Logo R7.com
Logo do PlayPlus
R7 Viva a Vida

Dia das Mães longe: como será a comemoração no isolamento social

Famílias mudam tradições com a pandemia do novo coronavírus e veem na tecnologia uma forma de matar a saudade e dividir datas importantes

Viva a Vida|Guilherme Padin, do R7

Famílias têm de lidar com a distância durante a pandemia e suportar a saudade
Famílias têm de lidar com a distância durante a pandemia e suportar a saudade

“Quando vejo fotos de reuniões de familiares, aí sim a saudade bate forte”. É assim que Angelina Abigail Coelho, 68, descreve os dias sem poder estar perto de pessoas que ama. Pelos cuidados com o isolamento social, ela passará o Dia das Mães – e o aniversário, em duas semanas – sem a companhia dos três filhos e dos quatro netos. Angelina é uma entre tantas mães que, durante a pandemia do novo coronavírus, não poderão aproveitar a família reunida na data especial.

Um de seus filhos, Thiago Coelho vive de forma singular a saudade: mora a poucos minutos da casa da mãe, mas a proximidade do endereço não o impede de sentir-se distante – da possibilidade de vê-la, ao menos. Durante o período de confinamento, se encontraram uma única vez, sem abraços, beijos ou qualquer contato físico. Apenas puderam se olhar. “Ela só saiu do carro para ver a gente”, relembra o dia.

Antes da pandemia, Thiago ia à casa da mãe ao menos uma vez por semana, aos sábados ou domingos. Desde março, não faz mais as visitas para os habituais cafés da manhã.

Além dele e seus três filhos (Gabriel, Isabella e Diana), também estão longe o irmão Danniel e a filha Marina, que vivem em Brasília. “Sábado foi aniversário da Diana, a caçula, e minha mãe só viu a neta por chamada de vídeo”, conta Thiago.


Thiago, a esposa Renata, Angelina e Diana, a caçula
Thiago, a esposa Renata, Angelina e Diana, a caçula

Saudosa, Angelina comenta que ama uma mesa farta com a companhia das pessoas queridas e familiares, mas mantém a confiança. “Não é fácil ficar tanto tempo longe de filhos, netos e de parentes e amigos. Já estou pensando no Dia das Mães e logo após meu aniversário. Mesmo assim agradeço a Deus e sei que em breve estaremos juntos novamente”, diz ela.

Thiago conta que, apesar da inevitável preocupação, se sente “razoavelmente tranquilo” por saber que a mãe entende a necessidade de se cuidar e as precauções necessárias.


Na casa de Nathalia Costa, que mora com a mãe, Nicelia, a situação não é diferente. Tradicionalmente, a família passa o Dia das Mães na casa da avó Ionice da Costa. Por conta da pandemia, filhos e netos terão que ficar distantes este ano. “Ela vai passar com meu tio que mora com ela”, conta a jovem de 20 anos.

Como seu padrasto também pertence a um grupo de risco da covid-19, Nathalia e os familiares não querem expô-lo ao risco de contaminação da doença. “Tem sido complicada essa situação, por conta da saudade que sentimos de estarmos todos juntos, em família. Sempre fazíamos juntos nosso almoço de Dia das Mães, e desta vez não será possível”, lamenta.


Isabel Kahn, psicanalista e professora de psicologia nas áreas de infância, família e adolescência na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), avalia que é comum que situações de distância como a atual produzam sentimentos de tristeza, sofrimento e até raiva, o que pode ser realçado em datas comemorativas.

“Por tradição, são datas que simbolizam e ritualizam momentos importantes dessas relações, e costumam ser compartilhadas em conjunto. Não poder estar junto aumenta o sentimento de solidão”, afirma Kahn.

Três gerações da família Costa. Ao centro, de blusa preta, Ionice
Três gerações da família Costa. Ao centro, de blusa preta, Ionice

Para o professor de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Nelson Fragoso, estar há um mês ou mais sem contato produz um ambiente de tristeza marcante às mães. “E os que se viram, em geral, foi de maneira distante, sem abraços, beijos e carinho. É uma situação delicada”, comenta.

Fragoso e Kahn afirmam que não há necessariamente impactos diretos desta situação à saúde mental, como a possibilidade de se desencadear ansiedade ou depressão. No entanto, ambos concordam que, para aquelas pessoas que já sofrem com estas condições, o cenário de distância e solidão pode intensificá-las.

‘A primeira vez longe dela em 27 anos’

André Kuchaki nunca passou o Dia das Mães longe de Brígida – esta será a primeira vez. Ele mora em São Paulo, ela, no Paraná. Por ter mais de um caso de covid-19 confirmado em seu prédio e morar em uma área movimentada e próxima a hospitais, o rapaz de 27 anos tomou a dura decisão de não visitar a mãe no domingo. “O coração fica apertado, com uma sensação amarga de que estou falhando como filho”, diz André.

André, 27, e sua mãe, Brígida
André, 27, e sua mãe, Brígida

No domingo, Brígida estará junto do marido e o outro filho. Já André ficará sozinho.

O professor Fragoso explica que, em um momento como este, os filhos também sentem angústia pela distância e explica que há o impacto duplo da incerteza: “O medo de ser o agente provocador de uma doença o joga num dilema: de preservar a família ou matar as saudades e criar uma situação mais complexa”.

Apesar da situação incômoda, André afirma saber “que é mais importante sacrificar esse dia para todo mundo ficar bem e poder ter muitos outros com a mãe no futuro. É um sacrifício necessário e será por pouco tempo”.

Tecnologia se torna aliada

Em um cenário onde o próximo contato físico tem data incerta, a tecnologia tornou-se uma aliada e um alento para muitas famílias. Durante a pandemia do novo coronavírus, as videochamadas pouco a pouco têm ganhado mais espaço na rotina de mães, filhos, amigos e colegas de trabalho.

Dona Angelina comenta que o isolamento apenas não a distanciou de sua família por causa das redes sociais. “Só pela internet pude cantar parabéns para minha neta Diana”, lembra. ). 

“A gente se fala por vídeo, usando a chamada de vídeo do WhatsApp. Pelo menos uma vez por semana a gente conversa assim, e meus filhos também dão um alô”, diz o filho de Angelina.

A psicanalista Isabel Kahn aponta as videochamadas e ligações como uma boa saída para driblar a falta física que pessoas queridas fazem no dia a dia: “Elas oferecem possibilidades para compartilhar, visualizar e manter contato de voz. Isso é bom, é uma oportunidade de reafirmar que ‘não estamos juntos, mas pensamos um no outro e nos queremos bem’. São formas de se fazer presente mesmo sem a presença física”.

Longe dos pais e do irmão, todos a um estado de distância, André comemora o uso das tecnologias. Para ele, “poder olhar no olho, conversar e ficar junto, mesmo que virtualmente, alivia a sensação de distância e tem amortecido a saudade”.

O psicólogo Nelson Fragoso dá um conselho àqueles que pensam em furar a quarentena no Dia das Mães: “Apesar de tudo, faça o óbvio: não a visite, preserve a si e a ela. Faça uma videochamada, converse, mas preserve sua mãe. Ajudá-la a estar bem é o melhor presente que se pode dar. Em alguns meses vocês poderão se abraçar, se beijar e curtirem muito”.

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.