Cientistas transformam restos de madeira em material de construção
Pesquisadores da USP usaram resíduos que seriam queimados após a extração da madeira em produtos úteis para construir e decorar
Virtz|Do R7
Pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da USP, conseguiram propor um novo destino a rejeitos de madeira provenientes da indústria madeireira na região Norte do país. Esses resíduos, como partes de troncos com rachaduras ou mesmo pedaços laterais das toras, seriam normalmente queimados.
Para evitar esse destino e contribuir para um mundo mais sustentáveis, os pesquisadores passaram a utilizar esses rejeitos para construir um tipo de painel feito com lascas de árvores (OSB), que pode ser usado construção civil, fabricação de móveis, produção de embalagens e decoração.
“O estudo foi pensado a partir do fato de que todo painel OSB do mundo tem como matéria-prima os troncos de árvores de florestas plantadas, em geral de espécies do gênero Pinus, um tipo de pinheiro", explica Francisco Antonio Rocco Lahr, um dos autores do trabalho e professor do Departamento de Engenharia de Estruturas (SET) da EESC.
"O grande volume de rejeitos dessas toras não havia sido, até então, considerado para a produção do material, que agrega valor a um resíduo que usualmente é descartado, além de reduzir drasticamente o impacto ambiental negativo gerado por sua queima indiscriminada, que contribui para o aumento do efeito estufa”, completa ele.
Segundo os pesquisadores, o processo de fabricação dos painéis OSB é simples e rápido. Depois de receberem amostras de resíduos doados por serrarias da região Norte, os cientistas da USP usaram um equipamento capaz de obter lascas dessa madeira descartada. Posteriormente, essas lascas são misturadas com um tipo de cola à base de mamona. Depois disso, o material é prensado a uma temperatura que varia de 95 °C a 100 °C, dando forma a final ao produto.
Avaliação das características
Depois de produzir o painel, a equipe precisou avaliar suas características físicas e mecânicas para descobrir se era viável de ser comercializado.
“Os principais testes que nós realizamos foram para determinar as propriedades de resistência, o grau de rigidez e a influência da umidade nos painéis. Nos resultados obtidos, eles tiveram um excelente desempenho, mostrando-se habilitados a serem utilizados em diversas aplicações estruturais, já que atendem aos requisitos estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)”, afirma o docente.
O estudo foi realizado no Laboratório de Madeira e de Estruturas de Madeira (LaMEM) do SET, em parceria com a Universidade do Porto, em Portugal.
A pesquisadora Isabella Imakawa Araújo, doutoranda da EESC e autora principal do trabalho, conta que as espécies de madeira utilizadas no projeto para o desenvolvimento dos painéis OSB estão entre as que mais geram rejeitos nas serrarias do Norte.
As espécies estudadas no trabalho foram Cambará (Erisma sp.), Caixeta (Simarouba sp.), Tatajuba (Bagassa guianensis), Tauari (Couratari oblongifolia) e Cedroarana (Cedrelinga catenaeformis).
Segundo os pesquisadores, os próximos passos do trabalho pretendem ajudar a viabilizar a implantação da primeira empresa produtora de painéis OSB do Norte do Brasil, para facilitar a logística de aproveitamento dos rejeitos.