Especialista em língua de sinais se emocionou com o filme Os Dez Mandamentos
Erika tem uma escola em Mogi das Cruzes que atende a deficientes
Pop|Do R7

O filme de Os Dez Mandamentos é um grande sucesso nos cinemas e conquista uma legião de fãs. A especialista em Língua Brasileira de Sinais e dona do Centro Educacional de Cursos Livres Paratod@s, Erika Karen Barbosa, assistiu ao filme três vezes para realizar o projeto de uma sessão inclusiva na cidade de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo.
Aos 13 anos, ela aprendeu o básico dos sinais em libras com uma voluntária que ensinava a comunicação por sinais para moradores em situação de rua surdos.
— Eu senti a necessidade de ajudar as pessoas. Comecei aprendendo com uma missionária e depois fui fazer alguns cursos por conta própria.
Em 2010, haviam 70 surdos cadastrados na rede estadual de ensino na cidade de Mogi das Cruzes, porém, não tinha nenhum intérprete de libras.
— Eu fiz o que pude para ajudá-los e, então, idealizei um curso para formação de educadores. Fui a pioneira com duas salas que tinham 52 alunos ouvintes (que aprenderam a língua de sinais e depois viraram professores na rede de ensino).
As aulas para a formação de professores em libras foi uma parceria com a Tradef (Trabalho de Apoio ao Deficiente), que durou cinco anos.
A luta para melhorar o atendimento aos deficientes da cidade levou à criação do centro educacional, em abril do ano passado. Lá são oferecidas aulas de libras, braile, inglês para surdos e preparação para o trabalho. A escola também tem uma programação de oficinas para formação de profissionais e professores que vão atender autistas, deficientes físicos e crianças com déficit intelectual.
A ideia de preparar uma sessão acessível do filme Os Dez Mandamentos foi inspirada nos encontros que Erika promovia em casa para os amigos surdos e cegos.
— Quando os filmes estão em cartaz existe uma dificuldade muito grande, porque não existe a "janela" com a linguagem em libras e, muito menos, a audiodescrição para os deficientes visuais. Então a gente esperava o filme sair em DVD e fazia uma reunião na minha casa. Como o filme Os Dez Mandamentos conta uma história rica e muito importante, eu pensei em inovar e levar a iniciativa para dentro de uma sala de cinema.
Erika viu o filme três vezes para preparar a apresentação em libras para os surdos. Com a ajuda de voluntários, que se sentaram ao lado deles, os cegos tiveram a experiência da audiodescrição ao vivo.
A especialista em língua de sinais tem bastante experiência na tradução de eventos ao vivo, porém, o filme trouxe dificuldades extras.
— Fiz, por muito tempo, a interpretação dos cultos na igreja ao vivo. Lá, a gente olha o pastor e vai acompanhando a palavra. No filme, a situação é um pouco mais complicada porque precisa ficar de costas para a tela. A única referência é o áudio e sem ver a cena é difícil interpretar, por isso, fiz uma preparação vendo o filme três vezes e anotando a sequência da narrativa.
Na primeira vez, Erika se emocionou com a história.
— Chorei. Algumas palavras eu nem conseguia anotar, porque estava profundamente tocada pelo filme.
A professora elogiou a grandiosidade da obra, principalmente pela ideia de colocar Josué como narrador da história. " Foi magnífica. Porque ampliou o conhecimento do cego por intermédio desta narração", disse.
— A riqueza de detalhes e o capricho da produção não deixa nada a desejar em relação aos filmes estrangeiros. É um orgulho muito grande saber que o Brasil é capaz de fazer algo tão bom.