Pandemia motiva jovens a buscar carreiras na área da saúde
Contaminações, sustos e perdas por conta da covid-19 influenciam na escolha dos cursos; Enfermagem é um dos mais procurados
Virtz|Eduardo Marini, do R7
A covid-19 provocou mudanças importantes no mercado de trabalho e na busca por formação profissional em todo o mundo. No Brasil, um dos principais efeitos da pandemia foi o aumento importante do interesse e da busca de jovens brasileiros por profissões na área de saúde.
Estudos e pesquisas em todo o país atestam a nova realidade. Um dos mais completos e reveladores é o levantamento Coronavírus e Ensino Superior: O Que Pensam os Alunos, feito durante o avanço da pandemia pelo grupo Educa Insights e divulgado pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES).
O trabalho detectou que a Enfermagem assumiu, entre o final de 2020 e os primeiros meses de 2021, o primeiro lugar entre os cursos presenciais, e o segundo no ensino à distância (EAD), entre os mais procurados por jovens nas faculdades e universidades privadas brasileiras, com 12% das preferências.
Entre os presenciais, outros cinco cursos da área ficaram entre os 15 primeiros na pesquisa: Psicologia, Educação Física, Biomedicina, Fisioterapia e Nutrição. No EAD, Enfermagem, Nutrição, Educação Física e Biomedicina, além de Biologia, estão entre os top 15.
A tendência foi acelerada pela pandemia, mas vinha dando sinais antes dela. De acordo com o Censo da Educação Superior, as matrículas em cursos de graduação na área de saúde saltaram de 17,1% do total, em 2012, para 31,4% em 2019.
“Os riscos, sustos e perdas gerados pela pandemia motivaram o aumento do interesse pelas carreiras ligadas à saúde”, resume ao R7 o professor Romário Faria, da Comissão Executiva do Ensino Médio Integral da Paraíba. “Nossos levantamentos no início de 2021 indicam claramente esse crescimento. Tudo indica que ele será consolidado, no mínimo, durante todo o ano”, acrescenta o professor.
Professor Romário lidera em seu estado um trabalho, feito nos primeiros dias de cada ano letivo, de acolhimento e adaptação dos alunos das escolas do Médio transformadas em unidades de ensino integral. Em 2021, resolveu incluir no projeto o Livro da Vida, uma pesquisa online com mais de 34 mil estudantes sobre seus sonhos acadêmicos e profissionais, em meio ao isolamento, e os caminhos para atingir as metas.
“Descobrimos que 30% dos alunos do ensino médio integral em nosso estado, três a cada dez, estão decididos neste momento a fazer cursos na área de saúde”, revela. O Brasil possui atualmente 3.720 escolas de ensino integral, com 778 mil estudantes.
Entre esses alunos em todo o país estão Camila Marques, de 18 anos, e José Romualdo da Silva Filho, de 17. Os dois completarão o ensino médio no final de 2021. Mais velha dos quatro filhos de uma agricultora e de um pedreiro, Camila, da cidade paraibana de Lagoa de Dentro, ousou os primeiros passos na área recentemente, ao cuidar por alguns meses de uma senhora de 71 anos.
Pouco tempo depois de encerrar o trabalho, Camila e sua mãe pegaram covid-19. As duas tiveram fortes dores de cabeça, náuseas, mas se recuperaram. A jovem pretende cursar Psicologia. “Tinha curiosidade e certo carinho pela profissão. Mas é inegável que o trabalho com a idosa e a experiência de ter ficado doente ao lado de minha mãe influenciaram decisivamente na minha escolha”, conta Camila ao R7.
“Meu pai e um irmão mais velho são eletricistas. Acho a profissão bacana, mas quero outro caminho”, faz questão de destacar José Romualdo, filho de uma professora, nascido e criado na cidade de Congo, no interior paraibano.
“Meu negócio é saúde. Vou escolher entre Medicina e Biomedicina. Os riscos ligados à pandemia podem ter assustado e feito muitos desistirem da saúde. Mas quem ama de verdade a área e deseja cuidar das pessoas, como eu, enxerga motivação em tudo isso que estamos vivendo”, acredita ele, esperançoso. O país necessita, mais do que nunca, de jovens corajosos.