Seu cachorro não cansa de brincar? Ele pode ser ‘viciado’ em brinquedos, segundo a ciência
Estudo com mais de 100 cães indica que alguns animais podem desenvolver comportamentos semelhantes a vícios humanos
RPet|Do R7
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Um novo estudo sugere que alguns cães podem desenvolver comportamentos parecidos com vícios humanos – mas, em vez de drogas ou jogos, o objeto de desejo dos pets é outro: o brinquedo.
A pesquisa, publicada este mês na revista Scientific Reports, observou que certos cães demonstram uma fixação tão intensa por brinquedos que o comportamento se aproxima de vícios comportamentais, como o jogo compulsivo.
A equipe liderada por Stefanie Riemer, bióloga comportamental da Universidade de Medicina Veterinária de Viena, na Áustria, analisou 105 cães de diferentes raças e idades, aplicando 14 testes para avaliar o quanto eles eram motivados por brinquedos.
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Nos experimentos, alguns cães ignoravam completamente recompensas alternativas, como comida ou brincadeiras com o tutor, para tentar alcançar um brinquedo que havia sido guardado em uma prateleira.
Mesmo quando todos os brinquedos e estímulos eram retirados da sala, esses cães continuavam inquietos, andando de um lado para o outro e focando nas áreas onde sabiam que os brinquedos estavam.
As raças de pastores, como o pastor alemão e o pastor belga, foram as que apresentaram os níveis mais altos de comportamento compulsivo. Segundo os pesquisadores, isso pode estar ligado à seleção genética dessas raças, criadas para atividades que exigem alta concentração e persistência – características úteis no trabalho, mas que podem levar a excessos no contexto doméstico.
“Um vício significa persistir em algo, mesmo que isso tenha consequências negativas a longo prazo”, disse Riemer. “Em alguns cães, o bem-estar é prejudicado quando eles não conseguem acesso à recompensa. Isso não é saudável”.
‘Vício comportamental’
Nos humanos, vícios comportamentais são definidos como o engajamento compulsivo em atividades prazerosas, mesmo diante de consequências negativas – como ocorre com jogos de azar ou uso excessivo de internet.
Esses comportamentos envolvem os mesmos sistemas cerebrais ligados à dopamina – neurotransmissor relacionado ao prazer – e à sensação de recompensa observados em vícios por substâncias.
O estudo indica que os cães podem ser o primeiro caso conhecido de uma espécie não humana a desenvolver espontaneamente comportamentos desse tipo, ou seja, sem que o vício tenha sido induzido em laboratório.
Ponto de partida
Especialistas que não participaram da pesquisa veem o trabalho como um avanço no estudo do bem-estar animal. Para Julia Espinosa, pesquisadora da Universidade York, no Canadá, ainda não é possível afirmar que os cães realmente desenvolvem um vício no sentido humano.
“Nos jogos de azar, por exemplo, as pessoas sabem dos riscos e, às vezes, é isso que as atrai. Já os cães não têm essa consciência”, disse Espinosa em entrevista à rede norte-americana National Geographic.
Mesmo assim, o estudo ajuda a entender melhor comportamentos exagerados e pode orientar novas formas de treinamento, de acordo com os pesquisadores envolvidos nas descobertas.
Nem todo ‘vício’ é um problema
Os cientistas argumentam que apenas um pequeno grupo de cães mostrou sinais de comportamento preocupante. A maioria apenas demonstra entusiasmo normal por brinquedos, algo esperado em animais ativos e saudáveis.
Mas, quando a fixação começa a afetar o bem-estar do cão – como frustração excessiva ou dificuldade em se acalmar –, vale observar de perto.
Pesquisas futuras devem buscar formas de ajudar esses cães a se comportarem de maneira menos compulsiva perto dos brinquedos. “Esse é só o começo”, diz Riemer. “Agora que sabemos que isso pode acontecer, podemos entender melhor o que leva alguns cães a brincar até o limite”.