Como a pressão das tendências rápidas impacta os jovens da Geração Z
Os objetos de desejo dos adolescentes parecem mais abundantes e menos duráveis do que nunca
Viva a Vida|Callie Holtermann, do The New York Times

Nos últimos anos, acessar as redes sociais tem sido como colocar diante de si uma mangueira de incêndio que jorra tendências de moda e da internet a abrir totalmente a torneira. Novas garrafas de água populares surgem quase a cada trimestre. Influenciadores incentivam seus seguidores a adotar o estilo da avó praiana, da bailarina, do “indie” desleixado e do coquete – estéticas que têm pouco em comum, exceto pelo consumo que exigem. Modas enganosas, como a “estética da esposa do mafioso”, reconhecidas por publicações como esta, levaram a coluna de humor da revista “The New Yorker” a prever o que poderia vir a seguir: que tal “estilo informal do Supremo Tribunal” ou “gótico inspirado na mosca-lanterna-pintada”?
Se tentasse acompanhar essas tendências, a maioria das pessoas estaria falida, para não dizer desorientada. E embora muitas dessas modas sejam rotuladas como “tendências da Geração Z”, talvez os próprios jovens dessa faixa etária sejam os mais exaustos em relação a esse conteúdo constante.
Não é que eles não entendam o que está ocorrendo: os jovens adultos de hoje falam com tranquilidade a respeito de como as redes sociais e a moda rápida fazem com que muitos de sua geração continuem comprando, compartilhando e descartando itens. Estão conscientes, às vezes de forma dolorosa, de que suas inseguranças são exploradas para o lucro de outros. Mas estar ciente não significa estar livre. O fato de compreenderem os processos envolvidos não implica que consigam escapar deles – embora muitos estejam tentando.
Neena Atkins, de 16 anos, estudante do ensino médio em Dobbs Ferry, Nova York, relatou que se sente “constantemente bombardeada” por recomendações de produtos: “A estampa de oncinha estava na moda há menos de dois meses, e agora, quando entro no TikTok, vejo gente dizendo que já está ultrapassada.” Lina, de 15 anos, estudante do primeiro ano do ensino médio perto de Fort Wayne, em Indiana, viu seus colegas comprarem garrafas térmicas da Stanley por US$ 35 só para, logo depois, desejarem outra marca de garrafas em tons pastéis: “É um desperdício de recursos, de dinheiro.” James Oakley, de 19 anos, estudante universitário no Oregon, acredita que as pessoas de sua idade chegaram ao limite: “A prevalência e a quantidade de microtendências nos tornaram incapazes de entendê-las ou de participar delas.”
‘Isso é nojento’
Costumamos pensar nas tendências como um meio de mostrar que sabemos o que é novo e está em alta ou como uma maneira de participar de um “momento” coletivo maior. Durante décadas, os críticos apontaram, com razão, que seguir as tendências facilita a cultura de consumo capitalista – acorda, mané! –, mas também pode ser algo experimental, lúdico e até divertido.
Ultimamente, contudo, as tendências parecem mais opressivas. Há pouco tempo, me propus a descobrir quais delas são de fato relevantes para a vida da Geração Z. Mas, depois de ouvir dezenas de jovens, surgiu um padrão: muitos não queriam falar de uma tendência específica que consideram importante, mas sim da dificuldade de lidar com essa enxurrada incessante e da confusão que sentem ao tentar processá-la tão rapidamente.
Os jovens com quem conversei descreveram um ecossistema de tendências on-line que se assemelha a uma planície inundada de modas passageiras – que são frágeis e, ao mesmo tempo, uma verdadeira fonte de estresse para aqueles que querem se encaixar. A insegurança que sentem ao não ter o item “da moda” se intensifica quando algo novo surge a cada semana.
Para deixar claro, nem todos os membros da Geração Z se deixaram levar pelo turbilhão de tendências em seu celular: muitos não se interessam – ou simplesmente não podem se dar ao luxo de prestar atenção. “Muita gente não compra na Shein, não tem tempo nem dinheiro para investir em cada microtendência que aparece”, comentou Oakley.
Acompanhar tudo isso é um trabalho em tempo integral para Casey Lewis, autora de After School, boletim informativo de tendências da Geração Z. Quando era adolescente em uma área rural do Missouri, no fim dos anos 1990, Lewis, hoje com 37 anos, descobria os estilos populares – saias de cintura baixa, camisetas “baby look” com enfeites – por meio das revistas para adolescentes que chegavam todo mês. As tendências da moda, no sentido mais amplo, seguiam ciclos de 20 anos: o nível atual de tendências digitais efêmeras ainda não existia.
O boletim de Lewis, guia diário para millennials e pessoas mais velhas que querem saber o que os jovens estão fazendo, traz um apanhado de tudo que os usuários das redes e publicações de moda estão apontando como tendência. Alguns de seus termos chamativos nem parecem um idioma reconhecível: “quietcations e tweecore” (férias tranquilas e uma referência ao estilo estético associado à série de livros e filmes Crepúsculo); “rococo revival e cinnamon softcore” (ressurgência do estilo rococó e um estilo visual que mistura sensualidade e suavidade, conhecido como uma “estética canela suave”).
Lewis notou que o consumo instalou uma sensação de exaustão. “Chega um momento em que você pensa: ‘Isso é nojento. Por que estou participando dessa cultura? Acho que os criadores e as marcas estão cada vez mais tendo de lidar com essa percepção dos jovens.”
Há muitos fatores que aceleram o ciclo das tendências. O TikTok exige novidades para manter nossa atenção e tem um algoritmo poderoso o suficiente para transformar o desconhecido em onipresente em poucos dias. Os mercados de moda rápida conseguem produzir poliéster para atender a qualquer necessidade incessante gerada na internet. E as plataformas estão lançando funções de compra com um clique, como o TikTok Shop, para eliminar a barreira entre ver algo on-line e recebê-lo em casa.
Experiência insatisfatória
Isso pode tornar a navegação na internet uma experiência frustrante: as redes sociais foram vendidas como um espaço de diversão, mas acabaram se parecendo mais com um shopping center. “Toda vez que entro no Instagram, é como se estivessem me vendendo alguma coisa”, disse Sequoya, jovem de 22 anos que mora em Salt Lake City.
O que mantém essa engrenagem girando está ligado à busca por status, algo inerente à natureza humana, argumenta W. David Marx em seu livro “Status and Culture” (Status e cultura, em tradução livre). Para nos encaixarmos, queremos o que os outros têm, mas acabamos abandonando essas mesmas coisas quando se tornam acessíveis demais para as massas. Ou, como disse Lewis: “Quando uma criança de 12 anos chora porque quer um Stanley, um adolescente de 17 já não vai querer um.”

Na moda, o resultado é um excesso de roupas de baixa qualidade que logo deixam de ser usadas. Segundo um relatório de 2019 da Fundação Ellen MacArthur e da McKinsey & Company, o número médio de vezes que uma peça é usada caiu 36% nos últimos 15 anos. O relatório também aponta que, para cada cinco peças produzidas, três acabam em um aterro sanitário ou são incineradas.
Mas isso não se limita às roupas. David Peraza, de 21 anos, estudante universitário em Yucatán, no México, vê novos títulos aparecerem nas listas de mais vendidos do Steam, mercado de jogos on-line, mais depressa do que ele pode comprá-los. No início do ano passado, parecia que todo mundo jogava Helldivers 2, mas, poucos meses depois, o que estava em voga era uma versão nova de The Legend of Zelda, contou ele. “É sufocante.” As tendências dos jogos mudam com tanta rapidez que seu Fomo (“fear of missing out”, que traduzido para o português significa o “medo de ficar de fora”) aumentou “exponencialmente”.
Estilo de consumo mínimo
Será que a fonte de tendências está começando a secar? Em janeiro, o site Business of Fashion previu que as microtendências virais estavam em declínio, em parte em razão do futuro incerto do TikTok, que enfrentaria uma possível proibição federal naquele mês. O aplicativo foi suspenso e, em um piscar de olhos, voltou à ativa depois que o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva adiando a proibição por 75 dias.
Hana Tilksew, de 19 anos, estudante universitária perto de Fresno, na Califórnia, decidiu excluir o aplicativo mesmo assim. “Foi um alívio. Acho que uma proibição permanente do TikTok certamente ajudaria a aliviar a pressão incessante que sentimos para acompanhar tudo.”
Outros usuários do TikTok já vêm manifestando esse cansaço há algum tempo. No ano passado, uma enxurrada de vídeos expressou frustração com a cultura de “comprar, comprar, comprar” da plataforma. Alguns promoveram o chamado “Underconsumption Core”, ou estilo de consumo mínimo, incentivando os usuários a exibir suas roupas que já não estão na moda, mas que ainda são perfeitamente usáveis. Houve ainda quem documentasse suas tentativas de um “ano de baixo consumo”, comprometendo-se a reduzir suas compras.
Abner Gordan, estudante universitário de 21 anos da cidade de Nova York, vê ironia nessas rejeições convenientes às tendências: “De um jeito estranho, acho que ser antitendência virou uma grande tendência.” Embora muitos de seus amigos continuem comprando roupas e móveis de segunda mão, ele percebeu que o rótulo “estilo de consumo mínimo” perdeu força na internet, assim como tantos outros antes dele. Para Gordan, foi desanimador ver como algo que parecia uma ruptura com o ciclo de tendências acabou sendo absorvido por ele. “É como se você não pudesse escapar.”
c. 2025 The New York Times Company