Associação em SP muda a vida de crianças carentes com o esporte
Há 11 anos, o Aero Mirim promove a inclusão e a educação na vida de moradores do bairro Jardim das Flores, na zona sul da capital
Virtz|Brenda Marques, do R7
Graças à insistência e ao desejo de um menino de jogar futebol como o pai, nasceu o Aero Mirim (Associação Esportiva Rapaziada Organizada), fundado em 10 de agosto de 2010, no bairro Jardim das Flores, na zona sul de São Paulo.
"O Ivan ia para a quadra com o pai dele e pedia para o meu pai fazer um time para as crianças", lembra Jefferson Alexandre de Oliveira.
O pai de Ivan era integrante do Aero Futsal, time criado por Marcelo, pai de Alexandre, que trabalhava como inspetor na Escola Municipal de Ensino Fundamental Pracinhas da FEB, para tentar ajudar Newton, amigo e companheiro de profissão, a se livrar do vício em álcool e drogas.
"A escola já tinha um projeto que permitia que times amadores da região usassem a quadra para jogar", explica Alexandre.
Agora, ele dá continuidade ao legado do pai, que morreu de infarto em janeiro desse ano, como presidente do time de adultos e, em parceria com Ivan, se tornou o alicerce do clube das crianças. "Eu faço um pouco de tudo, passo treino, monto time, tabela de festival, corro atrás de parcerias", descreve.
O maior desejo dele atualmente é retomar os jogos com a molecada, que aconteciam todo domingo, das 7h às 8h, na quadra de escola, mas foram interrompidos por causa da pandemia de Covid-19.
"Eu já peguei a autorização dos pais, já tem uma garotada que tomou vacina e está liberada para jogar. Mas está difícil manter a parceria com a escola, ainda não me autorizaram a voltar", conta.
Alexandre destaca que a maior necessidade é ter um local próprio para a realização das partidas e de outros projeto sociais que a associação deseja implementar na comunidade, com foco em crianças e pessoas da terceira idade. "Nosso intuito é ter um espaço próprio para fazer um trabalho com meninas, idosos, promover a alfabetização de adultos", afirma.
Oportunidade e mudança de atitude
Mas, apesar de muitos planos ainda não terem sido concretizados, o Aero Mirim já conseguiu transformar a vida e o comportamento de muitas crianças desde a sua fundação.
"Antes [da formação do time], a molecada vandalizava muito a escola, porque tinham muita energia, mas não havia onde descarregar. Aqui perto tem o parque Guarapiranga, mas os adultos dominaram lá, e na quadra o tráfico tomou conta", afirma.
"[Com o futsal], começou a melhorar o comportamento, não tem mais parede pichada, câmera destruída. Você não vê aluno depredando a escola. A gente reformou a quadra e começou a conversar com eles. Houve uma visão de que 'se eles estão cuidando, eu também posso cuidar'", acrescenta.
De acordo com Alexandre, já teve criança que assinou contrato com time profissional e que encontrou novos caminhos por meio da música, como é o caso de Mc Pesadinho, de 12 anos. "Ele dava muito trabalho. Agredia desde faxineiro até diretor, se envolveu com coisas pesadas. Hoje em dia, é tranquilo e sonhador."
Presença na escola e bom comportamento
A última lista de integrantes do Aero Mirim, feita antes da pandemia, tinha 80 crianças. Apenas uma delas é menina: Ariane, de 13 anos. "Só ela teve interesse em participar. Na época, a mãe dela já jogava futebol e desde pequena ela estava sempre com a gente na quadra. Mas para o ano que vem, já tem algumas meninas que estão querendo jogar com a gente", revela.
A única exigência para fazer parte do time é estar frequentando a escola. Todo semestre, as crianças precisam apresentar o boletim para Ale e Ivan, que estão sempre em contato com os pais, para saber da rotina de cada um deles.
"Se a criança estiver com algum problema disciplinar em casa ou na escola, pode participar dos treinos, mas na hora do jogo ela fica de fora. E isso tem dado certo, muitos pais vêm procurar a gente falando da melhora de comportamento", relata Alexandre.
Solidariedade e troca
A associação não tem nenhum patrocínio. Entre eles, tudo é feito "na base da troca e da solidariedade", diz o presidente, e com o investimento dos poucos membros que têm condições para colaborar. Foi assim desde o começo. "Tem criança que não tem chuteira, mas a gente compra em brechó, em bazar ou empresta. Já teve chuteira que passava por cinco crianças em um dia só", recorda.
"Eu já tentei parceria com político, mas não rola, porque não tem lucro para eles e eu ainda não consegui registrar a associação na prefeitura por causa da pandemia. Tudo o que conseguimos foi com doação, venda de latinha e dinheiro do próprio bolso. No começo [do isolamento social], dei um mês de cesta básica para a toda a molecada, por um ano, desse jeito", completa.
Diante dessa situação, Alexandre pede um maior envolvimento da comunidade nos projetos da entidade. "Os pais precisam participar, porque eles não colaboram com doação. Falta mais união. Eles poderiam mandar pães pra gente fazer café da manhã para a molecada na quadra", exemplifica. "Aqui é a gente pela gente mesmo", finaliza.
Quem quiser ajudar a associação, pode entrar em contato por meio das redes socias — Facebook e Instagram — ou falar diretamente com Alexandre pelo número (11) 94939-1013.