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Sarajane aponta crise no axé e dispara: "Não é mais um movimento, as pessoas só olham para o próprio umbigo"

Cantora fez sucesso no fim dos anos 1980 com a música A Roda

Pop|Ana Paula de Freitas, do R7

A axé music chegou aos 30 anos em crise. Depois do auge nos anos 1990, o ritmo perdeu espaço para outros gêneros populares, como sertanejo e funk, e hoje vive a um hit de Carnaval por vez. E nem a festa mais popular de Salvador passa por seus melhores momentos. 

Uma das precursoras do movimento no fim dos anos 1980, Sarajane enxerga o momento atual do axé com melancolia, mas sabe identificar o que deu errado.

Para a cantora de A Roda, os novos representantes do axé "olham só para o próprio umbigo", o que enfraquece o movimento em todo o País.

— O axé está dessa forma porque não houve a continuidade do movimento. Levei muita gente comigo. Trouxe Margareth Menezes, Chiclete com Banana, Zé Paulo... Levei eles e muitas outras pessoas comigo para o Chacrinha, que era muito meu amigo e dava esse espaço. Se a gente não levasse essas pessoas e formasse um movimento, não teria dado certo.


Para a cantora, falta união na nova geração do axé, que precisa repensar o que deu errado nos últimos anos.

— Não considero esses 30 anos como uma homenagem ao axé, mas como um momento balzaquiano mesmo, de parar e pensar para ver onde errou e onde podemos acertar. Temos que nos unir, nos ajudar. Tirar a vaidade e ajudar todo mundo a mudar essa realidade.


O Carnaval de Salvador, maior vitrine dos cantores da axé music, também se transformou ao longo dos anos. Duplas sertanejas e pagodeiros ganharam seus próprios trios, provocando um êxodo dos artistas do axé para outras cidades, principalmente no interior de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo.

Ivete Sangalo, por exemplo, se apresentará fora de Salvador no Carnaval pela primeira vez. A cantora se apresentará em Votuporanga, interior de São Paulo, na terça-feira (17).


Para Sarajane, isso reflete direta e negativamente na força da axé music.

— Aí chega agora e o Carnaval não vende. Não vende abadá, não vende camarote. O povo quer ver a manifestação cultural. Salvador perde muito com isso, baixou a guarda. Muitos artistas daqui estão indo tocar fora: Tatau, Márcia Freire, BamdaMel, que são pessoas que fizeram sucesso e parte do movimento. 

A cantora de A Roda ainda fez um paralelo com o Carnaval de Pernambuco, muito tradicional e cada dia mais forte no estado. Os blocos de rua gratuitos arrastam milhares de foliões pelas ladeiras de Olinda e atraem turistas, transformando a cidade num novo pólo carnavalesco do Nordeste. O Carnaval do estado, inclusive, bateu recorde de público em 2014, com mais de 1,3 milhão de foliões. 

Os valores absurdos do Carnaval de Salvador — um abadá custa em média R$ 400, enquanto o camarote gira em torno de mil reais — também têm espantado os amantes do axé. A baixa procura, porém, tem provocado uma enxurrada de promoções em sites especializados como Peixe Urbano e Groupon, que vendem camarotes privados a preços acessíveis.

A expectativa da prefeitura de Salvador é de que mais de 700 mil pessoas agitem o Carnaval de Salvador neste ano. 

Sarajane ainda avalia que o movimento cultural virou mera indústria em Salvador.

— Quando a manifestação cultural vira indústria, tem que tomar cuidado. A Bahia está perdendo a essência. E a culpa é nossa.

Projetos paralelos

Apesar do momento não ser tão favorável ao axé, Sarajane ainda é reconhecida por seu trabalho e se lembra com carinho daquela época.

— É um amor que passa de pai para filho. Tenho um público forte em Minas Gerais, Espírito Santo, Salvador também. 

Hoje em dia, Sarajane continua vivendo de música, mas deixou o axé um pouquinho de lado — bem pouco, já ela é a dona de uma rádio online, a Axé para Você, na qual divulga seu trabalho e o de outros cantores.

Em seu novo projeto, Cor de Canela, a cantora celebra o forró e lançará um novo álbum ainda em fevereiro, depois do Carnaval.

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