Como vamos comer em 2025? Confira nove tendências da alimentação
Pesquisadores de mercado, sociólogos e outros especialistas afirmam que será o ano de romper regras e rejeitar a tradição
Bem Estar|Kim Severson, do The New York Times
Se você quer entender o que vai ser importante na alimentação este ano, ignore o fridgescaping – o ato de organizar o interior da geladeira – e os coquetéis de espresso martini com mel picante. Em vez disso, observe a psique da nação.
Quando os norte-americanos estavam assustados e isolados durante o confinamento decorrente da Covid, procuravam alimentos reconfortantes sem remorso. No ano passado, cansados e preocupados depois de um período de inflação e incerteza política, ansiavam por escapadas gastronômicas acessíveis. Os pequenos luxos, como a barra de chocolate crocante de Dubai com creme de pistache e os bumps – ou shots – de caviar, ganharam destaque.
Com um hiperindividualismo desenfreado e uma Geração Z aventureira e cética que exerce uma influência desmedida, 2025 vai ser um ano de romper regras e rejeitar a tradição. Pelo menos é o que dizem os pesquisadores de mercado, os sociólogos da alimentação e outros especialistas em tendências.
“É um momento de arriscar. Basta que se pense no que acabamos de viver. O mundo inteiro mudou. E se o mundo todo vai quebrar regras, por que não fazer isso com o que comemos e bebemos?”, disse Andrew Freeman, presidente da AF & Co, consultoria de San Francisco que há 17 anos publica o popular Relatório de Tendências da Hotelaria em parceria com a Carbonate, empresa de marketing de marca.
Segundo Melanie Bartelme, analista global de alimentos e especialista em tendências da empresa de pesquisa Mintel, os consumidores rebeldes estão ultrapassando os limites com escolhas pouco convencionais. Consomem lanches no lugar de refeições completas; aderem a combinações inusitadas, como bao recheado com frango picante ao estilo de Nashville, e a parcerias de marcas inusitadas, como a da casa de moda Kate Spade com o ketchup da Heinz. Alimentos saudáveis preparados do zero estão em alta, mas uma noite na rede de restaurantes Chili’s também.
Aqui estão algumas projeções que provavelmente vão influenciar a maneira como vamos comer neste ano. E, se os analistas estiverem errados, quem se importa? Em 2025, vale tudo.
Um ano de molhos
Desde o molho vinagrete viral do restaurante Chipotle e da mistura picante de maionese e ketchup do Raising Cane até versões mais elaboradas do romesco, da salsa macha, do tzatziki, do hoisin, do harissa e do toum (molho de alho), os molhos vão ser uma obsessão nacional.
O molho ranch vai continuar reinando, com novas variações de sabor como picles ou chimichurri. Mas fique atento aos molhos mais complexos e culturalmente específicos, já que os consumidores continuam “em sua jornada global de sabores”, observou Emily Murphy, diretora de marketing especializado da empresa de alimentos Baldor.
Café: o próximo ato
Esqueça os lattes de mocha com caramelo de abóbora apimentada e duas doses extras de xarope. As bebidas de café aromatizadas são a próxima onda. Chefs estão infusionando o café com purê de alcachofra-de-jerusalém e abacate, e aromatizando bebidas com gengibre, capim-limão e fumaça de alecrim. As cafeterias iemenitas, que começaram em Detroit e estão se expandindo para outras cidades como alternativas noturnas aos bares, aromatizam jarras de café com hawaij, mistura de especiarias rica em cardamomo, gengibre e canela. E, sim, o café está começando a receber o tratamento omakase, em que os clientes experimentam várias preparações da bebida.
Gastronomia para levar
As lojas de conveniência japonesas, conhecidas popularmente como konbini, funcionam 24 horas e são reverenciadas por refeições bem preparadas, como o onigiri, o ramen e os sanduíches de salada de ovo em pão de leite, que eram muito apreciados por Anthony Bourdain. Em breve, a empresa japonesa proprietária do 7-Eleven vai começar a exportar sua comida no estilo konbini para algumas lojas norte-americanas.
E não é só isso que está chegando às lojas de conveniência. Postos de gasolina estão oferecendo refeições sob demanda, vendendo a própria marca de alimentos congelados, abastecendo saladas com produtos locais e criando cafeterias com tantas opções de personalização quanto a Starbucks. A Wawa, rede da Costa Leste, está levando seus famosos sanduíches para o Sul, e a Buc-ee’s, nascida no Texas, está expandindo seu peito bovino para mais estados. Ainda estamos longe de refeições de estrada tão boas quanto as da italiana Autogrill, mas estamos chegando lá.
Uma tendência acolhedora
A tendência mais quente na hospitalidade será... a hospitalidade. Envolver-se em um manto acolhedor de bom atendimento é um antídoto contra os sentimentos de desconexão e solidão, que o cirurgião geral Vivek Murthy identificou como uma epidemia crescente de saúde pública. Ele sugere comer acompanhado com mais frequência, como uma maneira de combater isso.
Hotéis e restaurantes estão usando a inteligência artificial e a análise de dados para tornar o atendimento mais personalizado. Procure por serviços de balcão mais acolhedores, comida reconfortante servida em ambientes confortáveis e cardápios mais curtos que mesclam valor e sofisticação. Os restaurantes que se conectam à comunidade e oferecem aos funcionários equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho serão mais importantes do que nunca.
“Estamos nos sentindo arrasados. Estamos experimentando emoções intensas. Por isso, mais do que qualquer outra coisa, as pessoas estão ansiando por hospitalidade e serviços acolhedores e calorosos”, disse Renee Wege, especialista em tendências e diretora de publicações da Datassential, empresa de pesquisa.
Frutas e vegetais de impacto
Pode ter começado com as uvas com sabor de algodão-doce, mas as frutas e os vegetais projetados para ter características específicas vão aparecer cada vez mais. A beterraba Badger Flame, da empresa Row 7 Seed, é um exemplo. Outro é o morango Tropical Bliss, da Driscoll’s.
Algumas das opções novas destacam os benefícios nutricionais e enfatizam a qualidade do solo em que são cultivadas. Outras se concentram só no sabor. “Temos observado um interesse incrível no desenvolvimento de sementes e na busca por sabor e crescimento sustentável”, afirmou Jon Hansburg, diretor de vendas de serviços alimentícios da Baldor.
As redes sociais também vão desempenhar um papel importante, acelerando a procura por frutas e vegetais novos ou menos conhecidos.
Mais uma dose de proteína
As proteínas vão continuar sua ascensão ao topo da pirâmide da popularidade, impulsionadas, em parte, por frequentadores de academias e norte-americanos que usam medicamentos GLP-1 para emagrecimento, necessitando de proteínas adicionais para manter a massa muscular.
Os fabricantes de alimentos já começaram a destacar o teor proteico nas embalagens de cereais, batata frita e outros produtos. Café da manhã turco rico em proteínas, shakes de manteiga de amendoim e petiscos de carne estão em alta. Até mesmo miúdos podem ganhar popularidade, como sugeriu Steve Young, sócio-gerente da Manna Tree, empresa de capital de risco, que investe em companhias que produzem queijo cottage e ovos de galinhas criadas em pasto. “Estamos só no começo do processo para incentivar os consumidores a incorporar mais proteínas em sua dieta.”
Vibrações sem álcool
Bebidas com cannabis e outros componentes que alteram o humor, como a kava, o guaraná e o aminoácido calmante Gaba (ácido gama-aminobutírico), vão ganhar espaço à medida que o interesse pelo álcool diminui, sobretudo entre a Geração Z.
As bebidas não alcoólicas já migraram do corredor de bem-estar para bares e restaurantes, onde algumas são preparadas sob medida para acompanhar pratos específicos. “As gerações mais jovens consideram que a cannabis tem menos efeitos colaterais negativos do que o álcool. Estamos começando a observar como isso afeta os hábitos de consumo”, disse Candace MacDonald, cofundadora e diretora da Carbonate, empresa de marketing.
Dietas tribais
A campanha totalmente rosa Hot Girls Have IBS – “Garotas gostosas têm síndrome do intestino irritável”, tendência que viralizou, sobretudo no Instagram – foi só o começo de um movimento para normalizar e abordar determinados problemas de saúde. Milky é um comprimido comercializado para jovens com intolerância à lactose. Kits de refeições estão sendo desenvolvidos para aliviar os sintomas da menopausa. As alergias alimentares estão se transformando em pontos de conexão social, em vez de exclusão. “Estão surgindo microcomunidades que permitem que as pessoas com alergia alimentar digam: ‘Eu te entendo e está tudo bem’”, comentou Bartelme, da Mintel.
A arte da comida para viagem
Enquanto o mercado de comida para viagem e entrega segue crescendo, também evoluem as embalagens em que os alimentos são apresentados. Os restaurantes vão aprimorar suas propostas com embalagens bem planejadas e instagramáveis que se prestam a vídeos de unboxing – em que produtos novos são revelados – e que se tornam pontos de destaque para receber convidados em casa – como a caixa de frango com caviar vendida por US$ 100 no torneio de tênis US Open deste ano e a Triple Treat Box, caixa de três andares da Pizza Hut. “A embalagem é uma parte da experiência alimentar que muitas vezes é negligenciada”, observou Freeman, da AF & Co.
… E algumas microtendências
Martínis congelados, o rooh afza (xarope refrescante vermelho, aromatizado com ervas e rosas) e o sudachi, fruta cítrica mais complexa que o yuzu, vão aparecer em muitas taças. Se o sucesso estrondoso do picles com chamoy for um indicativo, esse condimento mexicano doce, picante e azedo surgirá em mais formatos. A técnica de conserva continuará popular, desta vez com o pikliz haitiano apimentado e o oshinko japonês.
A fermentação natural vai migrar para as massas. A comida norte-africana, a pastina sedosa e o pudim de coco vão surgir nos cardápios (embora provavelmente não juntos). Vinhos embalados em garrafas de papel reciclado se tornarão mais disponíveis, e os rótulos de ingredientes vão continuar sendo simplificados.
O que mais? Novas variações de chow fun, coquetéis com sabor de banana e egg creams – ou creme de ovo, sem ovo – de tahine. As gemas de ovos curadas vão se tornar as novas bombas de umami, e as folhas de figo, os novos invólucros. As conchas mexicanas continuarão em alta, com versões novas, salgadas, como o chopped cheese, de Nova York. E será que Oakland, na Califórnia, será a nova capital da gastronomia?
c. 2025 The New York Times Company