Análise: A ditadura da magreza
A “mulher ideal” deve trazer um pacote de itens que a rebaixa a um objeto que sai de uma linha de produção. Nós realmente queremos ser assim?
Patricia Lages|Patricia Lages, Do R7

“Odeio meu corpo!” Que mulher nunca disse essa frase, ainda que tenha sido apenas em pensamento? Mas a análise que fazemos a respeito do nosso corpo deve ir muito além do que vemos no espelho.
O que devemos questionar não é o fato de termos celulite, estarmos com alguns quilinhos acima do “ideal” ou por que nossa pele tem poros. Mas sim, o que motiva essa constante infelicidade das mulheres em relação ao próprio corpo.
Para mim, o motivo é bem claro: tentar alcançar um padrão impossível de ser alcançado. Sim, impossível. A “mulher ideal” dos nossos dias deve trazer um pacote de itens que a rebaixa a um objeto qualquer que sai de uma linha de produção. O que se espera é que tenhamos barriga negativa, bumbum na nuca, seios fartos, dentes absurdamente brancos e milimetricamente alinhados, cabelo reluzente (brilho natural não é mais suficiente) e “tudo durinho”, no que se refere aos nossos músculos.
Esses são os itens que você gostaria que tivessem vindo naturalmente “de fábrica”? Pois é... mas sabe por que eles não vieram? Porque essa conta não fecha!
Barriga negativa é algo que só acontece com pessoas que estão muito doentes, convivendo com sérias enfermidades que a levam a esse triste estado físico. Ter a magreza exigida nos dias de hoje vai fazer com que os seios sejam os primeiros a diminuírem, uma vez que boa parte de sua composição é gordura. Mas quem se importa? O silicone está aí para resolver esse inconveniente, não é mesmo?
Os dentes superbrancos se alcançam “facilmente” com clareamentos periódicos (nada baratos), já que o cigarro (sim, a mulher precisa fumar para não engordar) e os viciantes refrigerantes de cola vão fazer o seu papel: escurecê-los novamente.
E como estar com “tudo durinho” se a falta de uma alimentação balanceada tira todo e qualquer ânimo de se fazer exercícios físicos? O bumbum na nuca eu nem vou me dar ao trabalho de comentar...
Estamos sendo conduzidas a reproduzir os corpos que vemos todos os dias nas propagandas sem nos atentarmos ao fato de que eles nem sequer existem. Você sabe que não há fotografia sem Photoshop e que as celebridades passam por diversas intervenções cirúrgicas para poderem exibir o que fazem parecer atributos naturais.
Recentemente a modelo australiana Bridget Malcolm, de 26 anos, ex-angel da badalada marca de lingerie Victoria’s Secret, publicou em seu blog que está tentando se libertar da obsessão por dieta.
“Eu só queria parar de olhar no espelho e de dizer a mim mesma que ‘estou muito gorda’ e que ‘não estou fazendo o bastante’. Fácil de dizer, insanamente difícil de fazer”, desabafou.
E quantas não foram as mulheres que olharam a imagem de Bridget ansiando por serem exatamente iguais a ela, sem saberem que ela mesma não é feliz com sua imagem “perfeita”.
Obviamente todos devemos nos cuidar, mas a busca deve ser por uma vida saudável e não em seguir padrões impossíveis e que, comprovadamente, não nos farão mais felizes. Faça as pazes com o seu corpo. Pense claramente a respeito do que é melhor para você e viva sua própria cultura, sem se deixar influenciar por essa ditadura. Seja livre sendo você mesma!