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Patricia Lages

Análise: 2021, o ano em que o bom-senso saiu de férias

Acontecimentos surreais dos últimos meses confundem ficção com realidade e nos fazem questionar o que mais está por vir

Patricia Lages|Do R7

Por um 2022 com mais racionalidade e senso crítico das pessoas
Por um 2022 com mais racionalidade e senso crítico das pessoas

Certamente o ano de 2021 ficará marcado na lembrança de muita gente, ainda que memória não seja o ponto forte do brasileiro. Mesmo assim, ele continuará sendo o ano em que vimos acontecimentos absurdos, dos quais até a ficção duvida.

Vimos a polícia investir recursos públicos para prender bandidos e, depois, vimos os mesmos bandidos serem soltos pela justiça, fazendo com que a polícia tenha que colocar mais homens e mais recursos para recapturá-los (o que obviamente não veremos acontecer).

Vimos presos condenados serem libertados, fazendo com que aqueles que trabalham com as palavras tivessem que recorrer a termos que, até pouco tempo atrás, nem existiam, como “descondenado", por exemplo.

Vimos pessoas serem chamadas de “LGBTQIA+fóbicas” por não quererem se relacionar com pessoas LGBTQIA+. Ou seja, para além de serem obrigadas a se relacionar sexualmente com quem não querem, agora as pessoas estão sendo pressionadas a terem relacionamentos fora da sua própria sexualidade.


Vimos políticos de todos os cantos do Brasil roubando dinheiro destinado ao combate à pandemia e mentindo – sem a menor vergonha – de que trabalharam em prol da vida. Vimos respiradores escondidos em parede falsa, compra superfaturadas de EPIs fora do padrão – que foram parar no lixo – encomenda paga à vista de todo tipo de equipamento que nem entregue foi, mas que que todos nós pagamos (e continuamos a pagar).

Vimos a derrocada das mulheres em diversas modalidades esportivas, perdendo espaço em seus próprios esportes para mulheres trans que jamais tiveram qualquer destaque quando competiam com homens. E vimos tudo isso embalado por uma trilha de silêncio sepulcral dos movimentos feministas.


Vimos o número de desempregados e de inadimplentes bater recordes, a fome invadir as casas de milhões de pessoas, enquanto outras tantas foram parar na rua. Tudo por conta de uma política onde trabalhar virou crime, sob o manto hipócrita de estarem “salvando vidas”, o que jamais foi comprovado. E vimos tudo isso por conta de disputas de poder de pessoas inescrupulosas que não medem esforços para chegarem onde querem.

Vimos fake news sendo fabricadas em larga escala pela grande mídia que, mais tarde, desmentiu a si mesma diversas vezes. Conseguiram o feito de produzir “ex fake news”, ou seja, notícias falsas que deixaram de ser falsas no momento em que se tornaram convenientes.


Vimos narrativas absurdas que colaram – e ainda estão colando – cuja tendência é aumentarem muito mais em 2022, quando o poder trocará de mãos. Vimos adultos agindo como crianças medrosas e crianças sofrendo por conta de escolhas que ainda não têm capacidade de fazerem por si próprias.

O ano de 2021 virou uma chave perigosa na mente de muitos, onde a realidade se tornou cada vez mais relativa e a ficção – amparada por um medo irracional alimentado 24 horas por dia – ganha cada vez mais espaço. Meus votos são para que, em 2022, as pessoas ajam com mais racionalidade e senso crítico.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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