No Dia Mundial do Vitiligo, modelo lembra jornada de autoaceitação
Akin Cavalcante se tornou referência em conscientização sobre vitiligo, doença que despigmenta e mancha a pele
Viva a Vida|Brenda Marques, do R7
"Foi um choque muito grande, primeiro pelo desconhecimento. O médico falou, bem direto, 'você tem vitiligo'. Aí eu perguntei o que significava isso e ele disse: 'significa que a sua pele vai despigmentar e ficar com manchas'", relembra o modelo e ator Akin Cavalcante sobre o momento em que recebeu o diagnóstico da doença. "Começou com uma manchinha muito singela no lábio e depois foi aumentando", descreve.
Akin conta que isso aconteceu na década de 1990, quando os médicos não tinham o preparo e a sensibilidade necessários para lidar com seus pacientes. E ele, por sua vez, era um adolescente com 17 para 18 anos, descobrindo a vida e a si mesmo, diferente do homem seguro com 38 anos de idade, que se tornou referência em conscientização do vitiligo.
Na ocasião, ele saiu do consultório, foi até um orelhão e ligou para a sua irmã, que lhe explicou, com mais detalhes, que ele tinha a mesma doença do Michael Jackson.
"Eu chorei muito no começo, o receio era muito grande. Passei por um longo período de depressão e cheguei até a ficar internado por isso. Era como uma condenação. Achei que minha vida tinha acabado", afirma.
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Na perspectiva dele, a autocondenação é a pior faceta da descoberta do vitiligo. O modelo compara o momento do diagnóstico a uma sentença de morte social, no sentido de que a pessoa pensa que será excluída da vida coletiva.
"Mas não é nada disso. Na verdade, essa questão de se autoestigmatizar e falar amém para os estereótipos negativos impetrados pela sociedade é que é muito danosa e leva à morte social", analisa.
Toda essa assertividade para falar sobre o assunto foi conquistada depois de um longo caminho que, de acordo com ele, é percorrido durante anos e começa com a tentativa de curar uma doença incurável, passa pelo desejo de ser invisível e chega na autoaceitação.
"Eu, por exemplo, tive uma fase da minha vida sem nenhum registro fotográfico, porque tentava me esconder", relata.
Questão de pele
"Eu me olhava e me achava feio, pensava que tudo dava errado por causa do vitiligo. E eu já tinha questões com a minha aparência por causa do racismo. No meu caso, o vitiligo foi mais um agravante dessa situação", afirma.
Akin destaca que o preconceito por causa da falta de melanina em algumas regiões específicas é superficial quando comparado àquele que ele sofre desde a infância por ter maior quantidade de melanina na pele como um todo e ter sua etnia e ancestralidade apagadas.
Ele ainda chama a atenção para uma percepção equivocada em relação a pessoas negras que têm a doença caracterizada pela falta ou diminuição de células que produzem melanina.
"Existe uma percepção do senso comum de que estamos mudando nossa identidade racial por ter vitiligo. Não. Pessoas negras, mesmo com a despigmentação, continuam sendo negras. Eu não sou preto e branco. Eu sou negro. Meus pais são negros. A única diferença é que minha pele não tem cor em algumas regiões por causa do vitiligo", enfatiza.
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Balada não é lugar de falar sobre vitiligo
A carreira de Akin como modelo começou em 2017, quando ele participou de uma campanha publicitária sobre o colorismo. Desde então, ele não saiu mais dos holofotes e, atualmente, tem quase 14 mil seguidores no Instagram.
Nesta semana, ele começou a compartilhar uma série de vídeos para conscientizar sobre o vitiligo por meio de experiências próprias. No primeiro episódio, ele contou sobre a noite em que estava na balada, curtindo um som e tomando uma cerveja, quando foi abordado por um homem branco, "meio cult, com sua boa long neck na mão." O desconhecido fez a seguinte pergunta: "Você tem vergonha de ter as manchas aí e tal?"
"Amigo, vergonha só alheia das pessoas inconvenientes que numa hora dessas vêm me atormentar numa balada perguntando se eu tenho vergonha de ter vitiligo", respondeu Akin.
O modelo explica que a sua reação perante a curiosidade das pessoas varia conforme o contexto.
"Eu tenho consciência do meu papel de conscientizador, por eu ser uma referência aqui no Brasil. É muito comum as crianças terem um olhar de curiosidade, então eu aceno, sorrio, procuro quebrar a barreira", afirma.
"Mas essa cara da balada, eu estava super de boa e ele veio me perguntar se tenho vergonha, aí fui mais enérgico. Meu pensamento é: por que eu deveria sentir vergonha e dar uma resposta pra quem eu nem conheço?", questiona.