O fim do Black Sabbath nos faz crer menos na nossa própria existência
Banda se despediu de São Paulo em show para mais de 60 mil pessoas no Morumbi
Pop|Marco Bezzi, do R7

O ano de 2016 nos fez lidar com o fim de diversas maneiras. Com acidentes fatais, como o do trágico voo da Chapecoense, com a morte de personalidades tão distintas como Fidel Castro e David Bowie. Não querendo colocar um peso em cada um dos eventos, a despedida do Black Sabbath, que ocorreu no Estádio do Morumbi na noite de domingo (4), foi mais um daqueles momentos em que a mortalidade foi escancarada com som e cores bem definidas. A banda comandada por Ozzy Osbourne (vocal), Tony Iommi (guitarra) e Geezer Butler contou em 1h40 minutos a história do heavy metal. Pela última vez em São Paulo. A apresentação, debaixo de um temporal que castigou a zona sul da cidade, teve início com 5 minutos de atraso, às 20h35.
Assistir ao trio Ozzy, 68, Iommi, 68, e Butler, 67, nos faz sentir seguro e pertencente a algum lugar, nos coloca dentro de uma realidade que, no meu caso, moldou a maneira como eu encarei a vida através das músicas que ouvi crescendo. E se existiu uma banda responsável pela minha formação, o Black Sabbath está num dos pontos mais altos. A banda forjou um estilo, o heavy metal, e colocou a música pesada no topo do dicionário da música.
O som cristalino que saia dos falantes do Morumbi tanto amplificavam a destreza de Iommi, Butler e do baterista Tommy Clufestos, como a falta de voz de Ozzy. Enquanto a banda tocava em um tom, Ozzy parecia não se importar com a tonalidade de sua voz. A verdade é que há um bom tempo, Ozzy não acerta as notas e muito menos acompanha o blend musical que sai dos demais instrumentos. A única maneira, entretanto, de se despedir dos pais do metal é esta. E as mais de 60 mil pessoas que compareceram ao Morumbi não pareciam se importar com o desequilíbrio em cima do palco. Mesmo para quem assistiu à apresentação de 2013, do álbum 13, não reclanou do repertório similar. Desataque para After Forever e Dirty Women. E também para a banda de abertura, o Rival Sons, uma das melhores da nova geração.
O poder que emanava dos dedos de Iommi faziam vibrar o estádio em cada riff desferido pelo guitarrista, que se recuperou de um câncer linfático este ano. Desde a abertura de Black Sabbath, de 1970, até o fim, com Paranoid, do mesmo ano, as criações do inglês encobriam todo e qualquer desvio de rota de Ozzy. Mesmo um solo de bateria, algo tão anacrônico em 2016, funcionou debaixo de chuva.
Ozzy pouco falou com o público. Brincou com a chuva, sorriu para Iommy diversas vezes. A plateia ainda tentou puxar um grito de “força Chape” no fim do show – nas barracas de ambulantes fora do estádio, a camisa e bandeira do time catarinense disputava lugar entre as camisetas do Black Sabbath e do Guns N’ Roses.
O fim do show ganhou ares de despedida. Não teremos mais o Black Sabbath tocando ao vivo, compondo, desfilando seus riffs. A história, porém, vai guardar este momento para sempre. O epitáfio de Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler reestabeleceu pela ultima vez a ligação entre o homem e a música de uma das bandas mais influentes da história. Mais um rompimento de 2016. Que descansem em paz.

Repertório:
Black Sabbath
Fairies Wear Boots
After Forever
Into the Void
Snowblind
War Pigs
Behind the Wall of Sleep
N.I.B.
Rat Salad
Iron Man
Dirty Women
Children of the Grave
Paranoid