'Estilo tchutchuco' de MD Chefe vai muito além das roupas de grife: 'É ser um ótimo degustador da vida'
Leonardo dos Santos Barreto, o 'Rei Lacoste', foi o primeiro brasileiro a vencer o BET Awards, que celebra a cultura preta
Viva a Vida|Brenda Marques, do R7
Antes de se tornar o MD Chefe, o primeiro brasileiro a vencer o BET Awards — ao ser premiado na categoria Melhor Artista Revelação Internacional do evento, um dos maiores do mundo dedicado à cultura preta — e alcançar milhões de visualizações no YouTube em apenas um mês com seu maior sucesso, Rei Lacoste, Leonardo dos Santos Barreto, de 22 anos, era Madruguinha e participava de batalhas no Rio de Janeiro (RJ).
Mas algumas coisas nunca mudaram durante toda essa caminhada, permeada de muito trabalho e esforço: criado na favela do Fallet-Fogueteiro, na zona norte da cidade, ele continua vivendo no morro e sempre foi um preto chique, acostumado a usar grifes, cheio de marra, como descreve a si mesmo na letra de Rei Lacoste.
“Eu já era assim [antes da fama e do enriquecimento]. Tô falando o que eu sempre fui. Sempre dei meu jeitinho para ter minhas paradas”, conta. “Sempre tive um apreço por me vestir bem. Me arrumo para mim. Quando fui ficando mais velho, o gosto foi se lapidando. Mas é algo muito natural”, completa.
A diferença é que atualmente manter o estilo luxuoso ficou mais fácil. “Eu comecei na música muito jovem, mas agora estou tendo um financeiro muito bom, através de muito trabalho”, analisa.
Como cria e morador da periferia, ele destaca que a favela está na essência de sua identidade. “Na favela tem vários points, tanto na pista como nos morros. Uma coisa que moldou a minha personalidade foi eu ter crescido e permanecido no morro”, pondera.
Fã e estrela das propagandas da Lacoste
Assim, o amor pela grife que tem o crocodilo como símbolo nasceu na comunidade, ao observar quem tinha melhores condições de vida. “Essa marca, o Brasil já aderiu como se fosse daqui”, comenta. “Até no próprio morro quem usava Lacoste era quem tinha um poder aquisitivo maior. Eu sempre gostei muito da história da grife”, acrescenta.
Logo no início de sua carreira, em 2018, MD Chefe e DomLaike, seu amigo de longa data, fundaram uma gravadora própria, a OffLei Sounds. Em agosto de 2021, o cantor lançou seu primeiro álbum, ATG Tape, que estreou em oitavo lugar no Top 10 Global Album Debuts, do Spotify. Dias depois, assinou um contrato de publicidade com a Lacoste.
Mas essa meta só foi atingida depois de críticas e pressões dos fãs do rapper, já que a marca havia lançado uma campanha com vários artistas brancos, sem ter convidado o MD. Em setembro, ele se tornou o grande rosto da grife francesa.
"Entre todas as conquistas, esse é um dos objetivos da gravadora: trabalhar com marcas. Foi uma parada impactante. Eles [da Lacoste] erraram de primeira. Mas o brasileiro é tão apegado à Lacoste que fez acontecer, e é a campanha de maior resultado", comemora o artista.
Ser tchutchuco inclui usar grife, mas vai além
Como músico que representa o trap, vertente mais dançante do rap, e empresário exitoso, ele prova que preto e dinheiro não são palavras rivais — e isso fica ainda mais evidente para quem ouve suas músicas e assiste aos clipes.
Em Burberry, apenas na cena em que ele aparece no estúdio do Podpah, podcast de Igor Cavalari e Thiago Marques, o artista estima que estava com um look de R$ 200 mil. “Em roupa deveria ter uns R$ 134 mil. O cordão que eu estava [grosso e de ouro] era de R$ 60 mil”, lembra.
No entanto, engana-se quem pensa que para estar por dentro da moda casual de luxo e ter um estilo tchutchuco basta usar artigos de grife, camisa apertada e calça caindo com cinto. O conceito vai muito além disso.
“É a personalidade exalar através do seu estilo. Independentemente do preço [da roupa]. Você pode estar bem com uma camisa de R$ 2.000 ou de R$ 50”, defende. “É ser você 100%, na sua melhor versão, um ótimo degustador da vida”, descreve.
É por isso que, tanto na música como na moda, ele não se inspira em outras pessoas, mas no cotidiano. “Eu pego meu estilo de vida e transmito através do meu som e das minhas roupas”, resume o artista.
Quando vai escolher o look, até a fragrância varia conforme o tempo que domina o ambiente. “Se está frio, uso uma roupa específica, com um perfume específico. Tem uns que são melhores para o frio e outros, para os dias quentes. São várias combinações”, detalha.