Ramon Vitor, um tiktoker que começa a conhecer o lado perigoso da exposição
Paulistano com 8,6 milhões de seguidores na plataforma pediu reforço de segurança de sua casa depois de tentativa de invasão
Virtz|Marcos Rogério Lopes, do R7

Ramon Vitor tem milhões de acessos em cada vídeo que posta no TikTok ou no Instagram. Aos 22 anos, conta com admiradores por todo o país, é reconhecido na rua e na praia — ele mora em Ilhéus (BA). Vive sozinho e faz aquilo que gosta, que é mostrar sua vida real, sem ostentação nem cenas montadas, nas redes sociais. E começa a ganhar dinheiro na profissão de influenciador digital, ainda que não ache bom o termo.
O parágrafo conta só um lado da história de sucesso de um jovem bem humorado e inteligente que claramente se diverte com as postagens acima e curte a popularidade. Mas passagens que estão pesando cada vez mais para Ramon Vitor.
Recentemente, pediu ajuda a seus fãs para encontrar os cachorros que fugiram do quiosque onde trabalha e foi enganado mais de uma vez. "Recebi várias mensagens [de pessoas que diziam ter achado os cães]. Eu corria atrás do lugar e era mentira. Isso me prejudicou muito, fiquei arrasado. Comecei a chorar, não aguentei."
Na ocasião, disse que deixaria as redes. Mas já voltou atrás. "Não posso deixar de lado o que gosto", justificou. "Dei só um tempo."
Cerca de um mês atrás, aconteceu uma coisa ainda mais grave. "De tarde, passou um carro filmando minha casa, achei estranho. Logo depois, forçaram minha porta. Fiquei uns dias abalado, só pensando nisso." Uma vizinha teria visto o mesmo carro branco rondando a rua dias antes.
Na madrugada da tentativa de invasão, ele estava acordado quando percebeu que alguém mexia na maçaneta da porta de entrada e teve a impressão de que mais pessoas estavam no quintal. Um dia depois, percebeu que havia sumido a furadeira comprada para ajudá-lo em algumas das pequenas obras que costuma postar nas redes (veja o vídeo abaixo). "Fiquei um mês procurando e não achei. Poxa, a gente demora tanto para comprar e vem alguém e toma. Mas não vou acusar ninguém porque já me acusaram de forma injusta e sei o quanto isso é ruim."
Nos dois episódios, Ramon Vitor percebeu que algo mais grave poderia ter acontecido, talvez por se expor demais e por nunca ter levado a questão de segurança muito a sério. "Tentei algumas publicações em que me preservava mais, mas não é o que eu quero. Sinceramente, sei que é importante pensar nisso, mas não consigo me imaginar de outra maneira."
Algumas providências ele já tomou. "Vou melhorar minha segurança. Coloquei uma câmera para filmar a frente de casa, e posso acompanhar o que acontece no celular", disse. "Também estou construindo esse muro aqui, porque não tinha nada e qualquer um entrava no terreno", acrescentou, ligando temporariamente o vídeo do telefone — afinal, é assim que está acostumado a se comunicar.
Os sustos tornaram-se parte da rotina desse paulistano em Ilhéus. "Ontem [dia 23 de agosto] era noite e vieram bater na porta de vidro. Fiquei com medo. Quando fui ver, eram duas crianças que me seguiam na internet e queriam falar comigo."
Importante: a furadeira, depois de Ramon lamentar algumas vezes a perda a seus seguidores, foi devolvida. Quem a entregou não quis se identificar.
"Não acho que influencie alguém"
"Quando se fala em influenciador se imagina uma pessoa milionária, que mostra seus bens e viagens. Eu não sou isso, acho que essa palavra não cabe para mim", analisou. "E, se a gente for pensar em política, economia, comportamento, não acho que influencie alguém."
Ele espera pelo menos que seus fãs esqueçam as tristezas enquanto assistem a seu vídeos.
Ramon Vitor mostra a vida que ele sonhou ter. Questões pessoais e íntimas, no entanto, cita rapidamente ou prefere deixar de fora da conversa.
Algumas coisas escapam. Conta que já foi a festas em São Paulo nas quais foi barrado na porta porque não tinha na época 1 milhão de seguidores. Por razão parecida, lembra ter sido discriminado em um festival de música na cidade.
Atualmente, tem 8,6 milhões de seguidores no TikTok e 830 mil no Instagram.
Diz ter ido morar no sul da Bahia em 2020 para ficar ao lado da mãe, que não via fazia mais de uma década. "Fazia 12 anos que eu não passava o aniversário com ela", comentou, num tom triste. "Essa vida é tão curta... poder estar próximo de quem a gente ama é muito especial."
Hoje mora sozinho, há algumas quadras da mãe.
O pai, que ficou em São Paulo, é um assunto sensível, mas foi por causa dele, indiretamente, que decidiu seguir a carreira de influencer.
"Eu descobri a internet quando era criança. Em uma noite, estava tendo uma discussão pesada em casa. Eu tinha juntado dinheiro e comprado um celular que já vinha com o YouTube. Nesse dia, fui para o quarto, peguei o aparelho e cliquei em um video da Kéfera [famosa youtuber brasileira]. Lembro como se fosse hoje, vi aquilo e todos os problemas que tinha na minha vida parece que sumiram."
Começou a publicar suas filmagens caseiras em 2012 e não parou mais.
Mas, afinal, qual sua profissão?
Ramon Vitor abandonou a faculdade de publicidade e propaganda e decidiu buscar sua independência. O pai, que pagava a mensalidade, não o apoiava nos vídeos para o TikTok e o Instagram.
Diz que não ganha dinheiro com suas postagens porque nenhuma das plataformas que usa paga pelos acessos. Para se sustentar, trabalha em um quiosque na praia. É lá que põe em prática a facilidade que tem na cozinha. "Desde pequeno eu subia em um banquinho para ajudar minha família a fazer comida. Sempre adorei."
Além de cozinheiro ousado e criativo, é uma espécie de faz-tudo em seus vídeos: arruma porta, grade, levanta muro, limpa casa, dá banho nos cachorros e encara todos os desafios com ótimo humor e velocidade máxima na narração, uma saída para aumentar a quantidade de informação em cada postagem.
Em um vídeo, mostrou como arrumar um cano sem ter de esperar o longo prazo passado pela companhia de água para realizar o serviço.
Em outro, explicado como fez uma gambiarra para receber a água diretamente do lençol que passa próximo de onde mora, de graça:
Por improvisos assim, ganhou o apelido de Rodrigo Hilbert do TikTok, em referência ao ator que faz sucesso na TV por se virar com qualquer perrengue diário na cozinha.
"Quando era menor, queria trabalhar em teatro, novela. E achei na internet um lugar para atuar. Eu sei fazer de tudo, mas não sei qual é minha profissão exatamente."
No futuro, apesar de dizer que não faz planos a prazo, pretende fechar contratos comerciais para seu prazo, mercado digital. Até, hoje fechou três contratos de publicidade.