Hidroponia permite cultivo com menos agrotóxico

Você já ouviu falar em hidroponia? Esse tipo de cultivo, praticado pelo personagem Juliano, da novela Amor Sem Igual, não exige terra para a produção de hortaliças. Em geral, é usada para o cultivo de verduras, mas o que pouca gente sabe é que até mesmo morangos e pimentões podem ser obtidos com essa técnica.

O pesquisador Ítalo Guedes, da Embrapa, explica que a hidroponia é o cultivo de plantas sem solo, em que todos os nutrientes essenciais para a planta são fornecidos por meio de uma solução nutritiva. “Essa água que o pessoal fala não é água pura, mas, sim, com todos os nutrientes de que a planta precisa para se desenvolver”, diz ele.

De acordo com o pesquisador, existem dois tipos básicos de hidroponia. No primeiro, a planta fica na solução nutritiva, geralmente em calhas especiais para esse cultivo, apoiadas em orifícios. Ali, receberão a solução nutritiva pelas raízes.

O segundo tipo envolve um substrato, que não seja solo (terra). Esse é conhecido também como cultivo “semi-hidropônico”. “Esses substratos podem ser orgânicos, como a fibra de coco, ou inorgânicos, como areia lavada de rio, lã de rocha, etc.”

Menos agrotóxicos

A característica principal da hidroponia é a ausência do uso de solo e a nutrição realizada por meio da solução fornecida por meio de caninhos. “É proibido, por lei, aplicar agrotóxico através da solução nutritiva. Como geralmente esse cultivo é feito em ambientes fechados, como estufas ou estruturas protegidas, o ataque de pragas e patógenos é bem menor”, diz o pesquisador.

Assim, se o ambiente for bem manejado, a quantidade de agrotóxico a ser empregada é mínima. “E, em alguns casos, nem é necessária. Mas, mesmo quando se usa, é uma quantidade muito menor do que a utilizada em campo aberto”.

Uma das vantagens desse tipo de cultivo é a eficiência que a planta tem no aproveitamento da água e dos nutrientes. “A quantidade de hortaliça produzida por área é maior quando comparada ao cultivo em solo. Alguns hidropônicos conseguem produzir três vezes mais do que em campo, usando-se a mesma área”, explica Guedes.

Essa economia de água e nutrientes é extremamente importante. Só em termos hídricos, é possível economizar de 70 a 90% de água em comparação com o cultivo tradicional.

Outra vantagem é que, por não ter contato com a terra, o produto hidropônico tem menos risco de contaminação e a vida de prateleira é maior. Ou seja: podem até custar um pouco mais caro, mas duram mais e exigem áreas menores para serem produzidos.

Hidropônicos no Brasil

Hoje, a hidroponia praticada no Brasil, em calhas, é majoritariamente usada para a produção de folhosas como alface, rúcula, agrião, etc. “Mas tem crescido muito a hidroponia de tomates-cerejas, miniabóboras e pimentão, em geral cultivados em substratos como fibra de coco”, diz Guedes.

Outros cultivos que têm aumentado no país são o das chamadas “microgreens”, folhas consumidas muito novas, como os brotos. “Esse tipo de produto tem mais valor agregado e é usado principalmente na alta gastronomia”, afirma o pesquisador.

A hidroponia está espalhada em todo o país, com bastante crescimento em regiões como Centro-oeste e Sul. Segundo o pesquisador, a concentração maior ainda está no Sudeste, principalmente no Estado de São Paulo. “O Brasil hoje já começa a ser referência para outros países da América do Sul nesse tipo de cultivo", diz ele.

Por enquanto, a maior desvantagem da hidroponia é o preço de implantação de todos os elementos necessários e a necessidade de treinamento. “A solução nutritiva não é uma coisa simples, precisa passar por uma série de processos, tem que estudar bastante para não errar”, diz Guedes.

Além disso, é preciso instalar corretamente os acessórios necessários para a produção e ter uma fonte de energia elétrica confiável para garantir que o bombeamento da solução nutritiva não cesse com uma eventual queda de energia.

Como identificar um hidropônico

Guedes afirma que as folhosas hidropônicas geralmente são vendidas com a raiz, então fica mais fácil de identificá-las. “Dá para perceber que a raiz não teve contato com a terra, no máximo nota-se um pouco do substrato, como uma areia, se ela foi cultivada desse modo”, afirma. Mas, no caso das “hortaliças de fruto”, como são classificados o tomate e o morango, só dá para saber se são hidropônicas se estiver escrito na embalagem.

Para os que querem apostar nesse tipo de cultivo, o pesquisador sugere que, em primeiro lugar, sejam feitos cursos para aprender todos os detalhes sobre a técnica. “Importante também visitar produtores que já usam a hidroponia e fazer um estudo de mercado, analisando a concorrência, para saber se conseguirá escoar a produção”, ensina.