“É difícil, mas estamos na luta”, diz diretor de animação brasileira indicada ao Oscar
Alê Abreu, que ganhou elogios de diretor de Divertida Mente, acredita em O Menino e o Mundo
Pop|Ana Paula de Freitas, do R7

“A Justiça foi feita”. Esse foi o sentimento que tomou conta do diretor Alê Abreu ao descobrir que O Menino e o Mundo é um dos concorrentes ao Oscar de Melhor Animação.
A um mês da premiação — e do tão aguardado veredicto —, o diretor se divide entre entrevistas e a campanha incessante para promover ainda mais o longa-metragem nos Estados Unidos, terra dos críticos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
"Passamos de 20 para 100 salas nos Estados Unidos desde o anúncio do Oscar. Se existe essa chance de vencermos, temos que fazer O Menino ser visto", contou Alê Abreu.
Com um misto de ansiedade e nervosismo, o diretor tenta explicar o que aconteceu com ele nas últimas semanas. Apesar de aliviado com a indicação, a paz de espírito para colocar a casa — e a cabeça — no lugar ainda não veio.
“Estou tentando manter os pés na Terra para a gente encontrar o melhor caminho para promover o filme”, desabafou Alê.
Aos 44 anos, o diretor já tinha ganhado notoriedade com Garoto Cósmico (2007), mas entrou no radar dos críticos para valer com O Menino e o Mundo (2014). A história do garoto de camiseta listrada que se aventura para ir atrás do pai na cidade grande é universal, tanto que nem precisa se passar neste país, continente ou planeta. A mistura de texturas e o traço feito à mão são onipresentes no filme, transportando os espectadores para o mundo daquele menino, que nem terráqueo é e ainda assim representa a evolução/destruição do homem com tanto realismo.
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Concorrendo com figurões como Divertida Mente, da Pixar, O Menino e o Mundo se destaca por sua simplicidade cheia de nuances, que obrigam o espectador a refletir. A ausência de falas requer o dobro de atenção, a trilha sonora envolve. E o menino arrebata corações de milhares de fãs no mundo todo. Até mesmo o diretor de Divertida Mente, Pete Docter, se rendeu a ele. “Recebi um e-mail dele nesta semana elogiando o filme, mas não vá colocar isso na manchete para ele não ficar chateado, hein? [risos]”, confidenciou Alê.
Em entrevista ao R7, Alê Abreu contou detalhes de O Menino e O Mundo e o que aguarda do futuro. Confira abaixo:

R7: Qual é a sensação de concorrer ao Oscar?
Alê Abreu: Olha, não sei explicar... Estou muito feliz e muito grato por tudo que tem acontecido na minha vida. Não consegui parar desde o anúncio da indicação. Não consigo ter a paz para saber o que realmente sinto com isso. Estou tentando manter os pés na Terra para a gente encontrar o melhor caminho para promover o filme e fazer ele ser visto nos Estados Unidos.
Queremos que o filme seja visto, porque sabemos que muitos críticos da Academia acabam nem vendo os concorrentes. Se existe essa chance, estamos vivos na competição. É difícil, mas estamos na luta. A ideia é que a gente consiga colocar em todas as salas de cinema possíveis. O Menino já rodou 90 países e passou de 20 para 100 salas nos Estados Unidos desde o anúncio.
R7: Qual foi a primeira coisa que passou na sua cabeça quando recebeu a notícia?
Alê Abreu: Estava sozinho na hora, não tinha ninguém para abraçar. Foi um sentimento de "a justiça foi feita". O nosso filme dá outra voz para a animação. Foi um grande alívio... Alívio porque a justiça foi feita.
R7: A indicação de OMenino e o Mundo abre caminho para outros animadores?
Alê Abreu: Acho que abre o caminho, sim. Porque as pessoas têm essa mania de dizer: “Se tá no Oscar é porque deu certo e as pessoas vão querer copiar”. Mas tem muitos filmes bons no circuito underground, conheço animadores que nem pensam em sair desse meio por pensar que não "darão certo". O Menino nasceu underground, mas chegou ao auge agora. É natural que se volte uma atenção especial a ele. Dá para outros animadores a oportunidade de olhar de uma maneira diferente para o trabalho deles. Faz com que eles tenham a esperança de “dar certo”.
R7: Você acha que a indicação do Menino faz os grandes estúdios prestarem atenção em filmes diferentes dos deles em todos os sentidos?
Alê Abreu: Acho que sim. É engraçado, porque o diretor de Divertida Mente me mandou um e-mail agora há pouco, fiquei muito feliz. Ele me disse que viu o filme e gostou bastante, que é um filme maravilhoso. Fiquei surpreso com a atitude dele e de poder viver esse momento. Achei uma atitude muito bacana dele.
R7: Vc já disse que inicialmente O Menino e o Mundo seria um documentário sobre a América Latina. Como ele se tornou o que é hoje?
Alê Abreu: Foi acontecendo... Partiu da América Latina e foi tomando corpo, se distanciando até desse planeta. O bom disso é que tivemos uma liberdade imensa para criar esse outro universo. O filme é fabuloso no sentido real da palavra, ele leva o mundo das fábulas para as telonas. É um jeito de ver o mundo de outra maneira, permitindo ter vários entendimentos por ser feito em camadas com técnicas diferentes e que remetem à nossa infância. Ele atinge pessoas de 2 a 100 anos.
R7: Como encontrou o menino?
Alê Abreu: Encontrei o menino pronto, num cantinho de um caderno. Estava passando por anotações antigas e me deparei com ele. Me chamou a atenção, queria contar a história dele. Ele me instigou mais do que todo o material que tínhamos da América Latina; com ele, eu teria mais liberdade para criar sem a carga histórica. Mal sabia eu que o menino carregaria todo o peso da história da América Latina nas costas. Ele deu outro olhar para a história de repressão, de ditadura, dos problemas crônicos que vivemos. E ele é a antítese do documentário. É épico, de certa maneira.

R7: Como o filme não tem falas, a trilha sonora é essencial. Como se deu a criação dela?
Alê Abreu: O canto latino já teria poucos diálogos e seria contado pela música, então O Menino herdou isso. Foi um trabalho muito exaustivo. Partiu da união de muita gente, com a ajuda essencial dos diretores musicais Gustavo Kurlat e Ruben Feffer. Gosto, particularmente, de participar da escolha da trilha, amo estar próximo dessa seleção. E, especialmente neste filme, a trilha é a linguagem. Com os Barbatuques e o GEM (Grupo Experimental de Música), montamos músicas que se transformavam em sensações, emoções do menino, dando o tom de cada cena. Não foi fácil criar todas essas relações, mas conseguimos.
R7: A única música em português é Aos Olhos de uma Criança, de Emicida. De que maneira ele chegou ao projeto?
Alê Abreu: No início, não tínhamos o nome do Emicida. Queríamos uma música de protesto para encerrar o filme como uma maneira de trazer as pessoas de volta para a Terra. Uma espécia de despertador: a fábula acabou. Pensamos em quem é a voz do protesto hoje em dia e o nome do Emicida veio na hora. Não tem como ser outra pessoa. Fizemos o convite, ele assistiu ao filme e, uma semana depois, nos entregou a música.
R7: A única linguagem, além da trilha, é o português invertido em algumas passagens. Por quê?
Alê Abreu: Inicialmente, o filme tinha alguns diálogos em português e, quando mostramos para o distribuidor, ele disse: “Por que vocês não assumem que o filme é universal e tiram os diálogos?”. Só que eu sentia a necessidade dessas seis passagens, não queria abrir mão delas. Então, criamos a ideia de inverter o idioma para manter a característica universal do filme.
R7: Depois da indicação do filme ao Oscar, ele voltou a algumas salas de cinema, principalmente de arte, mas ainda assim não está nos grandes circuitos comerciais. O que você acha disso?
Alê Abreu: Ninguém abraçou o filme. Nem com a indicação ao Oscar O Menino e o Mundo entrou para as grandes redes populares, como Cinemark e companhia. Continuamos com uma barreira intransponível no setor comercial. Como pode?

R7: Qual foi o maior desafio de O Menino e o Mundo?
Alê Abreu: O maior desafio da produção do filme, sem dúvidas, foi encontrar a equipe ideal para embarcar nessa comigo. Agora, meu maior desafio foi me manter conectado àquele Menino, não perder aquele fio, me manter ligado naquela faísca inicial. É o primeiro filme que consegui ficar feliz por não ter perdido isso. Estou feliz com o que produzi pela primeira vez na minha carreira. É o primeiro “alívio” em 31 anos de trabalho. Sensação de missão cumprida.
R7: Já consegue pensar na sua vida pós-Oscar, independente do resultado?
Alê Abreu: Não consigo, vai além da minha capacidade. [risos]. Agora estou muito envolvido com toda a campanha.
R7: Acha que vai vencer?
Alê Abreu: Quero acreditar. Sei da nossa realidade, mas tenho que acreditar que vamos vencer.
R7: Antes do anúncio, você já estava envolvido em outro projeto. Agora ele está "largado"?
Alê Abreu: Tive que deixar de lado, mas estou louco de vontade de mergulhar nessa nova história. O nosso filme se chama Viajantes do Mundo Encantado. São crianças da realeza rivais, obrigadas a conviver juntas numa selva. Elas são rivais de verdade. Ao mesmo tempo em que elas querem se matar, precisam conviver juntas para sobreviver. Vira e mexe, dou um jeito de pegar o roteiro e dar aquela olhadinha, só para matar a vontade.
R7: O Oscar não é seu objetivo final ao fazer um filme, né?
Alê Abreu: Não. O Oscar não é o que me encanta, é a história, é criar e viver essa história. Essas premiações, esse glamour... Não é o que almejo. E tem muita gente por trás, fazendo campanha... Virou algo que não é a minha.
R7: Independente do resultado do Oscar, você se sente pressionado para seus próximos trabalhos?
Alê Abreu: Até agora, não. Um filme é diferente do outro. O que eu posso dizer é que o coração do Menino está vivo nesse projeto.
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