Wall-E completa dez anos: veja como o filme ajudou a prever o futuro
Animação que imagina um futuro distópico abordou temas bastante atuais como proteção do meio ambiente e consumismo
Pop|Helder Maldonado, do R7

Definitivamente, animação não é coisa de criança há muitos anos. Com o consistente crescimento da indústria cinematográfica nas últimas duas décadas, os títulos lançados neste segmento específico abrangem cada vez mais assuntos e abraçam públicos de todas as idades.
Um dos filmes nesse formato que mais agradou os adultos continua sendo Wall-E, da Pixar, lançado há dez anos. Com uma visão distópica sobre o futuro, o roteiro de poucas palavras discute temas como proteção ao meio ambiente, consumismo exagerado e desenvolvimento da tecnologia.
Com uma visão de questionamento, traz o objetivo de fazer o espectador refletir sobre o quão nocivo também é ter um mundo globalizado e tão desenvolvido.
Apesar da complexidade temática da produção dirigida por Andrew Staton, o filme foi extremamente bem recebido entre crítica e público. Se a Pixar chegou a ter dúvida sobre a abordagem mais madura em uma animação, a bilheteria mundial de meio bilhão de dólares para um orçamento cinco vezes menor provou que a ideia foi bastante bem-sucedida e acertada.

Wall-E ainda venceu o Oscar de Melhor Filme de Animação e foi indicado para Melhor Roteiro Original (Andrew Stanton, Jim Reardon e Pete Docter), Melhor Trilha Sonora (Thomas Newman), Melhor Canção Original (Thomas Newman e Peter Gabriel por Down to Earth), Melhor Edição de Som (Ben Burtt e Matthew Wood) e Melhor Mixagem de Som (Tom Myers, Michael Semanick e Ben Burtt) no Oscar 2009. A Walt Disney Pictures também tentou uma indicação para Melhor Filme, porém sem sucesso. A decisão provocou controvérsias e acusações de esnobismo por parte da Academia.
Previu o futuro mesmo?
Mas, dez anos depois, como a história de robôs sencientes que quase não se expressam verbalmente e conseguem manter uma relação afetuosa sem depender da tecnologia pode se aplicar à atualidade?
Em vários aspectos, os principais temas do roteiro continuam atuais. Na parte de proteção ambiental, Wall-E mostra como a Terra se transforma num lugar inabitável cujo única pessoa viva é o próprio robô, criado para ser usado como compactador de lixo. Por conta da poluição e sujeira, a população precisa se mudar para a nave Axiom, onde tudo é protegido do ar irrespirável que a humanidade deixou pra trás. O assunto surgiu em um momento de preocupação com as condições climáticas do nosso Planeta. No lado positivo, essas questões levaram à criação do Acordo Climático de Paris, aprovado em 2015. No lado negativo, os Estados Unidos irão se retirar do acordo para diminuição de poluentes e prevenção de aquecimento global em 2020. Uma atitude preocupante, vindo do país mais poluidor da Terra.

Sobre tecnologia, Wall-E antecipou uma realidade que já estava em curso naquele momento. Nas cenas onde os humanos aparecem, eles são satirizados como preguiçosos e obesos que não se comunicam verbalmente. Deitados em espreguiçadeiras, eles só se falam por meio de gadgets e vivem colado às telas de celulares e tablets. Em 2018, essa realidade não só ainda mais profunda, como temos aplicativos, redes sociais e diversos recursos que tornaram o humano mais e mais dependente de aparelhos eletrônicos móveis.
No filme, a nave é administrada pela corporação Buy-N-Large, que oferece literalmente tudo de que a população humana poderia necessitar em suas vidas. A marca tem semelhanças com megastores que vendem de tudo no mesmo lugar. A analogia com o presente também faz sentido e, assim como na parte tecnológica, teve um ampliação de uma realidade que já estava em curso.
Hoje, basta ligar a TV para ter todo um catálogo de filmes e séries na Netflix e em outras plataformas de streaming. Ninguém precisa sair de casa se tiver um cartão de crédito internacional e souber comprar pela Amazon ou Ebay. Se a intenção de Wall-E era fazer uma observação sobre as relações humanas modernas e alertar para o destino que o nosso comportamento pode levar, dez anos depois dá para dizer claramente que o filme acertou sem ser panfletário.