Lutador de MMA arrecada cestas básicas em rede social
Caio Gregório trocou as postagens de treinos pela solidariedade e arrecada 60 cestas por semana para ajudar famílias na Grande BH
Virtz|Michelyne Kubitschek, da RecordTV Minas
Se antes da pandemia as redes sociais eram apenas um meio de o campeão de jiu jitsu e atleta de MMA, Caio Gregório, postar parte da rotina pesada de treinos e aulas e se comunicar com os seguidores, o espaço virtual se tornou, há cerca de um mês, palco de solidariedade.
Foi pelo Instagram que Gregório deu início a um projeto de arrecadação e entrega de cestas básicas em Belo Horizonte e região metropolitana. Nos vídeos, ele convoca possíveis doadores. Ao encontrar alguém que esteja disposto a doar os mantimentos, o atleta combina a data para retirada. Depois, a cesta básica é entregue na porta da casa de pessoas em vulnerabilidade social.
— Hoje em dia está difícil saber quem precisa, quem não. Já cheguei em lugares bem humildes, com mãe com sete crianças, sem emprego, sem nada e já entreguei cesta pra gente que mora em casas muito melhores que a minha, mas que pela situação, perdeu tudo e estava em uma situação bem ruim mesmo.
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Com apoio da esposa, a também atleta de jiu jitsu, Nayanne Dumont, Caio transformou a própria academia, no bairro Pompéia, região Oeste da capital, em ponto de arrecadação.
— Eu junto tudo e esse aluno da equipe, que é um policial aposentado, todo organizadinho, monta os produtos na cesta pra mim, e quando está pronto, vem tudo pra cá e eu faço a entrega.
Com aulas interrompidas por determinação do muncípio, o amplo espaço do tatame, que antes concentrava dezenas de alunos, deu lugar aos pacotes de alimentos.
— Eu não esperava tanta repercussão em pouco tempo assim. Começamos com a doação de cinco cestas. Hoje, a gente consegue uma média de 60 cestas por semana.
Entregas
Embora Caio faça parte dos 63,93% de brasileiros que tiveram perda de renda em 2020 em função da pandemia, segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas, o lutador segue com aulas particulares, o que possibilita que ele ainda consiga manter a entrega das cestas com combustível pago com o próprio dinheiro.
— Tem hora que a entrega é em Vespasiano, Contagem, outras cidades ou bairros mais afastados. O que faço é encher o tanque, que dá uns R$ 270 a cada dois dias e ir. Só penso no quanto a cesta vai fazer diferença na vida daquela pessoa. Um aluno chegou a me ajudar outro dia com um valor para o tanque, mas eu não recebo dinheiro, só recebo os alimentos para doação.
Retribuição
Hoje, atleta renomado e com luta marcada em evento nos Estados Unidos no próximo dia 30, Caio lembra que, no começo da carreira precisou de ajuda e que, a ideia de colaborar com o próximo vem como uma meio de retribuir de alguma forma a quem estendeu a mão naquele momento da vida.
— A gente que é lutador, que é atleta tem uma vida muito difícil. Todo atleta que você vê que tem alguma coisa foi ajudado por alguém. Então, a gente carrega isso com a gente e você não pode esquecer que você já foi ajudado.
Doação
Durante a entrevista com o Caio, um pedido de ajuda chegou no seu celular. Camila Márcia, 29 anos, mãe de três filhas e moradora do bairro Bom Jesus, na reião Oeste, contou a ele que ela e o marido estavam desempregados e que a cesta doada pela prefeitura chegaria apenas dia 21 deste mês. Ela estava sem mantimentos em casa.
Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar apontam um número alarmante. Só em 2020, mais de 19 milhões de pessoas no Brasil enfretaram a fome, o que corresponde, por exemplo, a quase toda a população de Minas Gerais.
Ao receber a cesta, Camila se emocionou.
— Não tenho palavras para agradecer. Veio em ótima hora. Espero que mais pessoas se espelhem nessa iniciativa e ajudem, não importa se como uma cesta ou com um pacotinho de feijão. Não está fácil.
Como ajudar
Interessados em contribuir com a campanha do atleta de MMA, podem entrar em contato por meio da página do lutador nas redes sociais: @caiogregoriobjj