Inteligente e intenso, Jogos Vorazes: A Esperança — O Final comprova que saga é uma das melhores já feitas
Abordando temas sérios e atuais, último filme da franquia
Pop|Felipe Gladiador, Do R7




Uma garota que se oferece voluntariamente para participar de um massacre só para salvar a irmã mais nova e acaba se tornando símbolo da revolução contra um governo opressor. Este é o resumo da história de Katniss Everdeen, uma das personagens mais poderosas do mundo da ficção moderna. A protagonista dos livros e filmes Jogos Vorazes é autêntica, determinada, indomável, poderosa e também frágil ao mesmo tempo. É fugindo dos clichês e dos exageros que a autora Suzanne Collins criou uma personagem tão cheia de nuances e, dessa forma, tão verdadeira. Katniss também consegue escapar dos estereótipos sexistas comuns em muitos filmes e é uma mulher real, com alegrias, tristezas, desejos, medo e coragem para lutar por aquilo que acredita. E só o fato de termos uma personagem feminina de tanto destaque, com papel de tamanha importância, já é algo a ser comemorado em um mundo que ainda enfrenta muito machismo.
Nesta quarta-feira (18), chega aos cinemas Jogos Vorazes: A Esperança — O Final, última parte da adaptação cinematográfica da saga de Katniss. Cada vez mais madura diante das tragédias e dificuldades da vida, a heroína aqui fica cara a cara com seu maior inimigo: o ditador Snow, vivido com maestria por Donald Sutherland, que faz um vilão que assusta sem precisar se exaltar ou elevar a voz. No entanto, é Jennifer Lawrence que rouba a cena mais uma vez, mostrando todos os lados de Katniss ao longo do filme. Mesmo que esta seja a quarta parte da história, a atriz consegue impressionar novamente com seu talento. Como Katniss é sempre movida pelos acontecimentos, suas reações falam tanto quanto qualquer frase de efeito. E Jennifer entrega brilhantemente as emoções mistas dela.
O fim de uma saga costuma ser sempre explosivo, em todos os sentidos. Como tudo é feito em maiores proporções, com doses mais altas de cada elemento, fica o desafio de equilibrar todas as coisas, para evitar uma possível bagunça. A Esperança — O Final conta com uma ou outra cena que dão uma balançada no clima ágil, mas nada que atrapalhe tanto. Uma das coisas que incomodam é a cena final que, mesmo sendo fiel ao livro, parece um pouco forçada. No geral, o diretor Francis Lawrence consegue orquestrar muito bem as cenas de ação, os momentos de mistério, a alta tensão e os diálogos decisivos para o desfecho.
7 coisas que todo fã vai sentir ao assistir Jogos Vorazes: A Esperança — O Final
Os efeitos especiais continuam excelentes e algumas cenas, como as que se passam no subterrâneo, são de tirar o fôlego. Como Snow colocou todo o seu exército atrás de Katniss e montou armadilhas cheias de criatividade (maligna, claro) para impedir que os rebeldes cheguem à Capital, são as cenas de ação que guiam o tom do filme, mas também há espaço para muita emoção com cenas fortes de violência e repressão, que nos remetem a acontecimentos reais, e também com a morte de personagens queridos pelos fãs.
No entanto, são mesmo os temas abordados que tornam Jogos Vorazes uma das melhores franquias já feitas. Distopia política com críticas bem ácidas, a história fala de ditadura, preconceito de classe, manipulação da mídia, sociedade do espetáculo e muito mais. Panem representa um governo tirano como muitos que ainda existem por aí, Snow é um extremista que vê no sacrifício de jovens inocentes para deleite das pessoas mais ricas uma forma de manter o medo, sentimento que o segura em sua posição, sempre vivo. A divisão da sociedade em distritos também é uma forte crítica às disparidades sociais, já que as pessoas da Capital vivem com luxos e extravagâncias, enquanto os outros cidadãos são privados de seus direitos básicos e passam necessidade.
Todo o conceito dos jogos faz lembrar a mídia que vê em tragédias verdadeiros espetáculos com elevados índices de audiência, mas é a ideia da propaganda como arma o conceito que mais desperta a atenção na série. Katniss é uma heroína do acaso. Ela nunca almejou ser uma líder revolucionária, muito menos um símbolo de esperança. Para ela, o que importa é salvar seus entes queridos. A maior parte dos atos de Katniss são instintivos por essa motivação. Ela naturalmente se torna uma arma para ambos os lados da guerra, mas na forma de imagem. No começo, a Capital queria aproveitar a popularidade da garota para continuar mantendo todos na linha, mas como ela é imprevisível e não se deixa controlar com facilidade, se tornou uma ameaça. É aí que os rebeldes percebem que Katniss é a peça que falta para motivar todos os distritos a se unirem e se revoltarem contra o sistema. Entra aí a construção de uma Katniss ideal por meio de vídeos, propagandas e até músicas. E a reflexão é ainda maior com a personagem Alma Coin, interpretada de maneira perfeita pela fenomenal Julianne Moore.
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Coin levanta a discussão sobre manipulação mais uma vez por mostrar suas reais intenções ao promover Katniss e derrubar Snow de seu posto. Insana, a personagem é a prova de que não existe “lado bom” ou “lado ruim”, assim desse jeito cru e direto. Numa guerra, política ou ideológica, todos os envolvidos têm seus interesses e é fácil fazer as pessoas acreditarem que há uma boa intenção, é fácil disfarçar uma atitude condenável como benevolente. É neste ponto que Katniss percebe que não dá mais para servir de instrumento para nenhum dos lados. A atitude certa a se tomar nem sempre é aquela que os outros querem ou esperam de você.
Jogos Vorazes: A Esperança — O Final fecha com chave de ouro uma saga brilhante. O grande mérito é falar de temas tão complexos num produto cujo público alvo é majoritariamente jovem e ainda garantir um ótimo entretenimento. E com uma heroína tão cheia de personalidade, a franquia ganha ainda mais importância e certamente é um marco nos cinemas. Vida longa ao legado de Katniss!
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