Psiquiatra identifica pilares que ajudam a combater a depressão
Davi Vidigal lançou o livro 'Quem Mexeu na Minha Deprê', com dicas para levar uma vida com mais propósito e alegria
Virtz|Luciana Mastrorosa, do R7
Muitas pessoas, no Brasil e no mundo, têm sofrido com ansiedade e depressão. O isolamento social imposto pela covid-19 não colaborou muito com esse quadro: segundo levantamento feito pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), desde o início da pandemia, os casos de depressão aumentaram 90%. Por isso, mais do que nunca, este é o momento para prestar atenção à saúde mental e desenvolver estratégias para encontrar equilíbrio emocional.
Nesse contexto, o psiquiatra Davi Vidigal lança "Quem Mexeu na Minha Deprê" (Ed. do Autor, 2020), obra que pretende jogar luz sobre a questão da depressão, a medicalização excessiva e a busca pelo verdadeiro propósito de cada um, como uma forma de lidar e até se livrar de doenças e transtornos emocionais.
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Em "Quem Mexeu na Minha Deprê" Davi conta um pouco de sua trajetória pessoal no trabalho com doenças e transtornos mentais e emocionais e fala sobre os quatro pilares que identificou durante uma pesquisa que realizou pelo Brasil, a partir de 2010, em que fazia uma simples pergunta para as pessoas na rua, em diversas cidades de norte a sul do país: "O que é felicidade para você?".
Pilares para uma vida com propósito
O psiquiatra entrevistou mais de 1.200 pessoas e notou que, apesar de obter respostas variadas, muitas delas se assemelhavam e mostravam que, no fim, mais importante do que dinheiro ou um carro do ano, o que as pessoas consideram felicidade é, em primeiro lugar, estar ao lado de quem se gosta. Seguido de: não ter dívidas; ter um trabalho; e ter fé.
Foi o clique que faltava para que Davi entendesse que as questões emocionais e a busca pela felicidade vão muito além da atuação de um remédio. Afinal, antes de cair na estrada, Davi havia trabalhado por anos em seu próprio hospital psiquiátrico, no sul do Brasil, onde pôde observar de perto o sofrimento de muitas pessoas por conta de quadros depressivos e outros transtornos que variavam em intensidade e gravidade.
"É claro que há quadros e quadros e há tipos de depressão que são mais ligadas ao aspecto físico mesmo. Mas, da minha experiência, muitas vezes a pessoa que era diagnosticada com depressão estava, na verdade, sofrendo muito por algum problema que não conseguia resolver", explica o médico.
A coragem de se enxergar
Davi comenta que muitas vezes a pessoa pode diagnosticada com depressão, mas na realidade o real poblema pode ser outro. "Ela não está vivendo com quem ama, ou não gosta do que faz, ou se desconectou da fé. E, com isso, vem a cefaléia tensional, a gastrite, queda de cabelo, o engordar, a indisposição, a depressão", diz ele.
"Ou seja: nesses casos, a base para resolver esse desconforto não é apenas tomar um medicamento, mas ter a coragem de encarar que não se está com quem se gosta, ou onde se quer estar, e ter a vontade de mudar isso", completa o psiquiatra.
A questão financeira e a eterna tentação do "diabinho do marketing", como diz Davi, também podem muitas vezes levar os indivíduos a ter um sofrimento emocional e psicológico que pode chegar a um quadro de ansiedade e depressão, especialmente no caso de pessoas que vivem com dívidas ou que se exaurem de trabalhar em áreas que não apreciam, apenas para sustentar um estilo de vida que não conseguem pagar.
"Nesses anos vivendo em motorhome, uma vida minimalista, consegui entender que o marketing faz consumir, faz comprar, estourar o cartão de crédito, e aí o sujeito entra numa cadeia em que não cria ativos na vida, só passivos, e isso também leva a uma sensação de infelicidade", completa o médico.
Menos vitimismo, mais ação
No livro, Davi também deixa evidente que a busca pela felicidade pessoal também inclui dar um passo importante: olhar com coragem para como é a vida que se leva, nos mínimos detalhes, e procurar sair do vitimismo. E, dentro da crença de cada um, buscar a fé como uma forma de apoio para superar as dificuldades da vida.
"No consultório, eu atendia muitos 'poliqueixosos', pacientes que já haviam passado por todos os psiquiatras da cidade, tomavam diversos medicamentos, mas continuavam num vitimismo total, sem trabalhar nem que fosse com coisas simples, como limpar a casa", lembra ele.
"Mas o trabalho é fundamental para trazer um sentido e um propósito. Pode ser fazer um bolo para o neto, limpar a sala, começar com coisas pequenas, para sentir-se útil e ter a sensação de servir, de contribuir com o outro, que é muito importante", acrescenta.
Por fim, Davi lembra, novamente, que doenças psiquiátricas existem, sim, não podem ser minimizadas e precisam ser acompanhadas por profissionais especializados. Mas que, nos casos em que a depressão não tem causa neuroquímica, por exemplo, algumas mudanças na forma de ver o mundo podem ajudar a amenizar ou reverter o quadro.
"É preciso começar por uma análise honesta de como está sua vida e colocar em ação aquilo que é necessário para mudá-la, ter vontade para isso. No fundo, todos somos inteligentes, sabemos o que precisa ser feito para ter uma vida plena e feliz, mas nos falta vontade, muitas vezes", explica o psiquiatra.
"Sugiro que comece sendo grato pela vida e pela maior riqueza de todas, que é ter tempo livre para se estar com quem se gosta e para fazer coisas que tenham sentido", diz ele. E finaliza: "o primeiro passo é olhar para si mesmo e se aceitar como é. E então ver o que quer melhorar e como pode fazer isso, por você e por quem você ama."