Rato flagrado atacando morcego intriga pesquisadores na Alemanha

Pesquisadores que filmavam morcegos em uma caverna no norte da Alemanha registraram uma cena inesperada. Um rato agarrou um morcego e o mordeu diante das câmeras, episódio que voltou a se repetir durante o estudo e acendeu um alerta entre cientistas que investigam possíveis rotas de transmissão de vírus.

A equipe usava câmeras infravermelhas para estudar como os morcegos se comunicam quando percebeu o ataque. “Pensamos: ‘Bem, que coincidência infeliz’”, disse Mirjam Knörnschild, chefe do departamento de dinâmica da diversidade evolutiva do Museu de História Natural de Berlim. Segundo ela, os ataques se repetiram e os ratos chegaram a capturar morcegos em pleno voo.

Knörnschild afirma que a expansão das cidades sobre áreas de abrigo pressiona as populações de morcegos e faz com que ratos invasores avancem para as cavernas. “Isso só agrava as ameaças que os morcegos já enfrentam”, afirmou. Ela defende ações mais eficientes para manter animais sinantrópicos afastados dos locais de hibernação.

O comportamento levantou dúvidas sobre como os ratos conseguem localizar as presas na escuridão. “Os morcegos conseguem usar a ecolocalização, então deveriam ter sido capazes de ver o rato, mas como o rato conseguiu ver os morcegos? Isso ainda é um mistério”, disse Knörnschild.

Os pesquisadores suspeitam que os ratos marrons registrados na caverna de Bad Segeberg tenham vindo de um teatro ao ar livre da cidade, que atrai turistas e resíduos de comida. Para verificar se o comportamento se repetia em locais com menos circulação de pessoas, a equipe visitou outra caverna, em Lüneburg, nos arredores de Hamburgo. A cena se repetiu e foi encontrado um acúmulo de morcegos mortos, mordidos ou parcialmente devorados.

Para especialistas consultados, o comportamento reforça a preocupação com o impacto da urbanização sobre a vida selvagem e a aproximação entre espécies que antes não tinham contato direto. Raina Plowright, ecologista de doenças infecciosas da Universidade Cornell, alerta que os ratos podem atuar como possíveis hospedeiros intermediários para vírus. “Os ratos são adaptados a ambientes humanos, estão por toda parte”, disse. Ela afirma que o estudo mostra um cenário que merece acompanhamento, embora não aponte risco imediato para humanos. “Se houvesse um patógeno com potencial pandêmico nesses morcegos, provavelmente já o teríamos detectado.”

Plowright destaca que a maior preocupação é o impacto sobre os próprios morcegos, que já sofrem com destruição de habitat e poluição sonora e luminosa. Para ela, o declínio dessas populações tem efeitos diretos no controle de insetos, na dispersão de sementes e na polinização. “Esses serviços estão desaparecendo porque seus habitats estão desaparecendo.”

A pesquisa abriu caminho para uma parceria com o Umweltbundesamt, agência ambiental federal alemã. A equipe agora busca formas seguras e humanitárias de reduzir a presença de ratos ao redor das cavernas. “Não queremos apenas relatar a curiosidade”, disse Knörnschild. “Idealmente, queremos que isso se traduza em ações de conservação.”

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