano passado, e os próprios Wachowski.
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Por criarem todo um universo, os irmãos têm possibilidades infinitas para explorar e isso torna O Destino de Júpiter rico em mitologias, novas criaturas, tecnologias e muito mais (os patins flutuantes usados por Caine são incríveis, por exemplo). Dessa forma, eles também abordam assuntos variados de maneiras bem inovadoras, como a reencarnação, que eles chamam de “recorrência genética”, como se o DNA de uma pessoa fosse, de fato, imortal.
Algumas cenas parecem forçadas ou nonsense demais, mas esse é o jeito de trabalhar dos Wachowski, que adoram apostar na fantasia, no surreal, enquanto muitas superproduções buscam explicar cada passo, justificar as suas “viagens”, entregar seus conteúdos mastigados ao público. Os céticos, ou simplesmente aquelas pessoas que falam “ah, mas isso é impossível”, mesmo sabendo que se trata de um filme de ficção, não tem vez. Com os Wachowski, você não compra gato por lebre, você está diante de uma divertida produção fantasiosa e ponto. E isso não quer dizer que as coisas aconteçam no filme sem sentido, elas fazem sentido dentro daquele universo, dentro daquilo que foi criado.
E para aqueles que querem um “toque de realidade”, existe espaço para o romance, por exemplo. Kunis e Tatum não tem muito espaço para desenvolver seus personagens, já que o número de informações é grande e a ação praticamente não para, mas como são ambos muito carismáticos, conseguem conquistar. O destaque, no entanto, fica para o favorito ao Oscar deste ano, o britânico Eddie Redmayne, que está sendo bastante elogiado por A Teoria de Tudo. Ele é o grande vilão e se encaixa perfeitamente em todo o “circo espacial". Com trejeitos bem exagerados, postura e discursos de vilão tradicional, ele poderia até cair na caricatura, mas sabe equilibrar tudo e entrega uma ótima performance. Redmayne não se contém e é isso que faz seu personagem ser tão legal, porque ele simplesmente combina com toda a trama hiperbólica. Mais, nesse caso, é mais.
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E o filme também tem humor, mas nada tão escrachado. Em uma das cenas mais engraçadas, por exemplo, Júpiter precisa enfrentar toda uma burocracia que para realmente assumir seu posto como comandante da Terra. São inúmeros formulários, setores, funcionários que não sabem informar nada direito, uma sacada bem legal.
Aos que buscam o “novo Matrix”, pode rolar uma decepção, mas é preciso entender que as propostas são realmente diferentes e que Matrix é um filme único, em toda a sua complexidade. O Destino de Júpiter é divertido, despretensioso e, mesmo assim, consegue falar de temas que chamam a atenção, como tempo, genética e os mistérios que estão além da compreensão humana. O que algumas pessoas precisam entender é que “tudo bem” os Wachowski apostarem em coisas diferentes, em tons diferentes. No fundo, O Destino de Júpiter bebe da mesma fonte de criatividade que Matrix, é apenas seu tom (mais leve) e sua execução que são distintos. Os Wachowski vão continuar a explorar a ficção de maneiras que poucos teriam coragem de fazer e é isso que os torna tão interessantes e que, mesmo com alguns erros aí no meio do caminho, faz nossos olhos continuarem atentos aos próximos passos, ou viagens interplanetárias, que eles darão.
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